A polícia de Hong Kong acusou, nesta quinta-feira (30), dois membros do jornal pró-democracia Stand News de "conspirarem para publicar" informações sediciosas, após uma operação contra o veículo, em um contexto de crescente deterioração da liberdade de imprensa no território semiautônomo chinês.
"O Departamento de Segurança Nacional da Polícia (...) acusou oficialmente dois homens de 34 e 52 anos e um meio digital de conspiração para publicar conteúdo sedicioso", declarou a polícia em um comunicado.
A mídia local noticiou que os acusados são o editor Patrick Lam e seu antecessor Chung Pui-ken. Ambos foram presos na quarta-feira (29), junto com outras cinco pessoas ligadas ao veículo.
A editora da publicação, Best Pencil, também está sendo processada.
Eles também foram acusados de promover "ódio", "desprezo" e "violência" contra o governo, além de "incitar à insatisfação".
Nesta quinta-feira, o tribunal se recusou a conceder fiança aos dois homens, provocando indignação na audiência, composta em grande parte por funcionários do Stand News.
Apenas Chung compareceu, acenando com a cabeça para aqueles que o apoiavam. Lam, de acordo com seu advogado, estaria no hospital.
Na quarta-feira, a polícia fez buscas na redação e nas residências de seus funcionários, apreendendo telefones, computadores, documentos e mais de US $ 64.000 em dinheiro, disse a polícia.Também bloqueou HK $ 61 milhões da editora.
A publicação anunciou seu fechamento poucas horas após a operação e as prisões.
A mídia local indicou que entre os presos estavam quatro membros da direção demitidos em junho, incluindo a localmente consagrada Denise Ho e a advogada Margaret Ng.
O Stand News é o segundo veículo pró-democracia a ser fechado em Hong Kong, após uma operação policial. Em junho, o Apple Daily, muito crítico de Pequim, fechou as portas, depois do congelamento de seus bens e da prisão de vários de seus executivos.
Condenação internacional
Sentado entre os presentes no julgamento, um jornalista do Stand News que trabalha lá desde sua criação em 2014 disse à AFP que se sentiu "vazio e impotente": "Não fizemos nada além de relatar os fatos."
Estados Unidos, Canadá e União Europeia condenaram a operação.
"Ao silenciar a mídia independente, a RPC (República Popular da China) e as autoridades locais minam a credibilidade e a viabilidade de Hong Kong", comentou o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
A chefe do governo de Hong Kong, Carrie Lam, reagiu, afirmando que concordava com uma parte da declaração de Blinken, em que ele diz que "jornalismo não é sedição".
"Jornalismo não é sedição, mas as ações e as atividades sediciosas e a incitação de outras pessoas por meio de ações públicas não podem ser toleradas sob o pretexto de cobertura jornalística", declarou Lam.
O governo chinês também respondeu às críticas.
"Algumas forças externas, sob o pretexto de defenderem a liberdade de imprensa, têm feito declarações irresponsáveis sobre a aplicação da lei em Hong Kong", comentou o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Zhao Lijian.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas descreveu a ação como "um ataque aberto à já violada liberdade de imprensa de Hong Kong".
"Editorialmente independente"
Fundado como uma publicação digital sem fins lucrativos em 2014, o Stand News foi indicado ao prêmio Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras em novembro deste ano.
"O Stand News era editorialmente independente e se dedicava a proteger os valores centrais de Hong Kong, como a democracia, os direitos humanos, a liberdade, o Estado de direito e a justiça", afirma o comunicado de despedida.
Durante os grandes protestos pró-democracia de 2019 - em alguns momentos violentos -, a polícia entrou em confronto com vários repórteres do Stand News.
Após essas manifestações, Pequim aumentou o controle sobre a ex-colônia britânica. A principal medida foi a imposição, em junho de 2020, de uma lei de segurança nacional usada para a detenção de vários opositores.
A Associação de Jornalistas de Hong Kong e o Clube de Correspondentes Estrangeiros expressaram "profunda preocupação" e pediram respeito à liberdade de imprensa.
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