Nesta terça-feira (11/1), o ugandês Kakwenza Rukirabashaija, um famoso escritor — e notório crítico do ditador do país, Yoweri Museveni — recebeu acusações formais de "comunicação ofensiva". Os crimes que ele teria cometido, supostamente, incluem alegar fraude nas eleições que colocaram Museveni à frente do país e também chamar o filho de Museveni de 'obeso'.
O escritor foi detido em 28 de dezembro de 2021 durante uma operação militar que invadiu sua casa. No entanto, a acusação formal só foi feita agora. A defesa dele alega que Kakwenza foi vítima de tortura enquanto estava sob custódia.
Para a Rádio França Internacional, o advogado do romancista, Eron Kiiza, disse que a esposa de seu cliente o viu por três horas, quando ele foi levado para casa em 3 de janeiro, enquanto as forças de segurança revistavam sua casa. "Ele estava mancando, incapaz de sentar, urinando sangue e disse à esposa que suas nádegas estavam gravemente feridas", relatou.
Os registros da acusação indicam que Rukirabashaija "utilizou intencionalmente e repetidamente seu [perfil no] Twitter para perturbar a paz de Sua Excelência o presidente de Uganda Yoweri Kaguta Museveni sem propósito de comunicação legítima". Ele fez comentários com críticas na rede social ao ditador e seu filho Muhoozi Kainerubaga, que é o comandante das forças de infantaria do Exército de Uganda.
Nas publicações que teriam causado sua prisão, o escritor descreve o ditador como um "ladrão de eleições", em referência ao pleito que ocorreu em 2021.
The Museveni's have imposed enormous suffering on this country. I pity their offspring!
— KAKWENZA RUKIRA (@KakwenzaRukira) December 27, 2021
Uganda teve eleições polêmicas no último ano em que o principal candidato da oposição, Bobi Wine, teve parte de seus comícios impedidos pelas autoridades. Ele chegou a ser posto sob cerco militar enquanto os votos ainda estava sendo contados. Apesar das acusações de fraude, das controvérsias e das contestações na Justiça, a vitória de Museveni para o sexto mandato consecutivo foi certificada pelos órgãos eleitorais de Uganda.
Kakwenza Rukirabashaija também se referiu, em seu Twitter, ao filho do ditador, como um homem "obeso" e "intelectualmente falido" que espera suceder o pai no comando do país.
É importante frisar que Kakwenza, que tem 33 anos e nem havia nascido quando Museveni assumiu o poder em Uganda, à frente de uma guerrilha que derrubou a ditadura de Milton Obote.
A prisão dele chamou a atenção de defensores dos direitos humanos como Eamon Gilmore, representante especial da União Europeia para os direitos humanos.
UGANDA: I’m alarmed by reports of alleged torture and incommunicado detention of author ?@KakwenzaRukira?. He remains in detention without trial, despite a court order for his unconditional release. I urge Ugandan authorities to uphold rule of law and due process. pic.twitter.com/V6pLG8ZSsq
— Eamon Gilmore (@EamonGilmore) January 5, 2022
Outras prisões
Kakwenza Rukirabashaija já foi preso outras vezes. Em abril de 2020, ele foi detido para prestar esclarecimentos sobre o livro "The Greedy Barbarian" (o "bárbaro ganancioso", em tradução livre), que conta a história de um homem e seu filho que ao chegarem em um país fictício são salvos pelos nativos, mas não retribuem os mesmos gestos para eles. Na sinopse do romance, o filho tem dificuldades em "superar sua natureza profundamente falha, que parece ser hereditária".
Ele ficou preso por sete dias na época, e disse que durante a reclusão, foi vítima de um tratamento "desumano e degradante", com tortura e interrogatórios sobre o conteúdo de seu livro. A obra, foi interpretada como uma sátira à vida política de Museveni e lhe rendeu o Prêmio Internacional PEN/Pinter de Escritor de Coragem em 2021.
No mesmo mês ele foi detido sob a acusação de espalhar o coronavírus e, em setembro, por "incitar a violência e promover o sectarismo".
Saiba Mais
- Mundo Espaço aéreo sobre castelo de Windsor, onde mora Elizabeth II, é limitado
- Mundo França permitirá que homossexuais doem sangue sem condições
- Mundo Casa Branca: é cedo para dizer se Rússia é séria sobre caminho para democracia
- Mundo China põe terceira cidade em quarentena para conter propagação da Ômicron
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.