França

Eleições na França: Emmanuel Macron aposta alto na reeleição

Com a popularidade em alta, o atual presidente do país surge como favorito para conquistar um novo mandato em abril. Analistas veem a conservadora Valérie Pécresse com potencial para disputar segundo turno

Em 10 de abril de 2022, os franceses vão às urnas para a escolha do próximo inquilino do Palácio do Eliseu, para o período de cinco anos. Entre 10 e 13 candidatos disputarão a Presidência da França. Emmanuel Macron tentará a reeleição, na esperança de se firmar como o principal líder da Europa, com a aposentadoria da chanceler alemã, Angela Merkel. Em 2017, durante a campanha, Macron apresentou-se como "um novo homem". No entanto, especialistas o avaliam como um "político profissional", não diferente dos outros. No primeiro turno das eleições, as principais ameaças para Macron são a conservadora Valérie Pécresse e a extremista de direita Marine Le Pen, da Frente Nacional. 

Cientista político da Fundação Jean Jaurès (em Paris) e analista associado do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris), Jean-Yes Camus admite que a popularidade de Macron ainda é inesperadamente alta. Uma pesquisa da Ipsos, divulgada em 9 de dezembro, aponta a vitória do presidente com 25%, no primeiro turno, contra 16% tanto para a conservadora Valérie Pécresse quanto para a representante da extrema-direita Marine Le Pen. "A maioria das sondagens prevê uma fácil reeleição de Macron no segundo turno, em uma disputa contra Le Pen. Meu palpite é de que ele vencerá Pécresse também", afirmou ao Correio.

Segundo Camus, a aceitação popular do titular do Palácio do Eliseu deve-se à ótima performance da economia, uma taxa de crescimento anual de 6,7% que beneficia os pequenos e médios negócios. "Estamos a quatro meses das eleições e um segmento importante de cidadãos não quer um segundo mandato de Macron, especialmente entre os eleitores orientados pela esquerda que votaram nele em 2017 para deter Le Pen, mas acabaram desiludidos com as políticas liberais do presidente. Essa fatia pode se abster no segundo turno", advertiu. 

O especialista não acredita em uma surpresa da extrema-direita em abril. Ele lembra que Éric Zemmour estava cotado para chegar ao segundo turno apenas por um instituto de pesquisa. Com a entrada de Pécresse na corrida eleitoral, o quadro se modificou, e Zemmour aparece com apenas 14%. "De qualquer forma, são boas notícias para Macron, pois a candidatura de Zemmour rouba votos tanto dos conservadores quanto de Le Pen. "Zemmour seria uma ameaça à democracia? Bem, ele não é um fascista. Mas suas posições sobre a imigração e sobre o islã são bem radicais. Além disso, é o único político que faz campanha sobre a plataforma de afirmar que o islã não é compatível com a condição de ser francês. Zemmour está ainda mais à direita de Le Pen", avaliou.

Ainda segundo Camus, a Frente Nacional está "bem viva". Pesquisas conferem a Le Pen mais de 40% dos votos no segundo turno — em 2017, ela aparecia com 33%. "No entanto, para ganhar a eleição, você precisa ter mais do que 50% dos votos, e é bastante improvável que ela possa alcançar essa marca. O partido de Len Pen deve perder eleitores para Zemmour, visto como um rosto novo, em oposição a Le Pen, que concorrerá pela terceira vez", afirmou. O estudioso reconhece, porém, que Le Pen apresenta desempenho muito melhor do que Zemmour entre a  classe trabalhadora e a classe média baixa — a justificativa é que ela prestaria mais atenção a temas sociais.

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Segundo turno

Professor emérito de sociologia política na Escola Normal Superior de Paris (École Normale Supérieure), Michel Offerlé admitiu ao Correio que o acesso ao segundo turno — que deve ocorrer em 24 de abril, caso nenhum candidato alcance a maioria dos votos — ainda é "muito incerto". "Se dois ou três candidatos da extrema-direita forem mantidos na corrida eleitoral, o credenciamento para o segundo turno poderia exigir votações particularmente baixas, entre 15% e 17%. Zemmmour e Le Pen têm potencial para chegar a esse patamar. Pécresse, representante da direita, jogará tudo o que puder na contraposição a Macron, ao assumir um programa liberal conservador — em termos de segurança, imigração e economia", comentou.

Segundo Offerlé, é improvável que um candidato da esquerda, fragmentada, consiga mais do que 15% dos votos. "Uma coisa é certa: a abstenção será mais alta do que em outras eleições presidenciais. O tema da manutenção da eleição presidencial por meio do sufrágio universal raramente tem sido mencionado nos debates. Isso deveria ser questionado, pois agora os presidentes são eleitos com uma baixa porcentagem de eleitores registrados. Ainda assim, os poderes que ele alega ter são quase que onipotentes", criticou.

Por vários meses, o presidente francês tem aparecido na liderança, segundo as pesquisas. As sondagens apontam que Macron terá entre 23% e 25% dos votos no primeiro turno e será reeleito com entre 52% e 55% no segundo turno. No entanto, Offerlé lembra que as pesquisas se baseiam em intenções de votos mal cristalizadas. "Muitos dos eleitores consultados hesitam e não têm certeza se votarão. Além disso, a metodologia é cada vez mais criticada."

Arquivo pessoal - Michel Offerlé, professor emérito de sociologia política na Ecole Normale Supérieure (Paris)
Anne-Christine Poujoulat/AFP - Valérie Pécresse é aplaudida ao ser confirmada como candidata pelo partido Les Républicains
Stefano Rellandini/AFP - Éric Zemmour, da extrema-direita, discursa durante comício em Villepinte, perto de Paris
Arquivo pessoal - Jean-Yves Camus,cientista político do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris), em Paris
AFP - Emmanuel Macron, presidente da França, desponta na liderança em pesquisas contestadas por especialistas
AFP - Emmanuel Macron, presidente da França, desponta na liderança em pesquisas contestadas por especialistas