Estados Unidos

Invasão ao Capitólio: americanos temem pela soberania popular e culpam Trump

Às vésperas do primeiro aniversário da data, pesquisas revelam como a população enxerga o ato. Simpatizantes do ex-presidente republicano que participaram do ataque citam "dia incrível"

Rodrigo Craveiro
postado em 03/01/2022 06:00
Policial legislativo resgata o deputado Dan Meuser (D) de plenário -  (crédito:  Drew Angerer/Getty Images/AFP - 6/1/21)
Policial legislativo resgata o deputado Dan Meuser (D) de plenário - (crédito: Drew Angerer/Getty Images/AFP - 6/1/21)

Escrito em 1814 pelo advogado e poeta Francis Scott Key, The Star-Spangled Banner — o Hino Nacional dos Estados Unidos — até parece retratar um dos dias mais ultrajantes da memória do país. "Quando nossa terra é iluminada com o sorriso da liberdade, se um inimigo de dentro golpear a sua glória... Abaixo, abaixo o traidor, que ousa contaminar a bandeira de suas estrelas e a página de sua história", afirma a letra. Em 6 de janeiro de 2021, milhares de inimigos internos, simpatizantes do então presidente republicano Donald Trump, invadiram o Capitólio e golpearam a democracia, no momento em que congressistas certificavam a eleição do democrata Joe Biden. A agressão à sede do Legislativo, em Washington D.C., terminou com cinco mortos, dezenas de feridos e ao menos 700 pessoas formalmente acusadas. Existe um anseio quase generalizado de que os envolvidos prestem contas à Justiça. 

Um ano depois do ataque, duas pesquisas divulgadas ontem revelam que os norte-americanos continuam profundamente preocupados com a democracia. Dois em cada três cidadãos consultados pela emissora CBS News consideram que a invasão ao Capitólio foi "um presságio de uma crescente violência política" e creem que a democracia americana está "ameaçada". Para 60% dos entrevistados, Trump tem grande responsabilidade pelos atos de vandalismo no Congresso. Outra sondagem, feita pelo jornal The Washington Post e pela Universidade de Maryland, aponta que o "orgulho" dos norte-americanos por sua democracia despencou, de 90% em 2002 para 54%, atualmente. 

Conhecido como "Xamã Q", Jake Angeli grita dentro do Capitólio
Conhecido como "Xamã Q", Jake Angeli grita dentro do Capitólio (foto: Win McNamee/AFP - 6/1/21)

Em 6 de julho de 2021, Biden destacou que, "nem mesmo durante a Guerra Civil, os insurgentes violaram nosso Capitólio, a cidadela de nossa democracia". "Não foi dissidência. Foi desordem. Causou uma crise existencial e um teste para ver se nossa democracia sobreviveria", acrescentou o presidente. 

"Eu acredito que a democracia norte-americana foi prejudicada naquele 6 de janeiro, e mais amplamente pelos eventos que sucederam as eleições de 2020, quando Trump tentou reverter o resultado das urnas usando pressão e conduta potencialmente ilegal", afirmou ao Correio Richard L. Hansen, professor de direito e de ciência política da Universidade da Califórnia,Irvine (UCI).

Ele lembra que, desde a ascensão de Joe Biden à Casa Branca, Trump continua a disseminar notícias falsas de que a eleição foi roubada. "O republicano faz com que seus simpatizantes não mais acreditem na legitimidade do processo eleitoral. Isso torna mais difícil realizar eleições que as pessoas aceitem como legítimas, especialmente se elas concordarem com uma nova candidatura de Trump", advertiu.

A rede de televisão CNN divulgou, ontem, que o comitê de investigação dos atos de 6 de janeiro de 2021, formado por membros da Câmara dos Representantes (Câmara dos Deputados), possui uma testemunha que implicará diretamente Donald Trump. Ivanka, filha do ex-presidente, teria pedido ao pai, por duas vezes, que atuasse para cessar a violência cometida pelos simpatizantes do magnata republicano. 

Vândalos

Em entrevista à agência France-Presse (AFP), simpatizantes de Trump que participaram da invasão ao Capitólio classificaram aquele 6 de janeiro de 2021 como "um dia incrível". Depois do discurso em que o então presidente republicano inflamou a multidão, Jim Wood — que viajou de New Hampshire para Washington — disse que se lembrava da "sensação de euforia, de ver a nossa volta esta gente que, finalmente, parecia se importar". "De repente, ouvimos os gritos 'vamos, vamos, vamos'!", exclamou Glen Montfalcone, de Massachusetts. "Foi aí que começou a anarquia", acrescentou. "As pessoas empurravam, empurravam, empurravam e gritavam 'continuem, vamos avançar!'", contou. "E foi isso que fizemos, todos avançamos e começarmos a entrar."

Empregados do Congresso reagem à varredura da Swat em gabinete
Empregados do Congresso reagem à varredura da Swat em gabinete (foto: Olivier Douliery/AFP - 6/1/21)

O estudante de direito Samson Racioppi, 40 anos, responsável por alugar os ônibus que seguiram de Massachusetts para a capital federal, admitiu a disposição de defender, a qualquer custo, as próximas eleições. "Vemos isso como se fosse uma guerra. Vamos iniciar uma série de batalhas e fazer o maior dano possível à esquerda e àqueles que apoiam a tirania."

 


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    Conhecido como "Xamã Q", Jake Angeli grita dentro do Capitólio Foto: Win McNamee/AFP - 6/1/21
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    Empregados do Congresso reagem à varredura da Swat em gabinete Foto: Olivier Douliery/AFP - 6/1/21
  • Eleitores radicais do Partido Republicano entram no Congresso: agressão sem precedentes
    Eleitores radicais do Partido Republicano entram no Congresso: agressão sem precedentes Foto: Alex Edelman/AFP - 6/1/21
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