EUROPA

Cenário segue indefinido nas eleições legislativas de Portugal

Convocadas com dois anos de antecedência, eleições legislativas do país europeu devem confirmar o equilíbrio de forças entre a direita e a esquerda. País precisa aprovar o orçamento de 2022 para a retomada econômica pós-pandemia

Correio Braziliense
postado em 30/01/2022 06:00
 O premiê Antonio Costa acena a apoiadores em caminhada por Lisboa: vantagem reduzida  -  (crédito:  AFP)
O premiê Antonio Costa acena a apoiadores em caminhada por Lisboa: vantagem reduzida - (crédito: AFP)

Com dois anos de antecedência, os portugueses elegem, neste domingo (30/1), o novo governo, em um cenário que começou apontando como favorito o Partido Socialista (PS), mas que, agora, mostra-se incerto. Na sexta-feira, último dia de campanha, o PS, no poder desde 2015, tinha 36% das intenções de voto, uma pequena vantagem sobre os sociais democratas, de centro-direita, que apareceram nas pesquisas com 33% da preferência do eleitorado.

A imprensa portuguesa fala em empate técnico e, seja quem vencer as legislativas, terá de costurar alianças para governar. Desde 1974, quando a democracia foi instaurada, o PS, do primeiro-ministro António Costa, e o Partido Social Democrata (PSD), liderado pelo ex-prefeito do Porto Rui Rio, dirigem o país.

Dezenove partidos disputam o pleito e quatro deles têm entre 5% e 7% das intenções de voto. De acordo com analistas, o Chega, de extrema-direita, deve registrar um forte avanço, depois da estreia no Parlamento em 2019, quando elegeu apenas um deputado, consolidando-se como a terceira maior força política no país. Já os ex-aliados do PS — o Bloco de Esquerda e a coalização dos comunistas e verdes — podem amargar uma lição dos eleitores. Ambos se recusaram a aprovar o projeto orçamentário de 2022, o que levou à convocação antecipada das eleições.

Alianças

Em anos anteriores, o PS contou com o apoio da centro-esquerda e da esquerda radical para garantir os votos necessários para a aprovação orçamentária. Porém, António Costa perdeu os aliados, que se posicionaram contra, especialmente, os gastos com saúde e direitos dos trabalhadores.

Costa começou a campanha demonstrando pouca disposição para negociar com a esquerda radical e com a centro-direita. Com 38% das intenções de voto para o PS, as legislativas pareciam mais definidas. Porém, com o equilíbrio de forças apontado pelas pesquisas, o primeiro-ministro admitiu que pode conversar até mesmo com o Chega, que deve alcançar 7% da preferência dos eleitores.

Criticando a decisão "irresponsável" dos ex-aliados, dos quais espera não depender mais para governar, Costa pede aos eleitores que lhe deem a maioria absoluta que lhe escapou em 2019. Se não atingir esse objetivo, já disse que tentará governar sozinho, negociando apoio parlamentar caso a caso ou contando com um pequeno partido.

"É provável que se mantenha o atual equilíbrio de forças", avalia o cientista político José Santana Pereira, da Universidade de Lisboa, acrescentando que será complicado para Costa formar um governo estável sem os partidos da esquerda radical. No entanto, António Costa é um político nato e, aos olhos do eleitorado, está mais bem preparado que Rui Rio", muito contestado em seu próprio campo, observa a analista Marina Costa Lobo.

Durante o primeiro mandato do socialista, o país passou por quatro anos de crescimento econômico, o que lhe permitiu reverter a política de austeridade implementada após a crise da dívida de 2011, ao mesmo tempo em que registrou o primeiro superávit orçamentário de sua história recente. Os últimos dois anos foram marcados pela crise sanitária, da qual Portugal espera sair em breve graças a uma das taxas de cobertura vacinal mais elevadas do mundo (89,2%).

Ainda assim, 1,2 milhão de eleitores estão isolados, embora essas pessoas tenham sido autorizadas a sair de casa, amanhã, para votar. Essa é a terceira vez que os portugueses vão às urnas depois da reeleição, há um ano, do presidente conservador Marcelo Rebelo de Sousa. Em setembro, houve o pleito municipal, vencido pelos socialistas que, porém, perderam a importante prefeitura de Lisboa. Ontem, em uma mensagem divulgada pela televisão, o governante ressaltou a necessidade de se formar um Parlamento que aprove o orçamento de 2022, para que o país tente a retomada econômica pós-covid.

Salário mínimo

Um dos temas mais espinhosos, fundamentais para a rejeição da proposta orçamentária, foi o aumento do salário mínimo. O premiê António Costa se comprometeu a continuar elevando o valor, até chegar a mil euros em 2026. Enquanto a esquerda radical achou a proposta insuficiente, pedindo mais esforços para elevar o poder aquisitivo dos portugueses, a direita defende a austeridade, afirmando que a competitividade do país depende do congelamento de salários.

O salário mínimo de Portugal, 822 euros, é um dos mais baixos da Europa. Estima-se que 900 mil trabalhadores no país vivam com esse valor. Quando Costa assumiu, em 2015, encerrando a política de rigor orçamentário da direita, o valor era de 589 euros.

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