O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, disse terça-feira (23) em Teerã que busca um "marco de entendimento" diante da preocupação do Ocidente com o aumento das reservas iranianas de urânio altamente enriquecido, em resposta às sanções americanas.
A visita de Grossi acontece uma semana antes da retomada, em Viena, das negociações para tentar salvar o acordo internacional sobre a energia nuclear iraniana, suspensas desde junho.
Um forte indicativo da tensão entre a ONU (à qual a AIEA está subordinada) e Teerã é que os jornais ultraconservadores do país ignoram completamente a visita de Grossi.
Após sua chegada a Teerã na segunda-feira (22), Grossi se reuniu hoje com o diretor da Organização Iraniana de Energia Atômica (OIEA), Mohammad Eslami, informou a agência de notícias iraniana Irna.
"O trabalho foi muito intenso (...) Continuamos nossas negociações para alcançar um marco de entendimento", afirmou Grossi em entrevista coletiva conjunta com Eslami.
"Também trabalhamos em outros temas (...) é muito importante enquadrar tudo na perspectiva do programa nuclear pacífico do Irã", disse o diretor da AIEA.
"Trabalhamos muito e estamos multiplicando nossos esforços para concluir as conversas hoje", acrescentou.
"Marco claro"
Em um breve comunicado divulgado nesta terça, a AIEA afirmou que "o estabelecimento de um quadro claro de cooperação entre a AIEA e a Organização Iraniana de Energia Atômica é um dos principais temas de discussão entre os dois responsáveis".
Em sua última visita a Teerã, em 12 de setembro, Grossi não se reuniu com o diretor da organização nuclear iraniana.
Nesta viagem, Grossi também se reuniu pela primeira vez com o novo ministro iraniano das Relações Exteriores, Hossein Amir Abdollahian, responsável pelo braço político da questão nuclear desde a posse do novo governo.
Abdollahian pediu à AIEA que evite politizar as discussões sobre o programa nuclear iraniano.
"A agência deve cooperar com Teerã no marco de suas funções técnicas e evitar tomar posições políticas", disse em um vídeo publicado pelo ministério.
"Nosso ministro insistiu na importância do trabalho técnico e imparcial da agência, que deve ignorar as pressões políticas estrangeiras", segundo um comunicado.
A viagem de Grossi a Teerã também se dá após a AIEA ter informado, na semana passada, um aumento significativo da quantidade de urânio altamente enriquecido produzido pelo Irã nos últimos meses.
Segundo um informe deste órgão consultado pela AFP, a quantidade de urânio acumulado é 12 vezes superior ao limite autorizado pelo acordo de 2015. No início de novembro, era estimado em 2.489,7 kg.
O Irã ultrapassou a taxa de enriquecimento de 3,87% estabelecida pelo acordo, tendo hoje 113,8 kg de urânio enriquecido a 20%, e 17,7 kg, a 90% - o suficiente fabricar fazer bombas.
Este relatório será estudado durante o Conselho de dirigentes da AIEA, previsto para a próxima semana, antes do início das negociações em Viena.
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