Ciberataque

Ucrânia diz ter provas da 'sabotagem' russa

Vítima de um ciberataque que, na sexta-feira, tirou do ar sites de vários ministérios, o governo ucraniano afirma que "todas as provas indicam" o envolvimento da Rússia no que classifica como uma sabotagem. "É a manifestação da guerra híbrida que a Rússia mantém na Ucrânia desde 2014", afirma, em comunicado, o Departamento ucraniano de Transformação Digital, referindo-se ao ano da anexação, por parte do Kremlin, da península da Crimeia, o que provocou o conflito na região leste entre as forças de Kiev e os separatistas pró-russos, apoiados por Moscou.

A acusação se dá em um momento de escalada de tensão entre os dois países, com repercussão no cenário internacional. Várias conversas foram travadas, na semana passada, entre a Rússia e o Ocidente na tentativa de acalmar os ânimos entre os vizinhos. Ontem, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, negou qualquer tentativa de desestabilizar Kiev. "Não temos nada a ver com isso", disse Peskov, em entrevista à rede americana CNN. "Os ucranianos culpam a Rússia por tudo que acontece com eles, incluindo o mau tempo no país", ironizou.

Segundo Kiev, o objetivo dos russos "não é apenas intimidar a sociedade", mas também "desestabilizar a situação na Ucrânia (...) minando a confiança dos ucranianos quanto a seu poder". Para isso, usam "falsas informações sobre a vulnerabilidade das infraestruturas informáticas do Estado", sinalizando por exemplo uma possível "fuga de dados pessoais dos ucranianos", relata o comunicado do Departamento de Transformação Digital.

O Ocidente, por sua vez, acusa a Rússia de concentrar cerca de 100 mil soldados, tanques e artilharia na fronteira com a Ucrânia como preparativos para um ataque físico. Mas Moscou alega se tratar de uma resposta ao que vê como presença crescente da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em sua área de influência. Segundo Dmitri Peskov, "há alguns entendimentos" com o Ocidente sobre a relação com o governo ucraniano. "Mas, em geral, em questão de princípio, agora, podemos dizer que nos mantemos em caminhos diferentes, em caminhos totalmente diferentes. E isso não é bom. É perturbador", afirmou na entrevista de ontem.

Resposta "firme"

Há a expectativa de que o governo dos Estados Unidos faça uma declaração, no início desta semana, sobre o futuro das negociações. "Se a Rússia quiser seguir pela via diplomática, estamos totalmente preparados (...) Se a Rússia escolher o caminho da invasão e a escalada, também estamos preparados e responderemos de maneira firme. Estamos preparados para todos os cenários, advertiu o conselheiro americano de Segurança Nacional, Jake Sullivan, em entrevista à rede CBS.

Também ontem, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, falou sobre o aumento das tensões entre os países vizinhos. "É importante entender que o agressor é a Rússia", disse. "A Rússia deve iniciar uma desescalada, mas também devemos enviar uma mensagem à Rússia de que estamos dispostos a discutir e a ouvir suas preocupações", completou.

Poroshenko anuncia volta

Nesse contexto instável, o retorno previsto para hoje do ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko pode provocar uma crise política interna na Ucrânia. Principal rival do atual presidente, Volodymyr Zelensky, Poroshenko é acusado de "alta traição" por Kiev por ter negociado com os separatistas pró-Rússia no leste. Ele está fora do país há cerca de um mês, reunindo-se com líderes em Bruxelas, Berlim e outras capitais europeias. Ontem, em entrevista coletiva em Varsóvia, o ex-presidente disse que seu retorno e a batalha que vai travar contra as acusações de traição vão ajudar na defesa da unidade nacional.