Ante a propagação da variante ômicron do Sars-Cov-2 pelo mundo e o aumento dos casos de covid-19, a União Europeia (UE) avalia impor a obrigatoriedade da vacinação a todos os 445 milhões de cidadãos dos 27 países-membros do bloco.
"Dois ou três anos atrás, eu jamais imaginava testemunhar o que vemos agora, que vivemos essa horrível pandemia, temos as vacinas que salvam vidas, mas não estão sendo usadas adequadamente em todos os lugares. Isso tem um custo enorme", desabafou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia — o órgão executivo da UE.
"Um terço da população europeia não está imunizada. São 150 milhões de pessoas. Isso é muito. É compreensível e apropriado conduzir essa discussão agora: como podemos encorajar e potencialmente pensar sobre a vacinação obrigatória", acrescentou.
A advertência de Von der Leyen coincide com o registro, por parte da França, de 47.177 casos de infecções pela covid-19 em 24 horas — o maior número em sete meses. As autoridades francesas anunciaram que todos os viajantes de fora da União Europeia que desejarem entrar no país serão obrigados a apresentar um teste PCR negativo, mesmo que estejam vacinados.
Portugal também contabilizou 4.670 casos de contágios apenas na terça-feira, um recorde desde 5 de fevereiro. O país reinstaurou, ontem, uma série de medidas restritivas para desacelerar a pandemia. O uso de máscaras tornou-se compulsório em todos os ambientes fechados, e o passaporte de saúde é exigido para o acesso a hotéis, restaurantes e eventos esportivos. Para entrar em Portugal, será obrigatória a apresentação do certificado de imunização e de comprovante de teste negativo ou de recuperação de uma infecção anterior.
O epidemiologista alemão Tobias Kurth, diretor do Instituto de Saúde Pública da Charité Universidade de Medicina de Berlim, lamentou ao Correio o fato de muitas pessoas ainda considerarem não serem vacinadas. "Como isso reduzirá substancialmente a probabilidade de controlarmos a pandemia, a vacinação obrigatória é uma última opção", explicou.
Diretora de Saúde Pública da Universidade FH Joanneum University de Ciências Aplicadas, em Graz, na Áustria, Eva Maria Adamer-Konig afirmou à reportagem que as campanhas de imunização não funcionaram em algumas nações europeias. "Uma vacinação obrigatória poderia ser a solução, mas também é duvidoso que funcione", advertiu. "No entanto, a maioria das pessoas não vacinadas oferecerá resistência."
A especialista adverte que a ciência tem poucos dados para aferir como as mutações da ômicron desafiarão o nosso sistema imunológico. "As autoridades de saúde pública precisam acelerar as campanhas de informação e de imunização, ao tentarem atingir grupos vulneráveis. Uma vacinação obrigatória seletiva para certos grupos de profissionais pode ajudar", acrescentou Eva Maria.
Por sua vez, o também austríaco Thomas Czypionka, analista de políticas sanitárias do Instituto de Estudos Avançados de Viena, lembrou à reportagem que a UE não tem competência para obrigar a vacinação.
"A atenção à saúde é assunto de cada nação do bloco. Do ponto de vista empírico, tornar algo compulsório faz com que isso seja recebido com resistência. A vacinação obrigatória, na Europa, é tardia demais, pois o inverno começará em fevereiro. Além disso, as pessoas que se opõem à vacina farão de tudo para evitá-la", disse. Ontem, Czyionka sugeriu ao ministro da Saúde da Áustria uma abordagem gradativa. "Cada profissional de saúde faria uma conversa educativa com o cidadão, e as pessoas ficariam livres para receber o imunizante imediatamente ou em duas semanas."
A ômicron continua a se espalhar. Ontem, os EUA e a Arábia Saudita confirmaram os primeiros casos da nova cepa. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), o infectado nos EUA é um indivíduo da Califórnia que retornou recentemente da África do Sul. País mais populoso do continente africano, a Nigéria, por sua vez, detectou três infecções pela variante — todas em pessoas com histórico de viagem para a África do Sul.
Fronteiras
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, assegurou que o fechamento de fronteiras é uma medida "injusta" e "ineficaz" para a contenção da ômicron. "Com um vírus que realmente não tem fronteiras, as restrições de viagem que isolam qualquer país ou região não são apenas profundamente injustas e punitivas, mas também ineficazes", admitiu, ao pedir mais testes de diagnóstico em viajantes.
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Alerta máximo
Tobias Kurth
"A ômicron parece ser pelo menos tão infecciosa quanto a variante delta e menos influenciada pelas atuais vacinas. Para entender o cenário completo, no entanto, precisamos aguardar por mais dados. Creio que o teremos dentro de duas a três semanas. Até lá, devemos permanecer em alerta máximo e diminuir o número de infecções provocadas por qualquer uma das cepas."
Epidemiologista, diretor do Instituto de Saúde Pública da Charité Universidade de Medicina de Berlim
Reflexo na transmissão
Angelique Coetzee
"Eu defendo a vacinação compulsória, mas apenas para aquelas pessoas que trabalham com o público em geral. Essa medida ajudará a reduzir a transmissão da covid-19. Acredita-se que as pessoas vacinadas transmitam um terço da carga viral em comparação com aquelas não vacinadas."
Presidente da Associação Médica da África do Sul e primeira a identificar a ômicron no país