Pesquisadores do Reino Unido estimaram em um estudo preliminar que uma dose de reforço da vacina contra a covid pode oferecer cerca de 85% de proteção contra formas graves da doença em caso de infecção pela variante ômicron.
As projeções foram feitas com base em um modelo matemático elaborado por cientistas da Universidade Imperial College London e, por serem baseadas em informações limitadas sobre a nova cepa, ainda têm alto grau de incerteza.
A eficácia das vacinas contra a ômicron deve ficar mais clara à medida que mais informações do "mundo real" sejam coletadas e estejam disponíveis para os cientistas e que eles consigam entender o nível de gravidade da doença causada pela nova variante, algo que ainda não é completamente conhecido.
Ainda assim, o experimento foi considerado importante para os autores por reiterar a importância da imunização no esforço de saúde pública para contenção da pandemia.
Segundo os achados preliminares, a proteção de uma terceira dose seria um pouco menor do que a das vacinas oferecidas contra versões anteriores da covid - ainda assim, suficiente para manter muitas pessoas fora do hospital.
Na última quinta-feira (16/12), o Reino Unido alcançou um novo recorde em seu programa de vacinação, com 861.306 doses de reforço ("booster") e terceiras doses aplicadas.
Isso significa que metade de todos os adultos do Reino Unido já recebeu uma dose de reforço, disse o primeiro-ministro do país, Boris Johnson.
As vacinas ajudam a ensinar o corpo a lutar contra a covid. As versões atuais em uso, contudo, não foram projetadas para combater a variante ômicron, que possui várias mutações, muitas delas na proteína que o vírus utiliza para se conectar às células humanas, a chamada espícula.
Assim, há preocupação de que a nova variante possa escapar parcialmente à imunização conferida pelas vacinas hoje disponíveis.
Para contornar o problema, a população do Reino Unido - e de outros países - está sendo aconselhada a receber uma dose de reforço para aumentar os níveis de anticorpos para combater o vírus, os chamados "anticorpos neutralizantes", aqueles capazes de impedir e neutralizar a ligação do vírus ao receptor da célula humana.
Estudos apontaram uma possível redução de 20 a 40 vezes na capacidade desses anticorpos de eliminar a ômicron em pessoas vacinadas com duas doses.
Cientistas ressaltam, contudo, que a eficácia da vacina "também é determinada pelos anticorpos de ligação, que evitam que o SARS-CoV-2 (vírus que causa a covid) entre nas células, e pelas células-T, que atacam as células infectadas e ajudam na produção de anticorpos", diz a revista científica Lancet.
O estudo preliminar da Imperial College, que ainda não foi revisado por pares, parte apenas do pressuposto de que haverá uma queda na eficácia da vacina contra a ômicron.
Com a dose de reforço, a proteção contra doenças graves da ômicron seria de 80% a 85,9%, em comparação com cerca de 97% para Delta - a outra variante atualmente dominante no Reino Unido.
No entanto, existem outras partes do sistema imunológico, como as células-T, que também podem combater covid. A modelagem não avaliou esse impacto.
"Uma incerteza remanescente é quão grave é a doença causada pela variante ômicron em comparação com a doença causada por variantes anteriores", acrescenta Azra Ghani, uma das responsáveis pelo estudo.
"Embora possa levar várias semanas para se entender esse aspecto completamente, os governos precisarão colocar em prática agora planos para mitigar qualquer impacto potencial."
"Nossos resultados demonstram a importância de administrar doses de reforço como parte de uma resposta mais ampla de saúde pública."
Na visão de Clive Dix, ex-presidente da Força-Tarefa de Vacinas do Reino Unido, "há uma enorme incerteza nessas estimativas, e só podemos ter certeza sobre o impacto dos reforços contra a ômicron quando tivermos mais um mês de dados do mundo real sobre internações, pacientes em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e óbitos".
"Ainda precisamos levar vacinas atuais e futuras para todo o mundo."
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