Tem sido um desses "dogmas sagrados", na edição do noticiário internacional, a ideia de que processos políticos internos dos países, inclusive os que definem o exercício dos poderes instituídos, tenham interesse, além das fronteiras, na proporção direta de fatores como peso econômico ou populacional. Mas a política e a diplomacia têm parâmetros próprios, por vezes outros.
É o caso de amanhã, no segundo turno da eleição presidencial no Chile. Na imagem física dos mapas, uma tira estreita de território espremida entre os Andes e o litoral do Pacífico. Por essas e por outras, um vizinho capaz de manter comércio mais intenso com a Ásia, por exemplo, do que com os vizinhos sul-americanos — entre eles, claro, o Brasil.
O resultado das urnas chilenas, porém, tem implicações diretas e imediatas para as opções da diplomacia brasileira no ano crucial de 2022, quando estaremos nós envolvidos na sucessão — ou reeleição — de Jair Bolsonaro, com todas as implicações dessa decisão para o cenário político da América do Sul.
Clássico
A disputa desenhada para o segundo turno no Chile se assemelha, entre outras, à que se insinua nas pesquisas para a eleição presidencial de outubro no Brasil. Com o perdão da simplificação, com fins (digamos) "didáticos", trata-se de um confronto entre a esquerda socialista e uma direita com vieses extremados. Dados os descontos para as particularidades nacionais, um quadro por demais semelhante ao delineado para a eleição brasileira.
Costas para onde?
Aqui como ali, a história coloca há cinco séculos a questão de olhar para o mar ou olhar para o continente. No caso do Brasil, prevaleceu até recentemente a opção pelo litoral — atlântico, no caso. Igualmente, o Chile tem visto como prioritárias as trocas no eixo pacífico, inclusive com a China, mas também com os EUA.
Seja qual for a conclusão, em determinado momento, o que se coloca para a diplomacia regional é o desafio de concertar um balanço mais equilibrado entre o que se celebra e o que se faz concretamente.
Quo vadis?
Da opção a ser tomada, nos limites da diplomacia prática, poderá depender a condução futura das relações bilaterais e multilaterais. Até o momento, prevaleceu o cuidado com manter o Mercosul permeável aos novos caminhos abertos para o escoamento da produção interna.
O desafio inicial para a recolocação do sistema regional diz respeito a uma opção política: manter a opção multilateral ou investir claramente na relação bilateral com os EUA.
Até 2022
Com o intervalo das festas, nos próximos fins de semana, a Conexão faz um intervalo para retornar no sábado 8 de janeiro. Aos leitores (em primeiro lugar) e aos interlocutores, meus votos de boas festas e de uma entrada esperançosa em 2022. Até lá!