O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, lamentou nesta quarta-feira (24), em seu retorno de Teerã, a "falta de acordo" com o Irã, em um momento em que a expansão de seu programa nuclear preocupa a comunidade internacional.
"As negociações foram construtivas, mas não chegamos a um acordo, apesar de todos os meus esforços", declarou Grossi à imprensa.
Após várias semanas de um "silêncio" que o responsável classificou como "surpreendente", Grossi disse que esperava alcançar algum progresso em um assunto complicado.
"Mas, claramente não. Não conseguimos avançar", reconheceu.
A AIEA está preocupada com a restrição das inspeções desde fevereiro por parte do governo iraniano, algo que "dificulta seriamente" as tarefas de verificação, segundo um relatório recente.
Outro assunto estagnado é a situação de quatro locais não declarados, onde materiais nucleares estão registrados.
Também preocupa o tratamento reservado aos inspetores da AIEA, já que alguns foram submetidos a "revistas excessivamente invasivas por parte dos agentes de segurança" iranianos, relata a Agência.
Cada país se compromete por lei a "proteger os agentes de qualquer intimidação", afirmou Grossi.
"Mas nossos colegas iranianos", alegando motivos de segurança, "lançaram uma série de medidas que são claramente incompatíveis com isso", acrescentou.
"O assunto voltou à tona, e espero que este tipo de incidente não volte a acontecer", destacou.
Entre outras autoridades de alto escalão de Teerã, Grossi conversou comMohammad Eslami, que dirige a Organização Iraniana de Energia Atômica.
Grossi admitiu que, devido ao andamento das negociações, decidiu cancelar a coletiva de imprensa prevista no aeroporto de Viena na terça-feira (23), antes de sua partida do Irã.
"Estamos nos aproximando do ponto em que não poderei mais garantir o conhecimento" sobre o estado do programa nuclear iraniano, disse o responsável.
A visita de Grossi ocorre uma semana antes da retomada das negociações em Viena para salvar o acordo internacional sobre a energia nuclear iraniana, suspensas desde junho.
EUA não ficará de "braços cruzados"
Os Estados Unidos não ficarão de "braços cruzados" se o Irã demorar a retornar ao acordo nuclear, alertou o enviado especial americano Rob Malley.
"Se começarem a ficar muito próximos da ideia de se sentirem confortáveis, então é claro que não estaremos preparados para ficarmos de braços cruzados", disse o negociador à National Public Radio (NPR), em trechos divulgados na terça-feira.
Concluído em 2015 entre Irã, por um lado, e Estados Unidos, Reino Unido, China, Rússia, França e Alemanha, por outro, o acordo representou para Teerã o levantamento de algumas das sanções internacionais que asfixiavam sua economia. Em troca, teve de reduzir drasticamente seu programa nuclear, que foi colocado sob controle rigoroso da ONU.
Em 2018, porém, sob a presidência do republicano Donald Trump, os Estados Unidos abandonaram o acordo, de forma unilateral, e reimpuseram suas sanções. Como consequência, Teerã foi abandonando, paulatinamente, os compromissos então assumidos.
O governo do presidente democrata Joe Biden abriu as negociações no início deste ano com a esperança de devolver os Estados Unidos ao acordo.
"Estamos preparados para voltar ao acordo e levantar todas as sanções que são inconsistentes com o mesmo. Então, se o Irã quiser voltar ao acordo, há uma forma de fazê-lo", destacou Malley.
"Se não quiser voltar, se continuar fazendo o que parece estar fazendo agora, que é arrastar os pés na mesa diplomática e acelerar seu ritmo no programa nuclear, se esse for o caminho que escolher, teremos que responder de acordo", sentenciou o diplomata.
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