Boris Johnson parecia não ter convencido, nesta quinta-feira (13), seu partido e a oposição com seu pedido de desculpas por ter permitido e participado de uma festa durante o confinamento, um novo capítulo em uma série de escândalos que alimentou os pedidos para sua renúncia.
Enquanto as fileiras conservadoras de Westminster multiplicam os apelos para lançar uma moção de censura interna contra o controverso primeiro-ministro, o líder do partido de Johnson na Escócia, Douglas Ross, se juntou a ao menos quatro deputados da bancada de direita para pedir diretamente sua demissão.
A maioria dos membros do governo apoiou Johnson após ele ter admitido ao Parlamento na quarta-feira sua "responsabilidade" pelos "erros" na celebração de uma festa grande nos jardins de Downing Street em maio de 2020, em pleno primeiro confinamento.
No entanto, o apoio de alguns, como o poderoso ministro das Finanças, Rishi Sunak, cujo nome aparece há meses para substituí-lo nas rédeas do partido e consequentemente do governo, foi muito brando.
Unindo-se aos apelos dos três principais partidos da oposição para que Johnson renuncie, alguns deputados conservadores, como Roger Gale que o classificou como "morto vivo", pediram que seu próprio partido aja para expulsá-lo.
Alegando que um membro de sua família deu positivo para covid-19, o primeiro-ministro cancelou de última hora, nesta quinta-feira, uma viagem oficial ao norte da Inglaterra, seguindo a recomendação de "limitar os contatos", apesar de o Reino Unido não impor mais a quarentena para as pessoas totalmente vacinadas nesses casos.
"Corresponde ao partido" decidir
Lutando para sobreviver em um mar de escândalos, que incluem corrupção e clientelismo, e em queda livre de popularidade, na quarta-feira Johnson pediu "sinceras desculpas" por ter participado de uma festa em um momento em que os 67 milhões de britânicos estavam "totalmente proibidos de se reunirem com seus familiares queridos".
No entanto, provocou uma zombaria generalizada ao dizer que acreditou que se tratava de "um evento de trabalho", apesar de o e-mail enviado pelo seu secretário particular Martin Reynolds, o qual Johnson afirmou não ter lido, pedir a quase cem convidados que levassem "suas próprias bebidas".
Após um dia e meio de silêncio desde segunda-feira à noite, quando a imprensa revelou a festa, que soma-se a uma dezena de outras supostas festas ilegais durante o confinamento em estabelecimentos do governo, cada palavra na resposta do primeiro-ministro pareceu cuidadosamente calibrada para evitar responsabilidades jurídicas.
Ele afirmou que, naquele momento, muitas reuniões de trabalho aconteciam no jardim devido ao vírus e que o encontro de 20 de maio de 2020 "tecnicamente poderia-se dizer que estava dentro das normas".
"Não vai renunciar", disse depois sua porta-voz, pedindo, como o próprio Johnson, para esperar o resultado de uma investigação interna liderada pela alta funcionária Sue Gray, cujas conclusões podem ser determinantes.
Mas para o deputado conservador William Wragg, vice-presidente do poderoso Comitê 1922, responsável pela organização parlamentar do partido e, nesse caso, de organizar um eventual voto de censura, "a posição do primeiro-ministro é insustentável".
"Não acredito que devemos deixar que as conclusões de uma funcionária determinem seu futuro", disse à BBC. "Corresponde ao Partido Conservador, se não ao próprio primeiro-ministro, tomar essa decisão", acrescentou.
Muito criticada por sua política de não investigar violações das regras anticovid, a polícia de Londres disse na noite de quinta-feira que revisaria sua posição se a investigação de Grey descobrisse possíveis irregularidades.
Johnson, que foi eleito triunfalmente em 2019 e elogiado por ter tomado dos trabalhistas grande parte de seus bastiões pós-industrializados do norte da Inglaterra com a promessa de realizar um Brexit que levava anos estagnado nas mãos de sua antecessora Theresa May, o líder conservador agora não para de cair nas pesquisas.
Uma pesquisa da YouGov, encomendada pelo jornal The Times antes de seu pedido de desculpas, dava ao Partido Trabalhista uma vantagem de dez pontos em relação os conservadores, algo inédito em quase uma década.
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