A Europa corre contra o tempo para debelar uma quinta onda da pandemia da covid-19 que atinge, principalmente, a população não imunizada. A partir de quarta-feira, 1º de dezembro, Portugal entrará em situação de calamidade e passará a adotar uma série de restrições: o uso de máscaras será obrigatório em locais fechados; o acesso a restaurantes, hotéis, academias e eventos com locais marcados exigirá a apresentação do certificado digital de vacinação; e as visitas a asilos e hospitais somente serão autorizadas com um teste PCR negativo. O governo também encorajou o trabalho remoto. A República Tcheca, por sua vez, decretou, ontem, estado de emergência por 30 dias e fechou os mercados natalinos. Os hospitais do leste do país operam no limite da capacidade e começam a transferir pacientes. "A situação vai piorar nas próximas semanas, e espera-se um pico em torno do Natal", declarou o ministro da Saúde, Adam Vojtech.
A França anunciou uma campanha de dose extra de vacinação para todos os maiores de 18 anos e passou a obrigar máscaras em qualquer local público. Os testes negativos para a covid-19 terão validade de no máximo 24 horas, ao invés de três dias. Com 1.095.297 casos da doença e 12.180 mortes, a Áustria — país de 8,9 milhões de habitantes — iniciou um novo confinamento, na última segunda-feira. Lojas, restaurantes, mercados de Natal, salas de espetáculo e salões de beleza fecharam as portas em Viena.
Birgit Kofler, porta-voz da Sociedade Austríaca para Anestesiologia, Ressuscitação e Medicina de Cuidados Intensivos (Ögari), disse à reportagem que apoia o endurecimento das medidas preventivas. "As próximas duas semanas mostrarão se isso será suficiente para controlar a propagação do Sars-CoV-2", afirmou. Segundo ela, o lockdown ajudará a evitar a superlotação das unidades de terapia intensiva. "Infelizmente, a Áustria está entre as nações europeias com taxa de imunização relativamente baixa. Sabemos que há uma relação entre o índice de imunização e a incidência da doença, especialmente em face da alta presença da variante delta."
Saiba Mais
Certificado
A Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia (UE), pretende estabelecer validade de nove meses do passaporte de vacinação, caso o cidadão não tenha recebido a dose extra. Ao superar 100 mil mortes pelo coronavírus e um índice recorde de 75.961 contágios em 24 horas, a Alemanha conta com 69% da população totalmente imunizada e sofre com "sobrecarga aguda" de hospitais em algumas regiões. O social-democrata Olaf Scholz, sucessor de Angela Merkel na chefia de governo, reconheceu a situação sanitária como "terrível".
Para o professor de epidemiologia Tobias Kurth, diretor do Instituto de Saúde Pública da Charité Universidade de Medicina de Berlim, a maioria dos tomadores de decisão esperou tempo demais para reagir a um "aumento óbvio de infecções". "Como as pessoas precisam continuar a serem imunizadas com urgência, o único meio de romper as ondas contínuas da pandemia é um rígido lockdown por um curto período de tempo", admitiu ao Correio.
Diretor do Público, um dos principais jornais de Portugal, Manuel Carvalho afirmou ao Correio que o país enfrenta uma quinta onda. "Há três dias, Portugal registra 240 casos por 100 mil habitantes. O número de infecções tem crescido todos os dias. A exigência de máscaras em espaços fechados ou de certificados de vacinação é uma medida muito pouco ousada ante o crescimento do contágio. Mas isso tem uma explicação: ao contrário das ondas anteriores, o número de novos casos não corresponde ao de hospitalizações", explicou. "O fato de Portugal ter vacinado 87% da população com as duas doses tem garantido que não vejamos um grande aumento nos casos graves da covid-19."