O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou nesta quarta-feira (8) novas restrições contra a variante ômicron do coronavírus, enquanto tenta resistir à indignação geral causada por uma festa de Natal supostamente celebrada em Downing Street quando este tipo de reunião estava proibido pela covid-19.
Na próxima sexta-feira (10), as máscaras voltarão a ser obrigatórias em todos os lugares fechados. Já na segunda, voltará o regime de teletrabalho e também serão exigidos passaportes sanitários para acessar lugares como casas noturnas.
Com 568 casos identificados no país, e uma cifra real "seguramente muito maior", "cada vez está mais claro que a ômicron se propaga muito mais rápido" que variantes anteriores, explicou Johnson em uma coletiva de imprensa, na qual teve que defender a credibilidade de seu governo, acusado ter violado as regras anticovid no fim do ano passado.
A polêmica em torno da suposta festa de Natal não para de crescer e deixou o premiê em apuros, já que uma pesquisa do SavantaComRes mostrou que 54% dos entrevistados acreditavam que ele deveria renunciar.
Na tentativa de acalmar os ânimos, o líder conservador anunciou na Câmara dos Comuns que pediu "ao secretário do gabinete que investigue" se membros de sua equipe deixaram de cumprir as normas contra a covid.
Caso seja comprovado, "haverá consequências", prometeu Johnson, afirmando "entender e compartilhar da indignação de todo o país" e que está "furioso" com o vídeo vazado para imprensa, no qual sua ex-porta-voz, Allegra Stratton, e outros colaboradores brincam sobre a suposta festa ilegal, uma "ofensa" pela qual Johnson pediu desculpas "sem reservas".
Stratton, uma renomada ex-jornalista de 41 anos escolhida em outubro de 2020 para se tornar o rosto visível da comunicação governamental, liderando todos os dias entrevistas coletivas televisionadas ao estilo da Casa Branca, foi a primeira vítima do escândalo.
Entre soluços na porta de sua casa, a colaboradora de Johnson, que é casada com o chefe de Política da revista conservadora The Spectator, da qual Boris Johnson - também ex-jornalista - foi editor-chefe, anunciou sua demissão diante das câmeras de televisão.
Queijo, vinho e risadas
A polêmica gira em torno de uma suposta reunião noturna celebrada em 18 de dezembro de 2020, na qual, segundo a imprensa, participaram até 50 membros do gabinete de Johnson, com comida, bebida e jogos.
Também se fala de outro encontro, uma festa de despedida na qual o próprio Johnson teria dado um discurso, e sobre a qual o primeiro-ministro não quis fazer comentários.
Nos últimos dias, ele negou qualquer violação das regras que, naquele momento, proibiam qualquer encontro social em espaços fechados. Mas o vídeo divulgado na terça-feira à noite pelo canal privado ITV, e visto por milhões de pessoas, parece contradizer essa versão.
Na gravação, Stratton, o assessor especial Ed Oldfied e outros auxiliares se preparavam, em 22 de dezembro, para perguntas comprometedoras, em um ensaio das novas entrevistas coletivas que nunca aconteceram.
Não havia jornalistas presentes e Stratton - que depois se tornou porta-voz da COP26 e assessora especial - responde a uma pergunta de Oldfied sobre uma suposta festa de Natal em Downing Street na sexta-feira anterior.
"Essa festa imaginária foi uma reunião de negócios" com "queijos e vinhos" e "sem distanciamento social", brinca a ex-porta-voz na gravação.
"O primeiro-ministro aprovaria uma festa de Natal?", questiona Oldfied, ao que Stratton reage confusa e bem-humorada.
Investigação policial
A oposição afirma temer que a população burle as novas regras ao considerar que os dirigentes do país não as respeitam. O líder do Partido Trabalhista Keir Starmer denunciou que Johnson e sua equipe "estão tratando o público com desprezo".
A Polícia de Londres, por sua vez, anunciou nesta quarta-feira à noite que não abrirá uma investigação "no momento", citando a ausência de provas e alegando que sua "política não é de investigar retrospectivamente as violações" das regras anticovid.
A polêmica também provocou indignação no seio do próprio Partido Conservador de Johnson, com críticas de muitos deputados sobre essa aparente violação das normas. Alguns, inclusive, lembraram que mentir na Câmara dos Comuns seria motivo para pedir a renúncia do primeiro-ministro.
Mas Johnson, provando mais uma vez sua habilidade para o 'escapismo político', limitou-se a afirmar que seus funcionários sempre lhe asseguraram o respeito às regras e acrescentou que, caso isso não tenha efetivamente ocorrido, os responsáveis seriam punidos.
Com 66 milhões de habitantes e mais de 145.500 mortes desde o início da pandemia, o Reino Unido é um dos países mais castigados pela covid-19 e seu governo foi duramente criticado pelas políticas equivocadas aplicadas no início da crise.
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