"Nesta cidade, neste momento, fechei o meu ciclo. Aceito o cargo de comissária do Departamento de Polícia de Nova York (NYPD, pela sigla em inglês)." Foi com essas palavras e sem segurar as lágrimas que Keechant Sewell — mulher, negra, 49 anos — fez o discurso mais importante de sua vida. Pela primeira vez em 176 anos, o NYPD será chefiado por uma mulher. Será a terceira afro-americana a ocupar o posto. A partir de 1º de janeiro, quando tomará posse, Keechant comandará 35 mil policiais, dos quais apenas 18% são mulheres.
O anúncio do nome de Keechant foi feito por Eric Adams, ex-capitão do NYPD e também negro, o prefeito eleito de Nova York. Ele ocorreu no mesmo dia em que Derek Chauvin, o ex-policial branco acusado de matar o negro George Floyd, em Minneapolis (Minnesota), declarou-se culpado das acusações de violações dos direitos civis da vítima.
Em seu pronunciamento sobre a escolha por Keechant, Eric Adams disse que as mulheres "muitas vezes estão sentadas no banco" e "nunca têm permissão para entrar no jogo", quando se trata de policiamento.
Em entrevista ao New York Post, na terça-feira, Keechant declarou que se sente "muito honrada por ser considerada para o cargo". "É uma oportunidade extraordinária. Eu levo muito a sério a natureza histórica disso", comemorou. Keechant é uma veterana da polícia: acumula 23 anos de serviços no Departamento de Polícia de Nassau, na vizinha Long Island, onde se tornou chefe em setembro de 2020.
"Trago uma perspectiva diferente para garantir que o departamento se pareça com a cidade à qual serve e para fazer com que essa decisão (...) eleve mulheres e pessoas de cor a posições de liderança", afirmou a nova chefe de polícia de Nova York, ontem. Ela assegurou que, sob seu comando, o NYPD estará focado no combate aos crimes violentos, especialmente aqueles relacionados com armas de fogo.
Em Nassau, Keechant atuou na unidade de narcóticos e nos principais casos de investigação de Long Island, além de ter sido negociadora de reféns.
Caso Floyd
Essa foi a primeira vez que o ex-policial Derek Chauvin, que recorre da condenação em um tribunal estadual de Minnesota, admitiu culpa pelos atos que resultaram na morte de George Floyd por asfixia durante um procedimento de prisão. O caso incitou protestos em todo o país e teve ampla repercussão internacional. "O acusado admite ter usado uma força irracional e injustificada, e ter agido de forma deliberada e com flagrante desprezo pelas consequências para a vida do senhor Floyd", diz o documento judicial, publicado pouco após a aceitação de culpa.