Yangon, Mianmar- Um tribunal da junta militar birmanesa condenou, nesta segunda-feira (10), Aung San Suu Kyi a quatro anos de prisão por três acusações, em uma das ações judiciais contra a governante deposta.
Uma fonte disse à AFP que a líder de 76 anos foi considerada culpada de duas acusações por suposto contrabando de dispositivos de comunicação de rádio (walkie-talkies) e outra por desobedecer as regras sanitárias ligadas ao coronavírus.
O caso dos walkie-talkies teve origem quando os militares invadiram sua casa no dia do golpe e supostamente encontraram o equipamento contrabandeado.
A sentença de hoje se soma às proferidas em dezembro, quando ela foi condenada a quatro anos por incitação e por quebrar as regras de saúde para o coronavírus durante sua campanha eleitoral.
O chefe da junta militar, Min Aung Hlaing, comutou a sentença para dois anos e disse que poderia cumpri-los em prisão domiciliar na capital Naipyidaw.
O Comitê Nobel norueguês, que concede o Prêmio Nobel da Paz, considerou a condenação desta segunda de "veredicto político".
"O último veredicto contra Aung San Suu Kyi é um veredicto político", disse o presidente do Comitê do Nobel, Berit Reiss-Andersen, em declarações à AFP.
"Aung San Suu Kyi continua sendo a combatente mais proeminente na luta pela democracia em Mianmar. O Comitê do Nobel está profundamente preocupado com sua situação", acrescentou.
Suu Kyi está detida desde 1º de fevereiro, quando seu governo foi derrubado por um golpe que pôs fim à breve experiência democrática no país asiático.
O golpe gerou descontentamento geral, mas as forças de segurança reprimiram as manifestações com prisões em massa e violência que deixou mais de 1.400 civis mortos, de acordo com um grupo de monitoramento local.
- Tática de medo -
A sentença de dezembro gerou condenações internacionais e reacendeu os protestos de rua.
Antes do veredicto, a pesquisadora de direitos humanos Manny Maung disse que as novas condenações agravariam o descontentamento nacional.
"O anúncio de sua última condenação resultou em um dos dias de maior interação nas redes sociais dentro de Mianmar e irritou muito o público", disse à AFP.
"Os militares calculam isso (as ações judiciais de Suu Kyi) como uma tática para amedrontar, mas só serve para causar mais raiva", acrescentou.
Os jornalistas não têm acesso às audiências e os advogados de Suu Kyi estão proibidos de falar com a imprensa.
Sob uma junta militar anterior, a líder civil passou longos períodos em prisão domiciliar na mansão de sua família em Yangoon, a maior cidade de Mianmar.
Ela está atualmente confinada em um local não revelado na capital, e seu único contato com o mundo exterior são reuniões com seus advogados antes de audiências judiciais.
Além dos casos de hoje, ela também enfrenta várias acusações de corrupção, cada uma das quais é punível com 15 anos de prisão, e de violação da lei de segredos oficiais.
Em novembro, ela e 15 outros funcionários, incluindo o ex-presidente Win Myint, foram acusados de suposta fraude eleitoral nas eleições de 2020.
Seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (LND), ganhou as eleições.
Desde o golpe, vários de seus aliados políticos foram detidos e um ministro foi condenado a 75 anos de prisão, enquanto outros permanecem escondidos.
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