Os grandes frigoríficos brasileiros se defenderam nesta quinta-feira (16) das acusações de contribuir com o desmatamento, após vários supermercados na Europa se comprometerem a retirar de suas prateleiras produtos suspeitos de origem brasileira.
A decisão, tomada por gigantes como a francesa Carrefour, foram anunciadas pela ONG americana Mighty Earth, que revelou os supostos vínculos em uma investigação liderada pela ONG brasileira de jornalismo investigativo Repórter Brasil.
Os maiores frigoríficos do país, JBS, Marfrig e Minerva, foram acusados de contribuir com o desmatamento em algumas regiões do Brasil, como a Amazônia, considerada o pulmão do planeta.
De acordo com a Migthy Earth, alguns produtos obtidos através do desmatamento podem ser encontrados em supermercados europeus, em forma de charque, carne enlatada e cortes nobres frescos.
"O fato da Mighty Earth ter compartilhado os resultados da investigação com as empresas diretamente envolvidas antes de sua publicação deu lugar às declarações de hoje" (quinta-feira) por parte dos frigoríficos, disse a organização americana.
Os frigoríficos brasileiros se defenderam, alegando seu compromisso com o meio ambiente e citando controles rígidos de seus fornecedores.
A JBS, maior exportadora de carne bovina do mundo, garantiu que pratica uma política de tolerância zero com "o desmatamento ilegal, o trabalho forçado e o uso indevido de territórios indígenas ou de áreas protegidas".
Há dez anos, a JBS estabeleceu "um sistema de monitoramento geoespacial que utiliza imagens de satélite para monitorar seus fornecedores".
Embora não seja possível atualmente "controlar da mesma forma os fornecedores dos fornecedores", protegidos por cláusulas de confidencialidade, a JBS afirmou ter investido em uma nova plataforma para obter até 2025 "uma cadeia produtiva sem o menor traço de desmatamento ilegal".
A Mafrig, segunda maior exportadora de carne bovina do mundo, indicou em um comunicado enviado à AFP que "mantém um rígido protocolo e compra de animais, baseado em critérios sociais e ambientais que seus fornecedores diretos devem cumprir", e que também realiza monitoramentos via satélite na região amazônica há mais de uma década.
A Minerva SA, líder em exportações para a América do Sul, destacou em um comunicado enviado à AFP suas "iniciativas para combater o desmatamento ilegal" e a mudança climática.
"Desmatamento importado"
Depois da denúncia da Mighty Earth, o grupo francês Carrefour retirou de seus mercados na Bélgica uma marca de charque chamada Jack Link's, que fabrica parte de seus produtos no Brasil em parceria com a JBS.
"Estamos estudando a origem dos produtos que teríamos em outros países para tomar uma decisão similar se for o caso", confirmou à AFP Agathe Grossmith, diretora de projetos do grupo Carrefour.
A também francesa Auchan declarou que iniciou um procedimento para retirar de suas prateleiras um produto da Jack Link's na França e que investiga sua origem, e garantiu não se abastecer de carne bovina brasileira.
De acordo com a Mighty Earth, a rede de supermercados belga Delhaize também se comprometeu a "retirar todos os produtos da Jack Link's de suas prateleiras".
A ONG também destacou os esforços de outras redes de supermercados, como Lidl e Albert Heijn, na Holanda, e Sainsbury's e Princes, no Reino Unido, para impedir a venda de carne bovina brasileira cujos produtores estão supostamente ligados ao desmatamento.
"Estas medidas comerciais, junto com a nova legislação da UE para combater o desmatamento importado, mostram que o cerco está se fechando sobre os destruidores de florestas", declarou Nico Muzi, diretor da Migthy Earth na Europa.
Grandes grupos brasileiros foram acusados recentemente de "lavagem de gado", que consiste em transferir animais de uma fazenda cuja carne não pode ser exportada devido ao desmatamento ilegal em suas terras para outra que possui a autorização.
O desmatamento recrudesceu no Brasil desde a chegada ao poder em janeiro de 2019 do presidente Jair Bolsonaro, favorável à mineração e exploração agrícola em áreas protegidas, com um aumento de 22% entre 2020-2021, um recorde desde 2006.