Atirar para matar

Presidente cazaque descarta negociação e autoriza polícia a atirar em manifestantes

Tokayev rejeitou qualquer negociação e prometeu "eliminar" os "bandidos" que provocaram os distúrbios

Agência France-Presse
postado em 07/01/2022 08:32
 (crédito: Alexandr BOGDANOV / AFP)
(crédito: Alexandr BOGDANOV / AFP)

Moscou, Rússia- O presidente do Cazaquistão, Kassym Jomart Tokayev, rejeitou nesta sexta-feira (7) qualquer negociação e autorizou as forças de segurança a abrirem fogo "sem aviso prévio" para pôr fim aos protestos que abalam o país.

"Dei a ordem de atirar para matar sem aviso prévio", declarou Tokayev em discurso transmitido pela televisão, acrescentando que "os terroristas continuam danificando propriedades e usando armas contra os cidadãos".

Tokayev rejeitou qualquer negociação e prometeu "eliminar" os "bandidos" que provocaram os distúrbios. Segundo ele, são cerca de "20.000" pessoas, com um "plano claro".

"Que tipo de negociação se pode ter com criminosos, com assassinos? Enfrentamos bandidos armados e treinados (...) Temos que destruí-los, e é o que faremos em pouco tempo", acrescentou.

Ele também agradeceu ao presidente russo, Vladimir Putin, que "respondeu muito rapidamente" ao seu pedido de ajuda e enviou tropas para o país.

- 'Ordem restabelecida'


Pouco antes, Tokayev havia declarado que a ordem constitucional foi amplamente restabelecida no país, após dias de protestos sem precedentes.

"As forças da ordem estão trabalhando duro. A ordem constitucional foi amplamente restabelecida em todas as regiões", disse Tokayev, em um comunicado, acrescentando que as operações de segurança vão continuar "até a destruição total dos militantes".

"Os órgãos locais têm o controle da situação, mas os terroristas sempre usam armas e causam danos aos bens dos cidadãos", continuou o presidente.

Já o Ministério do Interior informou que 26 "criminosos armados" morreram, e 18 ficaram feridos. Confirmou também que todos os prédios administrativos foram "liberados e postos sob maior proteção", com 70 postos de controle instalados no país, segundo um comunicado.

Em Almaty, a capital econômica e onde os confrontos foram mais violentos, "as forças de segurança e as forças militares (...) garantem a ordem pública, a proteção das infraestruturas estratégicas e a limpeza das ruas", acrescentou.

Tropas russas e de outros países aliados chegaram na quinta-feira (6) a esta ex-república soviética para apoiar o governo. Para controlar a situação, também se impôs um toque de recolher, e um estado de emergência foi declarado.

Há vários dias, um movimento de protestos varre o país desde o último domingo (2) contra o aumento do preço do gás.

Esta é a maior mobilização em décadas neste país que governado de forma autocrática de 1989 até 2019 por Nursultan Nazarbayev, considerado o mentor do atual presidente.

Os distúrbios, que causaram dezenas de mortos e deixaram mais de mil feridos, de acordo com as autoridades, continuaram em Almaty na quinta-feira, onde foram ouvidos disparos.

Até o momento, 18 membros das forças de segurança morreram, e 748 ficaram feridos. Cerca de 2.300 pessoas foram presas.

- "Pacífico" -


"No início, foi tudo pacífico, mas depois vozes pacíficas foram suplantadas por apelos à violência feitos pelos provocadores", disse o chefe da administração presidencial, Dauren Abayev, em declarações à agência russa de notícias Ria Novosti nesta sexta-feira.

Segundo ele, a multidão "era liderada por bandidos e terroristas armados", com os primeiro cometendo saques, e estes últimos, "ataques", para tomar armas de fogo.

Em paralelo ao aumento dos preços, a raiva da multidão se dirigiu ao ex-presidente Nazarbayev, que mantém grande influência.

Na quinta-feira, a ONU convocou todas as partes no Cazaquistão que "se abstenham de qualquer violência", e os Estados Unidos pediram uma "solução pacífica".

Washington também advertiu as tropas russas posicionadas no Cazaquistão que não tentem assumir o controle das instituições desta ex-república soviética, garantindo que o mundo estará atento para possíveis violações dos direitos humanos.

 

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