Itália, Reino Unido, República Tcheca e Alemanha confirmaram, no último sábado (27/11), os primeiros casos de infecção pela ômicron — identificada na África do Sul, na quarta-feira, a nova cepa do Sars-CoV-2 apresenta pelo menos 50 mutações em seu RNA e é considerada muito mais infecciosa do que a variante delta. Na sexta-feira, a Bélgica também tinha anunciado um diagnóstico positivo. A Holanda detectou a covid-19 em 61 passageiros de dois voos procedentes da África do Sul e não descarta a presença da ômicron entre eles. Assim que desembarcaram no Aeroporto Internacional de Schiphol, em Amsterdã, os viajantes foram colocados em vans e transferidos até um hotel, onde ficarão sob quarentena rigorosa.
Ao anunciar dois casos da ômicron no Reino Unido — relacionados entre si e com uma viagem para a África do Sul — o primeiro-ministro Boris Johnson impôs novas restrições para tentar conter a transmissão. Os britânicos terão que usar máscaras no transporte público e nos estabelecimentos comerciais a partir desta semana. Qualquer pessoa que chegar ao Reino Unido será obrigada a se submeter ao teste de PCR e ficar em isolamento até a liberação do resultado. Por sua vez, todos os indivíduos que tiverem contato com cidadãos diagnosticados com a ômicron obedecerão a uma quarentena. "Eu devo enfatizar isso: como sempre, com uma nova variante, há muitas coisas que apenas não podemos saber neste momento. Nossos cientistas aprendem mais, hora após hora. Parece que a ômicron se espalha muito rapidamente e pode se disseminar entre pessoas duplamente vacinadas", declarou o premiê.
A Itália descobriu a cepa em um homem procedente de Moçambique, que vive em Nápoles. As autoridades investigam um caso suspeito em um cidadão que completou o ciclo de imunização com duas doses. Dois casos positivos para a cepa foram detectados pela Alemanha no aeroporto de Munique — ambos vindos da África do Sul; uma suspeita envolve um desembarque em Frankfurt.
A rápida propagação pela Europa, além de Israel, Botsuana e Hong Kong, levou vários países, inclusive o Brasil, a proibirem a entrada de viajantes a partir da África do Sul e de nações da África Austral. Paquistão, Japão, Egito, Cingapura, Malásia, Jordânia, Rússia, Turquia, Estados Unidos, Canadá e França também impuseram restrições à entrada de cidadãos do sul do continente africano.
Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da África do Sul afirmou que a última rodada de proibições de viagens equivale a "punir o país pelo sequenciamento genômico avançado e pela capacidade de detectar novas variantes mais rapidamente". "A ciência excelente deveria ser aplaudida e não punida", acrescentou a nota.
Nos Estados Unidos, o infectologista Anthony Fauci — chefe da força-tarefa da Casa Branca contra a covid-19 — admitiu que a ômicron pode estar circulando dentro do país. A governadora de Nova York, Kathy Hochul, decretou estado de emergência, em antecipação à nova cepa. Ontem, Israel fechou as fronteiras para todos os estrangeiros por um período de duas semanas.
Virologistas
O Correio entrevistou virologistas sul-africanos sobre as medidas de restrição a voos anunciadas nas últimas 48 horas pela comunidade internacional e sobre o potencial de risco representado pela cepa ômicron. Wolfgang Preiser, diretor do Departamento de Virologia Médica da Universidade Stellenbosch, na Cidade do Cabo, advertiu que os vetos às viagens aéreas a partir da África do Sul e de outros países da África Austral não serão capazes de impedir a propagação da nova variante, caso seja tão facilmente transmissível quanto se teme. "No entanto, essas medidas poderão desacelerar a disseminação e nos fornecer mais tempo para melhor prepararmos a resposta. Ao soarmos o alerta tão cedo, demos a países a chance de detectarem, precocemente, esses casos importados. É o que acontece agora no Reino Unido, na Itália, na Bélgica e na Alemanha", explicou.
Reitor da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Witwatersrand, em Johannesburgo, Shabir A. Madhi disse que as mutações identificadas no RNA da ômicron sugerem que a nova variante possa ser ligeiramente mais transmissível do que a cepa delta, além de apresentar sensibilidade reduzida à atividade de anticorpos induzida por uma infecção anterior ou pelas vacinas. "O grau de comprometimento dos imunizantes provavelmente será diferente. Mas é provável que as vacinas funcionem bem na proteção contra casos graves provocados pela ômicron", afirmou o especialista sul-africano.
Saiba Mais