Uma nova variante do coronavírus detectada na África do Sul, aparentemente muito contagiosa, fez com que vários países europeus decidissem nesta sexta-feira (26) fechar as portas aos viajantes procedentes de vários Estados do sul da África, apesar da rejeição da Organização Mundial da Saúde (OMS) e horas antes do primeiro caso ser detectado na Bélgica.
O primeiro país a se blindar foi o Reino Unido, que anunciou na quinta-feira a proibição de entrada de pessoas procedentes de seis países da África: África do Sul, Namíbia, Lesoto, Zimbábue, Botsuana e Eswatini (ex-Suazilândia) a partir de hoje.
Nesta sexta-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou no Twitter que vai propor "ativar o freio emergencial para interromper os voos procedentes da região do sul da África" durante uma reunião prevista para as próximas horas.
Mas vários países, como Alemanha, França e Itália, não esperaram a determinação de Bruxelas.
A variante B.1.1.529 tem um número "extremamente alto" de mutações e "podemos ver que tem um potencial muito alto de disseminação", disse o virologista brasileiro Túlio de Oliveira, baseado na África do Sul e diretor do KRISP, centro especializado no estudo do coronavírus.
A África do Sul registrou até agora 22 casos dessa variante, de acordo com o Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis. Casos também foram relatados na vizinha Botswana, Hong Kong e Israel.
Primeiro caso da variante na Bélgica
As medidas dos países europeus foram tomadas pouco antes da Bélgica detectar o primeiro caso da nova variante em seu território.
“Temos um caso confirmado dessa variante. É alguém que veio do exterior e testou positivo no dia 22 de novembro e não foi vacinado”, disse o ministro da Saúde belga, Frank Vandenbroucke, em coletiva de imprensa.
A OMS, que deve determinar nesta sexta-feira se a variante deve ser classificada como "preocupante", não apoia as restrições de viagens anunciadas pelos países europeus, conforme explicou seu porta-voz, Christian Lindmeier.
A organização desaconselha o fechamento das fronteiras por enquanto. “Deixe-me reiterar nossa posição oficial: a OMS recomenda que os países continuem aplicando uma abordagem científica e baseada no risco (...). Neste estágio, a aplicação de restrições a viagens não é recomendada”, insistiu Lindmeier.
Além disso, a OMS anunciou que levará "várias semanas" para entender melhor o "impacto" dessa variante e determinar sua virulência.
Mas o laboratório alemão BioNTech, parceiro da Pfizer, quis avisar nesta sexta-feira que, se necessário, pode "ajustar sua vacina em menos de seis semanas e entregar as primeiras doses em 100 dias".
Segundo seu porta-voz, a empresa espera ter os primeiros resultados dos estudos que vão determinar se a nova variante é capaz de escapar da proteção da vacina em no máximo "duas semanas".
A Agência Europeia de Medicamentos disse, entretanto, que é "prematuro" planejar a adaptação das vacinas à nova variante.
O coronavírus provocou mais de 5,16 milhões de mortes em todo o mundo desde sua detecção na China no final de 2019, embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) considere que os números reais podem ser muito maiores.
A Europa, que já superou 1,5 milhão de mortos na pandemia, vive há semanas um preocupante aumento dos casos de covid-19.
Essa nova variante também fez com que as principais Bolsas europeias abrissem com quedas superiores a 3% e reduziu o preço do barril de petróleo.
Novas restrições
A notícia da nova variante complica o panorama da Europa, que se encontra novamente no olho do furacão da pandemia.
Nesta sexta-feira, o governo holandês planeja anunciar um endurecimento das restrições sanitárias, como o fechamento de bares e restaurantes às 17h00 locais e a polícia "se prepara" para novas manifestações e distúrbios.
O país, onde já está em vigor um confinamento parcial, viveu no fim de semana passado violentos protestos em diversas cidades, entre elas Roterdã e Haia.
Na Bélgica, o aumento dos casos e das hospitalizações vinculadas à covid é "maior que as previsões mais pessimistas", segundo o primeiro-ministro Alexander De Croo, cujo governo anunciou novas medidas nesta sexta-feira.
A partir de sábado, as boates devem fechar por três semanas. Além disso, as competições esportivas em recinto fechado voltarão a ocorrer sem público, os cafés e restaurantes terão de encerrar às 23h e os clientes terão de permanecer sentados, com um máximo de seis pessoas por mesa.
Na França, o governo também fez anúncios sanitários na quinta-feira, direcionados principalmente a acelerar a vacinação e a aumentar as precauções para evitar que o número de casos dispare.
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