O premiê do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou, ontem, o primeiro óbito conhecido no mundo atribuído à cepa ômicron do Sars-Cov-2. "A ômicron está provocando hospitalizações e, infelizmente, confirmamos que ao menos um paciente morreu por essa nova variante", declarou o chefe de governo, durante visita a um dos centros de imunização para a aplicação da terceira dose contra a covid-19.
A taxa de transmissão da ômicron tem aumentado nos últimos dias. Somente ontem, 1.576 casos foram reportados pelas autoridades no Reino Unido — 20% das infecções foram causadas pela ômicron. Em Londres, o índice aumenta para 40%. Johnson não descarta impor novas restrições "nacionais severas" às vésperas do Natal.
O primeiro-ministro não divulgou detalhes sobre a morte. Não se conhece o nome do paciente, a idade, o local onde vivia e se estava vacinado ou não. "Parece que esta é a primeira morte confirmada pela ômicron", admitiu um porta-voz do Centro Europeu para a Prevenção e o Controle de Doenças (ECDC). "No entanto, muitos casos não estão sequenciados genomicamente", acrescentou.
Diretor do Instituto Rosalind Franklin da Universidade de Oxford, o britânico James Naismith admitiu ao Correio que uma única morte representa uma tragédia, mas assegurou que o anúncio feito por Johnson nada diz sobre a doença. "A razão para o alarme da comunidade científica está no fato de que a cepa se espalha rapidamente, tanto entre os vacinados quanto nos recuperados da covid-19. A doença é leve para a maioria das pessoas, mas perigosa para a camada vulnerável da população, especialmente os idosos", disse. "Se a ômicron causar hospitalizações, como uma parte da cepa delta, isso sobrecarregará o sistema de saúde."
Naismith reconhece o potencial infeccioso da ômicron e explica que a cepa se dissemina "muito rapidamente". "Para 100 pessoas que testam positivo para a covid-19 em Londres, 40 têm ômicron. Nós devemos esperar que a variante represente a maioria dos casos até o fim de semana. É provável que isso ocorra em cada país onde a cepa se estabelecer. Há evidências de que a terceira dose da vacina pode reduzir a propagação", comentou.
O especialista crê que em breve a ciência saberá se a ômicron tem, ou não, o potencial de sobrecarregar o sistema de saúde. "Não devemos ter medo, mas fazer tudo o que pudermos para vacinar o mundo", acrescentou Naismith, ao confidenciar que tomou a terceira dose no domingo.
Prematuro
Jacqueline Coetzee, presidente da Associação Médica da África do Sul e a primeira especialista a detectar a cepa ômicron, afirmou à reportagem que é muito cedo para uma reação de alerta extremo da comunidade internacional ante a confirmação da morte do Reino Unido. "Esteja certo de que a ômicron provoca um quadro predominantemente leve. Seria interessante saber se a pessoa que entrou em óbito estava vacinada, se sofria de outra doença e se esteve hospitalizada — e por quanto tempo", disse.
Segundo Coetzee, estadistas do mundo todo têm a obrigação de fornecer vacinas à população e orientá-la a prevenir o contágio pela ômicron. Ontem, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, testou positivo para a covid-19. "Estou certa de que ele tem ômicron."
Por sua vez, a Espanha revelou que a maioria dos 36 casos da ômicron ocorreram por transmissão comunitária. Dezenove infectados não têm ligação com viagens a países de alto risco. Também ontem, a China confirmou a primeira infecção pela variante, na cidade de Tianjin (nordeste).