Liberdade de imprensa

Jornal pró-democracia de Hong Kong fecha após operação policial e detenções

Mais de 200 policiais com uniformes e à paisana participaram nas operações de busca na redação do jornal e em várias residências, onde apreenderam telefones, computadores, documentos e mais de 64.000 dólares

O jornal pró-democracia Stand News, de Hong Kong, anunciou nesta quarta-feira (29) o fim de suas atividades, após a detenção de sete funcionários e ex-funcionários numa operação policial na redação, o que ilustra a queda da liberdade de imprensa neste centro internacional de negócios.

"Devido à situação atual, o Stand News vai parar de operar imediatamente e deixará de atualizar seu site e redes sociais", afirmou o jornal digital em um comunicado publicado no Facebook poucas horas depois da operação policial.

O site e contas das redes sociais do Stand News serão retiradas do ar em breve.

Mais de 200 policiais com uniformes e à paisana participaram nas operações de busca na redação do jornal e em várias residências, onde apreenderam telefones, computadores, documentos e mais de 64.000 dólares, informaram as forças de segurança.

E sete funcionários e ex-funcionários foram detidos sob acusações de "conspiração para divulgar uma publicação sediciosa", baseadas em uma antiga lei colonial britânica.

O Stand News é o segundo jornal pró-democracia fechado em Hong Kong após uma operação policial. Em junho, o Apple Daily, grande crítico de Pequim, encerrou as atividades após o congelamento de seus bens e a detenção de vários diretores.

A operação desta quarta-feira aumenta a preocupação com a liberdade de imprensa nesta cidade teoricamente semiautônoma e sede regional de vários meios de comunicação internacionais, onde Pequim amplia seu controle desde os protestos de 2019.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas descreveu a operação como "um ataque aberto à já abalada liberdade de imprensa de Hong Kong".

O editor-chefe do Stand News, Patrick Lam, saiu algemado do prédio em que fica a redação do jornal.

A polícia também prendeu o ex-editor-chefe Chung Pui-kuen, assim como quatro membros do conselho que renunciaram em junho, incluindo a estrela pop local Denise Ho e a advogada Margaret Ng.

O superintendente policial Steve Li acusou o jornal de publicar artigos que incitavam o ódio contra o governo de Hong Kong entre julho de 2020 e novembro de 2021, como afirmar que havia manifestantes "desaparecidos" ou que tiveram os direitos "violados".

"Estas são acusações maliciosas sem base factual", disse Li em uma entrevista coletiva, na qual anunciou o congelamento de 7,8 milhões de dólares em ativos.

O superintendente afirmou ainda que a polícia investiga como o Stand News, financiado com doações, pode ter um escritório no Reino Unido e se o local tem outros objetivos como conspirar a partir do exterior.

A sucursal também foi fechada nesta quarta-feira, informou uma fonte à AFP.

- "Editorialmente independente" -


Pouco antes do amanhecer, o Stand News informou no Facebook que a polícia de segurança nacional estava na porta da casa do subeditor Ronson Chan, que não foi detido.

Poucas horas depois, o jornal anunciou em sua página do Facebook o fechamento, a saída do editor-chefe Patrick Lam e a demissão dos demais funcionários.

Fundado como uma publicação digital sem fins lucrativos em 2014, o Stand News foi indicado ao prêmio Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras em novembro.

"O Stand News era editorialmente independente e se dedicava a proteger os valores centrais de Hong Kong, como a democracia, os direitos humanos, a liberdade, o Estado de direito e a justiça", afirma o comunicado de despedida.

Durante os grandes protestos pró-democracia de 2019 - em alguns momentos violentos -, a polícia entrou em confronto com vários repórteres do Stand News.

Após essas manifestações, Pequim aumentou o controle sobre a ex-colônia britânica, especialmente com a imposição, em junho de 2020, de uma lei de segurança nacional que foi usada para a detenção de vários opositores.

A Associação de Jornalistas de Hong Kong e o Clube de Correspondentes Estrangeiros expressaram "profunda preocupação" e pediram respeito à liberdade de imprensa.

O ativista exilado Nathan Law tuitou que as detenções refletem a perseguição das autoridades contra jornalistas e meios de comunicação "que se atrevem a desafiá-los e dizer a verdade".

O secretário-chefe de Hong Kong, John Lee, afirmou que os indivíduos detidos eram "elementos malignos que prejudicavam a liberdade de imprensa" e "maçãs podres que abusavam da posição (...) de profissional do jornalismo".