Os rebeldes do Iêmen capturaram um navio no mar Vermelho nesta segunda-feira (3), alegando que transportava "material militar", enquanto a Arábia Saudita denunciou um ato de "pirataria" contra um navio que, de acordo com Riad, continha equipamento civil.
"O navio chamado 'Rawabi', com bandeira dos Emirados Árabes Unidos [...] foi sequestrado às 23h57 (17h57, horário de Brasília) de domingo, quando navegava ao largo da costa da província de Hodeida", no oeste do Iêmen, declarou o porta-voz saudita da coalizão, Turki al Maliki.
O navio voltava do arquipélago iemenita de Socotra, na costa sul do Iêmen, e transportava material destinado a um hospital de campanha instalado no referido arquipélago. Seguia para Jazan, na Arábia Saudita, detalhou o porta-voz, em um comunicado citado pela agência oficial de notícias SPA.
Os rebeldes huthis são "responsáveis por este ato criminoso", denunciou, intimando os insurgentes a "liberarem o navio imediatamente". Do contrário, advertiu, "as forças da coalizão tomarão todas as medidas necessárias frente a essa violação".
A AFP entrou em contato com Turki al Maliki, mas ele não soube informar quantas pessoas estavam a bordo.
Os Emirados Árabes Unidos não responderam até o momento um pedido de comentário da AFP. Os rebeldes huthis confirmaram a apreensão do navio, alegando que transportava "material militar".
A embarcação "penetrou águas iemenitas sem autorização" e estava realizando "atos hostis", disse o porta-voz militar dos rebeldes, Yahya Saree, no Twitter.
Escalada
"A operação, bem-sucedida e sem precedentes, se enquadra na luta contra a agressão" da coalizão, da qual os Emirados fazem parte, tuitou o chefe rebelde Mohamed Abdelsalam, acrescentando que será dada uma entrevista coletiva ainda hoje para tratar do assunto.
Em coletiva de imprensa, o chefe rebelde divulgou trechos de vídeos mostrando suposto material militar a bordo do barco.
"Essa apreensão é incomum. Parece que é o primeiro caso de confiscação pelos huthis de um barco da coalizão há mais de dois anos", declarou à AFP um funcionário americano, baseado no Golfo e que pediu anonimato.
A Arábia Saudita intervém no Iêmen desde 2015, liderando uma coalizão militar que apoia as forças do governo contra os rebeldes huthis, apoiados pelo Irã. Na região, o Irã, de maioria xiita, e a Arábia Saudita, sunita, são potências rivais.
Nos últimos anos, houve vários desvios de embarcações, muitos deles atribuídos ao Irã, nas águas do Golfo e em suas imediações. Estas movimentações têm causado um aumento da tensão.
O Irã e a Marinha dos Estados Unidos, um aliado da Arábia Saudita, costumam trocar acusações sobre a realização de manobras hostis no mar.
O conflito entre a coalizão e os rebeldes sofreu uma escalada nas últimas semanas, com os bombardeios da Força Aérea Saudita em territórios controlados pelos huthis no Iêmen. Os insurgentes intensificaram, por sua vez, seus ataques com mísseis e drones contra o reino.
De acordo o analista Stéphane Lacroix, da Sciences Po Paris, os huthis estão "em uma posição relativamente forte, sem vontade de negociar e tentando fazer com que a coalizão saia".
"Os sauditas (...) lançaram uma grande ofensiva para colocar pressão máxima sobre os huthis para aceitarem um acordo. No momento, não está funcionando", acrescentou, estimando que "a coalizão não pode fazer muito mais no momento."
Segundo a ONU, esta guerra, deflagrada em 2014, causou a morte de 377.000 pessoas. A grande maioria foi vítima de causas indiretas do conflito, como fome, doenças, ou falta de água potável.