Propagando-se a uma velocidade desvairada, sobretudo em países europeus, a variante ômicron do novo coronavírus explode as estatísticas de casos de covid-19. Acompanhamento realizado pela plataforma Our World in Data, vinculada à Universidade de Oxford, no Reino Unido, constatou que, na segunda-feira, houve recorde no registro diário da doença e também na média móvel. Segundo o monitoramento, não há aumento no número de mortos, estacionado desde outubro.
Num único dia, foram 1,45 milhão de infecções pelo Sars-CoV-2, deixando bem para trás a maior marca então contabilizada, de 905,8 mil contágios, em abril passado. A média diária de casos, considerando os sete dias anteriores, ficou em 854.603 casos — o recorde anterior, também em abril, foi de 827.255. De acordo com os especialistas, houve um salto de 49% em relação a novembro, quando a ômicron foi identificada na África do Sul.
Dominante na Inglaterra, na Suíça e na Holanda, a variante trilha o mesmo caminho em outros países da Europa e nos Estados Unidos, em meio às festas de fim de ano e do início do inverno. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano anunciou, ontem, após revisão de dados, que a ômicron correspondia a 58,6% dos casos de covid-19 no país na semana que terminou no sábado de Natal.
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Alerta
Atenta à evolução da situação, o braço europeu da Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou ontem que a variante, apesar de ser menos virulenta do que a delta, deve provocar "um grande número de hospitalizações, especialmente entre os não vacinados". Os primeiros estudos na África do Sul, na Escócia e na Inglaterra mostram que a ômicron parece causar menos internações, mas Catherine Smallwood, uma das autoridades da OMS Europa, pediu que os dados preliminares sejam considerados "com cautela".
A especialista destacou que os casos observados se referem, principalmente, a "populações jovens e saudáveis em países com altas taxas de vacinação". Alguns cientistas vêm assinalando que um maior contágio pode anular a vantagem de uma variante menos perigosa. Além disso, não sabem se essa gravidade aparentemente menor advém das características intrínsecas da variante, ou se está relacionada ao fato de afetar populações já parcialmente imunizadas (pela vacina, ou por infecção prévia).
Diante das incertezas, os países tentam encontrar um equilíbrio para minimizar os danos econômicos e controlar o aumento dos casos. Ontem, a China, onde o novo coronavírus surgiu há dois anos, determinou o confinamento de centenas de milhares de cidadãos para conter um foco de covid, ínfimo na comparação com os números recordes de contágios registrados em países europeus e algumas regiões dos Estados Unidos. Moradores da cidade de Yanan receberam a ordem de permanecer em casa, depois que mais de 200 casos foram registrados em todo o país, um recorde desde março de 2020. Em Xian, 13 milhões de habitantes estão em confinamento há seis dias.
Na Europa, vários governos tentam acelerar a vacinação das doses de reforço e aplicam novas medidas restritivas. França, Grécia, Portugal e Reino Unido registaram, ontem, novos recordes de infecções em 24 horas, respectivamente mais de 180 mil, 21 mil, 17 mil e 129 mil.
Fronteira fechada
A Finlândia decidiu barrar os viajantes estrangeiros não vacinados contra a covid-19, mesmo que tenham um teste negativo. Na Suécia e Dinamarca, países vizinhos, as autoridades exigem que os viajantes não residentes apresentem um teste negativo, além de estarem vacinados. A Áustria tem a mesma exigência.
Na França, o governo anunciou, na segunda-feira, que o passaporte sanitário só estará disponível para as pessoas totalmente vacinadas e não será mais válido com um teste negativo recente. A medida entrará em vigor após aprovação no Parlamento. O certificado permite acesso a lugares como restaurantes, bares, cafés e cinemas.
Na Alemanha, que registrou a morte de um paciente infectado pela ômicron, novas restrições foram implementadas ontem, incluindo a limitação das reuniões a 10 pessoas entre vacinados e a apenas duas entre não vacinados. Também foi determinado o fechamento de casas noturnas; eventos esportivos serão realizados sem a presença de torcedores.
Além das restrições, a pandemia atingiu economicamente alguns setores, como o das viagens. Desde a véspera de Natal, cerca de 11,5 mil voos foram suspensos no mundo e dezenas de milhares sofreram atrasos em um dos períodos mais frenéticos do ano. Muitas companhias aéreas apontaram escassez de pessoal devido à onda de casos positivos pela ômicron.