Envolvido em uma série de escândalos, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson afirmou nesta sexta-feira (17) que assume a "responsabilidade" da derrota do Partido Conservador em uma eleição local, o que enfraquece ainda mais sua posição no momento em que o país enfrenta o aumento de casos de covid-19.
Dois anos depois de sua vitória histórica com a promessa de retirar o Reino Unido da União Europeia (UE), o fim de 2021 virou um pesadelo para o líder conservador.
Até recentemente, Johnson tinha uma grande popularidade, mas atualmente é questionado por sua própria bancada no Parlamento após vários escândalos, inflação galopante e o aumento exponencial dos casos de covid-19 pela variante ômicron. O país marca um recorde pelo terceiro dia consecutivo: 93.000 novos casos.
Agora a lista também conta com a dura derrota que o Partido Conservador sofreu em uma eleição parcial na circunscrição rural de North Shropshire na quinta-feira.
Sempre controlada pelos conservadores, a circunscrição passou para o Partido Liberal-Democrata, que recebeu 47% dos votos.
Helen Morgan, a candidata vencedora, afirmou que os eleitores enviaram uma mensagem "alta e clara" a Johnson de que "o jogo acabou".
"Seu governo, dirigido pelas mentiras e fanfarronices, terá que prestar contas", disse.
O primeiro-ministro reagiu e disse que "com toda humildade" deve "aceitar o veredicto".
"Sou responsável por tudo que o governo faz e, com certeza, assumo a responsabilidade pessoal", disse Johnson. "Entendo perfeitamente por que as pessoas estão frustradas", acrescentou.
O revés eleitoral sofrido pelo líder conservador, de 57 anos, reflete a irritação popular, de acordo com integrantes do próprio Partido Conservador.
"Os eleitores de North Shropshire se cansaram", admitiu o presidente do Partido Conservador, Oliver Dowden. "Penso que queriam enviar uma mensagem (...) e entendemos", acrescentou.
O jornal conservador The Daily Telegraph afirma que a derrota do Partido Conservador em uma circunscrição que controlou por quase 200 anos é uma "humilhação" para o primeiro-ministro.
Ao mesmo tempo, o jornal de esquerda The Guardian destaca que "o calamitoso colapso do apoio aos conservadores (...) assustará muitos deputados conservadores e é provável que provoque perguntas sobre o futuro de Johnson".
Moção de censura?
Embora poucos representantes tenham expressado apoio à medida até agora, a possibilidade de uma moção de censura contra o primeiro-ministro não é mais um tabu.
De fato, alguns nomes já começaram a ser mencionados como eventuais sucessores de Boris Johnson, incluindo a ministra das Relações Exteriores, Liz Truss, e o ministro das Finanças, Rishi Sunak.
Além do revés eleitoral, o primeiro-ministro foi afetado por uma série de escândalos.
Sua popularidade desabou após a revelação de uma série de festas em Downing Street, sede do governo, durante o inverno (hemisfério norte) de 2020, quando os britânicos deveriam respeitar as fortes restrições para combater a pandemia de covid.
Nesta sexta-feira, vários meios de comunicação afirmam que o oficial encarregado de uma investigação interna sobre essas reuniões de Natal, Simon Case, havia participado de outra dentro de seu próprio serviço.
Diante dessa nova controvérsia, Case "se retirou" da investigação para "preservar a confiança do público", disse um porta-voz de Downing Street na sexta-feira.
No dia anterior, os jornais The Guardian e The Independent revelaram que Boris Johnson participou em uma festa em Downing Street, sede do governo, em 15 de maio de 2020, também durante um período de restrições sanitárias.
Até o arcebispo de Canterbury, Justin Welby, se mostrou decepcionado e pediu que todos cumpram as normas.
As revelações, no entanto, colocam em dúvida a liderança de Johnson no momento em que o Reino Unido enfrenta, segundo o governo, um "maremoto" de infecções pela variante ômicron. Desde o início da pandemia, o país registrou quase 147.000 mortes.
Cada vez mais enfraquecido politicamente, Johnson defendeu as novas medidas anticovid na quarta-feira no Parlamento, mas 99 dos 361 deputados de seu partido votaram contra a adoção do passaporte sanitário para permitir a entrada em grandes eventos.
A medida foi aprovada graças ao apoio da oposição trabalhista, mas esta foi a maior rebelião sofrida por Johnson desde sua chegada ao poder em 2019.
Na história recente do partido, apenas a ex-primeira-ministra Theresa May enfrentou um cenário pior que o de Johnson: vítima de uma crescente rebelião no mesmo ano por seu acordo sobre o Brexit, ela renunciou após uma moção de censura interna.
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