Exigências

Moscou apresenta exigências para limitar influência de EUA e Otan em suas fronteiras

A Rússia revelou propostas de tratado para limitar a presença militar ocidental perto de suas fronteiras e pretende negociá-las com os Estados Unidos

A Rússia revelou nesta sexta-feira (17) duas propostas de tratado para limitar drasticamente a presença militar ocidental perto de suas fronteiras e pretende negociá-las "a partir de sábado" com os Estados Unidos para evitar um aumento das tensões.

A divulgação dos documentos acontece em meio às tensões entre Rússia e Ocidente pela fronteira com a Ucrânia, onde americanos e europeus acusam Moscou de preparar uma ofensiva militar.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, reagiu nesta sexta-feira ao advertir que "não haverá conversas sobre a segurança europeia sem nossos aliados e parceiros europeus".

Os dois textos apresentados pela Rússia, chamados "tratado entre os Estados Unidos e a Federação da Rússia sobre as garantias de segurança" e "acordo sobre as medidas para garantir a segurança da Federação da Rússia e dos Estados-membros" da Otan, preveem proibir uma nova ampliação da aliança transatlântica e o estabelecimento de bases militares americanas em países da antiga União Soviética, entre outras medidas.

Não é comum que os diplomatas apresentem publicamente este tipo de documentos de trabalho, pois a discrição permite aos negociadores mais liberdade na hora de trabalhar.

"É essencial colocar no papel as garantias de segurança da Rússia, e que tenham valor de direito", declarou Sergei Ryabkov, vice-ministro russo de Relações Exteriores, durante a apresentação dos textos à imprensa.

O diplomata também propôs abrir negociações em Genebra a partir de "sábado, 18 de dezembro".

 'Página em branco' 

Os documentos têm quatro páginas e nove e oito artigos, respectivamente.

Para Ryabkov, devem servir para restabelecer uma cooperação russo-ocidental em "ausência total de confiança" mútua, e pela política "agressiva" da Otan "nas fronteiras da Rússia".

Trata-se de "relançar a relação a partir de uma página em branco", afirmou Ryabkov.

O presidente Vladimir Putin já havia pedido da terça-feira negociações "imediatas" sobre garantias de segurança para a Rússia.

Putin já fizera exigências jurídicas ao presidente americano durante uma reunião por videoconferência no início de dezembro.

Os documentos apresentados hoje proíbem os Estados Unidos de estabelecer bases militares em todos as ex-repúblicas soviéticas que não façam parte da Otan, de utilizar a infraestrutura "para qualquer atividade militar" e, inclusive, "desenvolver cooperação militar bilateral" com esses Estados.

Todos os membros da aliança transatlântica se comprometeriam também a não ampliar a Otan e a não realizar nenhuma "atividade militar sobre o território da Ucrânia nem nos demais países da Europa do Leste, do Cáucaso do Sul e da Ásia Central".

Jen Psaki, por outro lado, descartou hoje qualquer "compromisso" porque "todos os países têm o direito de decidir sobre o seu próprio futuro e sua política externa sem estar submetidos à influência exterior".

Pouco depois da divulgação dos textos, um funcionário dos Estados Unidos disse à imprensa, sob a condição de anonimato, que está disposto a discutir as propostas de apresentadas pela Rússia.

"Estamos preparados para discuti-las [as propostas]. Dito isso, há algumas coisas nestes documentos que os russos sabem que são inaceitáveis", afirmou o funcionário.

"Se houver qualquer nova agressão contra Ucrânia, isso acarretará em enormes consequências", acrescentou.

 'Irreais' 

A ampliação da Otan para ex-repúblicas soviéticas como Ucrânia e Geórgia - que atualmente são candidatas - é uma linha vermelha para a Rússia.

Entrevistado pela AFP, o analista russo Konstantin Kalatshev considera que as propostas apresentadas nesta sexta-feira eram "irreais". "Os Estados Unidos verão elas como um golpe de propaganda, de comunicação, para desviar a atenção das ações de Moscou e focá-la nas da Otan", opinou.

"Para a Rússia, é importante mostrar que a ameaça não vem dela, e que ela não tem intenção de atacar a Ucrânia ou de começar uma guerra com os Estados Unidos", acrescentou.

Moscou anexou a península ucraniana da Crimeia e se suspeita que o Kremlin oferece apoio aos separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, em uma guerra que já deixou cerca de 13.000 mortos desde 2014. Além disso, venceu com facilidade a Geórgia, nas regiões de Ossétia do Sule Abecásia, em 2008.

O Ocidente se recusa a fechar a porta da Otan a esses dois países, mas, de fato, congelou seus processos de adesão.

Washington, Otan e União Europeia acusam Moscou de concentrar dezenas de milhares de soldados nas fronteiras da Ucrânia nas últimas semanas, com os olhares postos sobre uma possível invasão, e ameaçam a Rússia com sanções sem precedentes.

Nesse sentido, o Reino Unido assegurou hoje que utilizará "todos os seus poderes diplomáticos e econômicos" para impedir qualquer agressão russa contra a Ucrânia, durante uma conversa telefônica entre o premiê Boris Johnson e presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, segundo Downing Street.

O Kremlin, por outro lado, rechaça essas acusações e afirma que, pelo contrário, é a Rússia que está sendo ameaçada pela Otan, pois está armando a Ucrânia e aumentando a sua presença militar no Mar Negro.

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