TERRORISMO

Líder do EI morre em operação americana

Segundo Joe Biden, Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi detonou um explosivo tirando a própria vida e a de familiares. No comando do grupo radical há dois anos, o extremista foi cercado pelas forças especiais dos EUA na região de Idlib, na Síria

Correio Braziliense
postado em 04/02/2022 00:01
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Num momento em que voltava a dar sinais de força na Síria e no Iraque, o grupo extremista Estado Islâmico (EI) perdeu sua principal liderança. Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, chefe da facção nos últimos dois anos, morreu em uma operação das forças especiais dos Estados Unidos na Síria, anunciou o presidente Joe Biden. Em pronunciamento, após a divulgação de um comunicado, o chefe da Casa Branca informou que Qurashi, cercado pelos soldados americanos, detonou uma bomba na casa em que estava com familiares na localidade de Atme, região de Idlib.

"Em um último ato desesperado de covardia e sem se importar com a vida de sua própria família ou de outras pessoas no prédio, ele escolheu explodir a si mesmo, não apenas o cinto (de explosivos), mas todo o terceiro andar do que enfrentar a justiça pelos crimes que cometeu, levando vários familiares com ele, como fez seu antecessor", disse Joe Biden, referindo-se a Abu Bakr al-Baghdadi.

Na explosão, morreram 13 pessoas, incluindo mulheres e crianças. Os soldados americanos que participaram da ação nada sofreram. De Washington, ao lado da vice Kamala Harris e de assessores da área de segurança, Biden acompanhou toda a ação em tempo real. "Sob minha direção, as forças militares dos Estados Unidos executaram com sucesso uma operação de contraterrorismo para proteger o povo americano e nossos aliados, e tornar o mundo um local mais seguro", afirmou, no comunicado.

Caçada

Segundo informações divulgadas pela rede CNN, a autorização para a ofensiva foi dada na terça-feira. "A operação de ontem (quarta-feira) à noite removeu um grande líder terrorista do campo de batalha e enviou uma forte mensagem aos terroristas de todo o mundo: vamos caçar vocês e encontraremos vocês", advertiu o presidente americano.

"Evidentemente, é um importante revés para o EI", opinou Hans-Jakob Schindler, especialista que trabalhou para as Nações Unidas. No entanto, ele assinalou que isso não significa o fim da linha para a facção: "Seria um erro pensar que tudo terminou ou vai melhorar após essa eliminação e ante o número reduzido de ataques na Europa e nos Estados Unidos recentemente".

Também conhecido como Amir Mohammed Abdul Rahman al-Mawli al-Salbi, o iraquiano Qurayshi, 45 anos, assumiu o comando do Estado Islâmico dias depois da morte de Baghdadi, em outubro de 2019. Os serviços secretos dos EUA e do Iraque o identificaram formalmente como novo líder do EI apenas alguns meses depois. Washington prometeu uma recompensa de US$ 10 milhões por qualquer informação para encontrá-lo.

Segundo o general Kenneth McKenzie, chefe do Comando Central dos EUA, o extremista teve a chance de se render. "Haji Abdullah não lutou", disse o militar, usando outro nome adotado pelo terrorista. "Ele matou a si mesmo e sua família próxima sem lutar. Nós tentamos fazê-lo se render e lhe oferecemos uma saída para sobreviver", acrescentou.

A ofensiva para capturar Qurashi utilizou helicópteros para o transporte de tropas. De acordo com a ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), os militares pousaram perto do campo de deslocados de Atme, e depois começaram os confrontos, que duraram aproximadamente três horas. Moradores disseram ter ouvido bombardeios e tiros.

Em uma gravação de áudio que circula entre a população de Atme, atribuída a um integrante da coalizão internacional, uma pessoa, que fala em árabe, pede a mulheres e crianças que abandonem as casas na área atacada. Membros das Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas por curdos, participaram na operação, segundo o OSDH.

Os correspondentes da agência de notícias France Presse (AFP) relataram que a operação americana tinha como alvo um imóvel de três andares, em uma área cercada por árvores, que ficou parcialmente destruído. Abu Ahmad, proprietário da casa informou que Qurashi viveu no local por 11 meses. "Não vi nada suspeito, ele só vinha me ver para pagar o aluguel. Ele morava com os três filhos e a esposa. A irmã viúva e a filha dela moravam no andar de cima", explicou.

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  •  In this image released by The White House, US President Joe Biden and Vice President Kamala Harris (2nd L), with the President?s national security team in the Situation Room, monitor the counterterrorism operation in Syria, in Washington, DC, on February 3, 2022. - Biden said Thursday that the leader of the Islamic State group, Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, had been
    In this image released by The White House, US President Joe Biden and Vice President Kamala Harris (2nd L), with the President?s national security team in the Situation Room, monitor the counterterrorism operation in Syria, in Washington, DC, on February 3, 2022. - Biden said Thursday that the leader of the Islamic State group, Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, had been "taken off the battlefield" during a raid by US forces in Syria. (Photo by The White House / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / The White House" - NO MARKETING - NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS Foto: AFP
  •  Members of Syrian civil defence known as the White Helmets, evacaute a body on February 3, 2022 following an overnight raid by US special operations forces against suspected jihadists in northwestern Syria which left at least nine people dead, including three civilians. (Photo by Abdulaziz KETAZ / AFP)
    Members of Syrian civil defence known as the White Helmets, evacaute a body on February 3, 2022 following an overnight raid by US special operations forces against suspected jihadists in northwestern Syria which left at least nine people dead, including three civilians. (Photo by Abdulaziz KETAZ / AFP) Foto: AFP

De informante a comandante

 (crédito: AFP)
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Chamado de "o professor" ou "o destruidor", o iraquiano Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi (foto) era relativamente desconhecido, ao contrário de seu antecessor, Abu Bakr al-Baghdadi, mas manteve a estratégia do Estado Islâmico durante os dois anos em que esteve no comando. O jihadista, porém, teria atuado como informante para o governo dos Estados Unidos, após ser capturado no Iraque, em 2004, segundo o Washington Post.

De acordo com o jornal americano, Quraishi teria sido um prisioneiro cooperativo com os serviços de inteligência, fornecendo informações sobre ações terroristas, que teriam levado à prisão e morte de extremistas.

Segundo o centro de reflexão Counter Extremism Project (CEP), o jihadista, um ex-oficial do Exército iraquiano, graduado na Universidade de Ciências Islâmicas de Mossul, incorporou-se à Al-Qaeda após a invasão americana do Iraque e a captura de Saddam Hussein em 2003.

No ano seguinte, foi preso na penitenciária americana de Bucca, considerada a fonte de propagação do jihadismo no Levante (região que abrange Síria e Iraque). Lá, ele conheceu Baghdadi, que, em 2010, tomou o controle do braço iraquiano da Al-Qaeda antes de criar o grupo EI nos dois países.

Segundo o CEP, o jihadista "ascendeu rapidamente ao alto escalão da insurgência" e adquiriu uma reputação de homem brutal, em particular pela eliminação dos oponentes dentro do próprio grupo. Qurashi, que ao contrário dos líderes anteriores do EI não era de origem árabe, tentou dar nova vida ao grupo, que dava sinais de enfraquecimento.

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