A ômicron — cepa do coronavírus causador da covid-19 descoberta em novembro — contaminará mais da metade da população da Europa, caso o ritmo de transmissão permaneça inalterado. "Nesse ritmo (...), prevê-se que mais de 50% da população da região terá sido infectada com a variante ômicron nas próximas seis, ou oito, semanas", declarou o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a região da Europa, Hans Kluge, durante entrevista coletiva.
Kluge mostrou-se "profundamente precupado" com o fato de que a ômicron tem se movido para o leste do continente. No centro e no leste da Europa, as taxas de imunização são mais baixas em comparação com outras regiões. "Nós teremos que ver o impacto completo em nações onde a adesão à vacinação é menor e onde veremos doenças mais graves entre não imunizados", advertiu. O diretor lembrou que a ômicron possui várias mutações "capazes de se fixarem facilmente às células humana". Ontem, a França e a Itália registraram recordes de casos da covid-19 em 24 horas — respectivamente, 368.149 e 220.532.
Para Kluge, os países que ainda não foram afetados pela ômicron têm uma "janela de oportunidade para agirem imediatamente" e protegerem a parte mais vulnerável da população. "Nos locais em que a ômicron começou a se propagar, a prioridade deveria ser reduzir danos entre os vulneráveis, e minimizar interrupções nos sistemas de saúde e nos serviços essenciais", afirmou. Ele defende que os cidadãos com risco de desenvolverem condições graves da covid-19 devem receber as doses de reforço da vacina.
Apesar das previsões alarmantes da OMS, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) afirmou que a propagação da ômicron transformará a covid-19 em uma doença endêmica, com a qual a humanidade poderá aprneder a conviver. "Ninguém sabe quando vamos ver a luz no fim do túnel, mas vamos chegar lá", disse Marco Cavaleri, diretor de estratégia vacinal da EMA, com sede em Amsterdã.
Professor de epidemiologia da Universidade de Lisboa, Manuel Carmo Gomes disse ao Correio que considera críveis as projeções da OMS. "Em Portugal, se forem infectadas, em média, 50 mil pessoas por dia (provavelmente são mais), ao fim de dois meses nós teremos cerca de 3 milhões de infectados, ou 30% da população. Vale lembrar que Portugal tem uma cobertura vacinal elevadíssima, com mais de 90% dos cidadãos imunizados, e outros países apresentam incidências relativas superiores."
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Latência
De acordo com Gomes, é impossível conter a ômicron. "Se fosse para fazer uma analogia, seria como conter resfriados comuns de inverno", comparou. O epidemiologista português lembra que a ômicron é muito contagiosa e possui período de latência — tempo entre a infecção e o início da transmissão — muito curto, entre um e dois dias. "Seria necessário um número enorme de rastreadores profissionais para identificar e isolar os novos infectados em menos de 24 horas, antes que comecem a infectar outras pessoas", explicou.
Embora tenha reforçado o número desses profissionais, Portugal conseguiu isolar apenas 64% dos novos casos em menos de 24 horas. "A única coisa que trava a ômicron é o 'consumo' pelo vírus de pessoas suscetíveis que se expõem à contaminação. A subida de casos é muito rápida, esgota os expostos, e depois decai rapidamente. E provável que, em seguida, haja nova subida rápida", acrescentou Gomes.