Kiev acusa Moscou de manter cerca de 115 mil soldados perto das fronteiras da Ucrânia, na Península da Crimeia anexada e em duas regiões do leste controladas por insurgentes pró-Rússia. Uma suposta iminente invasão russa colocou o mundo em alerta. Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que planeja novas políticas para impedir uma tentativa do Kremlin de anexação da ex-república soviética. "O que estou fazendo é reunir o que acredito ser o conjunto de iniciativas mais abrangentes e significativos para tornar muito, muito difícil para o senhor Putin seguir em frente e fazer o que as pessoas estão preocupadas que ele possa fazer", acrescentou Biden.
No Parlamento, em Kiev, o ministro da Defesa ucraniano, Oleksiy Reznikov, advertiu que "o momento mais provável para alcançar a justa preparação para a escalada será no fim de janeiro". Ele lembrou que a Rússia iniciou um "período de treinamento de inverno" e chegou a posicionar cerca de 100 mil militares nos arredores da fronteira. O Kremlin culpou a Casa Branca por alimentar as tensões, negou planos para uma ofensiva e confirmou que Putin e Biden manterão um contato bilateral na próxima semana. Os Estados Unidos admitiram que houve uma comunicação entre os dois países, mas não revelou a data da conversa telefônica.
"Putin está interessado em controlar a Ucrânia a fim de restaurar um tipo de União Soviética sob uma nova forma, que, sem a Ucrânia, seria impossível", advertiu ao Correio o ucraniano Olexiy Haran, professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla. "É impossível para Putin dominar a Ucrânia. Por isso, ele usa táticas para dividir e enfraquecer o meu país. A democracia ucraniana se revela um problema para Putin, que, como líder autoritário, gostaria de desacreditá-la. A simples existência de um grande país democrático, do outro lado da fronteira, representa uma ameaça para o Kremlin", concluiu.
Haran não descarta uma grande ofensiva militar, mas destaca que isso teria um custo enorme para Moscou. "Talvez vejamos uma ação de escopo limitado, como a tomada das cidades de Mariupol, de Kramatosrk ou de Khartsyzk. Isso seria perigoso para Putin, pois o Exército ucraniano se recompôs nos últimos sete anos", explicou o especialista. Ele crê que muitos soldados russos morreriam. "Além disso, veríamos um conjunto ainda maior de sanções contra a Rússia. Talvez Putin queira se engajar em uma guerra limitada híbrida, com a intensificação da pressão sobre a fronteira e a chantagem contra o Ocidente. Isso combinado com a crise energética e com ameaças à Europa", avalia o ucraniano.
Lilia Shevtsova, chefe do Programa de Política Doméstica Russa do Carnegie Endowment for International Peace (em Moscou), aposta que Biden aproveitará a cúpula virtual entre ele e Putin, na próxima semana, para tentar persuadir o líder russo a recuar e prometer a participação dos EUA na resolução da crise. "Putin não quer atacar a Ucrânia. Ele pretende usá-la para obter um acordo com os EUA sobre a agenda de segurança. Mas não sabemos se Biden está pronto para fazer concessões. Em qualquer caso, o norte-americano não pode prometer a Putin que a Otan não se expandirá", disse ao Correio, por e-mail.
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Turquia
Putin criticou o uso por parte do Exército ucraniano de drones militares fornecidos pela Turquia, em conversa telefônica com o homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan. Segundo Putin, a utilização de aeronaves não tripuladas armadas do tipo Bayraktar — contra os separatistas pró-Rússia em outubro — é uma "provocação".
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