A tensão entre Rússia e Ucrânia aumentou, depois que autoridades dos Estados Unidos acusaram Moscou de infiltrar, no leste do território ucraniano, agentes treinados em guerrilha e em uso de explosivos. Os operativos seriam usados em atos de sabotagem contra forças aliadas do Kremlin, na tentativa de justificar uma invasão à ex-república soviética.
"A Rússia lança as bases para ter a possibilidade de fabricar um pretexto para uma invasão, inclusive por meio de atos de sabotagem e operações de informação, acusando a Ucrânia de planejar um ataque iminente contra forças russas no leste da Ucrânia", declarou Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca. "O Exército russo prevê iniciar essas atividades várias semanas antes de uma invasão militar, que poderia começar entre meados de janeiro e meados de fevereiro."
"A Rússia pré-posicionou um grupo de agentes para conduzir o que chamamos de 'operação de bandeira falsa', uma ação projetada para parecer como um ataque contra seus homens ou contra pessoas de língua russa na Ucrânia, como uma desculpa para invadir", afirmou, por sua vez, John Kirby, porta-voz do Pentágono.
Na última segunda-feira, o vice-chanceler da Rússia, Serguei Riabkov, negou a intenção de agredir o vizinho pró-Ocidente. Um ataque hacker que derrubou sites do governo da Ucrânia por horas adicionou suspense à crise diplomática. Antes da operação cibernética, uma mensagem apareceu nos computadores alertando os ucranianos: "Tenham medo e esperem pelo pior".
Segundo a inteligência militar ucraniana, os serviços especiais da Rússia estariam preparando "provocações" contra soldados russos baseados na região separatista de Transnítria da Moldávia, com a intenção de implicar a Ucrânia. Moscou não tardou em desqualificar as acusações. "Até agora, todas estas declarações foram infundadas e não há nada que as confirme", garantiu o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, citado pela agência de notícias TASS. Estados Unidos e países aliados afirmam que a Rússia mobilizou 100 mil soldados na fronteira com a Ucrânia.
Psaki também comentou a ofensiva dos hackers, admitiu preocupação por parte de Washington e disse que não foi possível atribuir responsabilidades. Uma das hipótestes levantadas é a de que um grande ataque cibernético serviria para desorientar as autoridades e abrir brecha para uma ação militar. O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia anunciou haver "indicativos" de envolvimento do Kremlin na ciberpirataria.
Firmeza
De acordo com Olexiy Haran, professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla (Ucrânia), o Ocidente precisa ser firme o bastante para impedir uma intervenção russa. "Se entender que haverá enormes sanções contra Moscou, Putin desistirá da invasão. Caso sinta que o Ocidente está debilitado e desunido, o Kremlin poderá seguir uma grande ofensiva", explicou ao Correio.
O estudioso lembra que Putin rejeita a existência da Ucrânia como nação independente e deseja minar a democracia ucraniana, vista como ameaçadora. "Nesse sentido, ele tenta fazer ressurgir a política do Império Russo, que nega a Ucrânia. Se for bem-sucedido em controlar a Ucrânia, o presidente russo arruinará a credibilidade do Ocidente. Ele demonstraria que o Ocidente é incapaz de defender Kiev", acrescentou.
Otan e Kiev firmam acordo de cooperação
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) anunciou, ontem,que assinará um pacto de cooperação cibernética com a Ucrânia. A decisão foi divulgada depois que um ataque deixou vários sites do governo ucraniano fora de serviço."Nos próximos dias, a Otan e a Ucrânia assinarão um acordo sobre cooperação cibernética, incluindo o acesso da Ucrânia à plataforma de troca de informações sobre malware da Otan", declarou Jens Stoltenberg, secretário-geral da aliança militar ocidental, por meio de um breve comunicado.
Eu acho...
"A Rússia pode utilizar estratagemas da antiga KGB (serviço secreto soviético) para fazer algum tipo de provocação ou cometer assassinatos de cidadãos russos. Depois, alegar que Putin precisa defender os russos que vivem dentro da Ucrânia. De acordo com a doutrina da Federação Russa, é possível utilizar tropas para proteger os cidadãos russos. Moscou fez isso na Península da Crimeira e em partes da região de Donbass (leste da Ucrânia). Devemos ser muito cautelosos em relação a isso."
Olexiy Haran, professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla (Ucrânia)
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