Pandemia

Planeta se blinda contra a ômicron com medidas de isolamento e maior testagem

EUA anunciam a distribuição de 500 milhões de testes gratuitos e não descartam mobilizar militares para atendimento em hospitais sobrecarregados. Portugal fecha bares e boates até 9 de janeiro. OMS adverte sobre reuniões familiares no Natal

Ante o avanço da ômicron como cepa amplamente dominante nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden discursou à nação, apresentou um pacote de medidas contra a covid-19 e procurou tranquilizar a população. "Todos deveríamos estar preocupados com a ômicron, mas não alarmados", disse, em pronunciamento feito a partir da Sala de Jantares de Estado da Casa Branca. "Isto não é março de 2020", acrescentou, em referência ao período mais crítico da pandemia. "Duzentas milhões de pessoas estão completamente vacinadas. Estamos preparados, sabemos mais. Só temos que continuar focados", prosseguiu. A Casa Branca distribuirá 500 milhões de testes gratuitos da covid-19 e não descarta mobilizar as Forças Armadas para ajudar no atendimento em hospitais sobrecarregados. 

A Casa Branca anunciou que o governo distribuirá aos americanos, por meio do serviço postal, 500 milhões de testes gratuitos da covid-19 e mobilizará o pessoal médico militar se necessário. O democrata associou a desaceleração na imunização da população à "perigosa desinformação". "As pessoas não vacinadas são responsáveis por suas próprias escolhas. Mas tais escolhas têm sido alimentadas pela perigosa desinformação na TV a cabo e nas mídias sociais", advertiu.

O governo da Alemanha, por sua vez, decidiu que todos os eventos esportivos a partir de 28 de dezembro serão realizados com portões fechados. As reuniões e festas de ano-novo foram limitadas a 10 pessoas. "Não é o momento de celebrar festas e noites amistosas com muita gente", disse o chanceler, Olaf Scholz. A premiê da Finlândia, Sanna Marin, declarou que os bares do país serão obrigados a baixar as portas às 21h na noite de 31 de dezembro.

Portugal determinou o fechamento de creches, bares e boates entre 25 de dezembro e 9 de janeiro. O trabalho a distância também será obrigatório pelo mesmo período. "Este ainda não é o Natal normal das nossas vidas e, por isso, apelo a todos para que possam conter ao máximo possível as celebrações no seu núcleo familiar", declarou o primeiro-ministro português, António Costa.  

Na mesma linha dos líderes de Portugal e da Alemanha, a Organização Mundial da Saúde (OMS) enviou um recado sobre as celebrações natalinas e de ano-novo. "Um evento cancelado é melhor que uma vida cancelada", disse o diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus. "É melhor comemorar tarde do que comemorar agora e lamentar depois", reforçou.

Também ontem, Israel adicionou os Estados Unidos e outros países — Bélgica, Canadá, Alemanha, Hungria, Marrocos, Portugal, Suíça e Turquia — à lista de destinos considerados de risco, com a proibição de viagens.

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Retardo

Manuel Carmo Gomes, professor de epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e membro da Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19, afirmou ao Correio que as medidas anunciadas ontem pelo governo de Portugal atrasarão o avanço da ômicron, mas não conterão a propagação da cepa. "É importante retardar a disseminação das infecções para espaçar, ao longo do tempo, as hospitalizações. O país registra 594 casos acumulados em 14 dias por 100 mil habitantes. Essa incidência tem aumentado com taxas de 1,5 a 2,5 pontos percentuais por dia, com domínio da cepa delta. Até a semana passada, houve uma desaceleração no aumento dos contágios. A situação na enfermaria da covid-19 tem se mantido sob controle, e a ocupação hospitalar começa a dar sinais de diminuição. No entanto, a ômicron deve mudar tudo isso", advertiu. 

De acordo com Gomes, na segunda-feira, a ômicron representava 47% dos novos casos da doença. "Antes do fim do ano, será predominante. Começamos a detectar uma subida rápida da incidência, aparentemente associada e essa nova cepa, entre jovens de 20 a 39 anos, em áreas urbanas."

Drew Angerer/Getty Images/AFP - O presidente norte-americano, Joe Biden, fala à nação: "Todos deveríamos estar preocupados com a ômicron, mas não alarmados"
Patricia de Melo Moreira/AFP - Enfermeira cuida de paciente com covid-19, em Portimão (Portugal)
Arquivo pessoal - Manuel Carmo Gomes, epidemiologista português