O prêmio Nobel de Literatura, Abdulrazak Gurnah, denunciou nesta terça-feira (7) o caráter "desumano" da resposta dos governos britânico e francês aos migrantes que cruzam o Canal da Mancha para chegar ao Reino Unido, arriscando suas vidas.
"Tem algo bastante desumano, acho, na resposta destes dois governos", declarou durante coletiva de imprensa o escritor de 72 anos, premiado por seus escritos sobre imigração e colonização.
Um dia depois de a embaixadora sueca em Londres entregar oficialmente sua medalha, ele criticou em particular a resposta britânica, que admitiu conhecer mais do que a francesa.
"É bastante estranho ver a linguagem, a narrativa que se constrói contra ou sobre estas tentativas de travessia", acrescentou.
Esta posição do escritor, nascido em Zanzibar (Tanzânia) e refugiado na Inglaterra desde o fim dos anos 1960, ocorre em um momento em que o Parlamento britânico se prepara para aprovar uma polêmica reforma do direito ao asilo, e após a morte no fim de novembro de 27 pessoas, que se afogaram enquanto tentavam chegar à costa inglesa em um bote de borracha.
O naufrágio foi a pior tragédia migratória conhecida no estreito.
Entre as medidas previstas pela ministra do Interior britânica, Priti Patel, está o controverso plano de devolver os barcos às águas francesas, o que várias associações querem levar aos tribunais.
Abdulrazak Gurnah também lamentou "as grandes desigualdades" na resposta à pandemia do coronavírus entre os países ricos e pobres. "É trágico para aqueles que não podem ser ajudados, que morrem por falta de medicamentos", disse.
Sobre a falta de cumprimentos do governo britânico por seu Prêmio Nobel, o escritor, que se naturalizou britânico, explica que "grande parte da resposta a este prêmio tem sido para celebrar o reconhecimento a um escritor africano".
"Sendo assim, é possível que esta seja a explicação, que não vejam este escritor como alguém a quem deveriam parabenizar", disse.