Foram 5.860 dias no comando da maior economia da Europa. Durante mais de 140 mil horas no poder, Angela Merkel ganhou o respeito da população e do mundo, ao enfrentar com sobriedade períodos turbulentos, como a crise migratória, em 2011, e a pandemia da covid-19. Hoje, "Mutti" (mamãe) Merkel transferirá o controle da Alemanha para o social-democrata Olaf Scholz, o qual governará sob uma coalizão com os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FDP). As bases da próxima gestão foram detalhadas em um documento assinado ontem pelas lideranças das três legendas.
O pacto da coalizão tripartite, intitulado "Ouse mais progresso", tem 177 páginas e foi amplamente discutido internamente, depois de ser apresentado em 25 de novembro. Scholz, de centro-esquerda, assumirá com uma série de desafios, como tentar debelar a crise econômica provocada pela pandemia do coronavírus e levar adiante medidas impopulares, como a adoção de restrições sociais e o debate sobre a vacinação compulsória contra a covid-19.
Ontem, Scholz prometeu que seu governo sairá em defesa de uma União Europeia forte e alimentará a aliança transatlântica, mas deixou em aberto a possibilidade de não acompanhar os Estados Unidos no boicote aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, sediados em Pequim. O futuro chanceler alemão transmitiu a ideia de continuidade de governo e fez um alerta: "A pandemia está longe de acabar".
A transferência de poder será formalizada durante sessão do Bundestag (Parlamento), o qual fará uma votação protocolar para referendar a vitória de Scholz nas eleições legislativas de setembro. A centro-esquerda retornará ao comando da Alemanha, o que não ocorria desde o governo de Gerhard Schröder (1998-2005).
Merkel recebeu homenagens do sucessor e de líderes europeus. "Angela Merkel foi uma chanceler que teve êxito", elogiou Scholz. "Permaneceu fiel a ela mesma durante 16 anos marcados por várias mudanças." O presidente francês, Emmanuel Macron, enalteceu o compromisso, a paciência e a capacidade de ouvir de Merkel. O russo Vladimir Putin, por sua vez, disse ter "muita confiança" na alemã, "uma pessoa muito aberta". A chanceler "faz realmente um esforço honesto para resolver as crises".
Antivacinas
A Alemanha enfrenta uma onda de mensagens antivacinação disseminadas pelas redes sociais e pelos aplicativos de mensagens, como o Telegram. Lançado por um grupo chamado "Corona-Vírus-Informação", um texto circula desde o fim de novembro e foi lido por mais de 25 mil pessoas. "O que aconteceu e as imagens que vimos são realmente terríveis, como país não devemos aceitar coisas parecidas", condenou Olaf Scholz.