Com uma dívida pública de 33,1% e uma inflação duas vezes maior que o projetado pelo Banco Central do país (6%), o Chile vai às urnas, hoje, em uma das eleições mais incertas desde a redemocratização, na década de 1990. Quinze milhões de pessoas escolherão entre sete candidatos com perfis bastante diferentes — da extrema direita à extrema esquerda. Além do sucessor de Sebastián Piñera, serão eleitos 155 deputados, 27 dos 43 senadores e vereadores regionais.
Entre os favoritos, estão os representantes dos dois pólos antagônicos: Gabriel Boric, deputado da Frente Ampla de esquerda, e José Antonio Kast, político do Partido Republicano. De um lado, está o candidato mais jovem da história chilena, com 35 anos, e aliado do Partido Comunista. Do outro, o advogado 20 anos mais velho e admirador do modelo econômico do ditador Augusto Pinochet (1973-1990).
Como a divulgação de pesquisas é proibida por lei nos 15 dias que antecedem a votação, não há notícias recentes sobre intenção de voto. As últimas estimativas, divulgadas em 5 de novembro pelo instituto Cadem, indicaram 25% para Kast e 19% para Boric. Na enquete do grupo Pulso Ciudadano, liberada no mesmo dia, o candidato da extrema direita tinha 21%, e o da esquerda 17%, apontando para um cenário mais apertado.
Nesse panorama indefinido, também pesam as candidaturas do representante da coalizão de direita no governo, Sebastián Sichel, 44 anos, e da única mulher, a senadora e ex-ministra de Michelle Bachelet Yasna Provoste, 51, do Partido Democrata-Cristão. "A direita propõe ordem sem mudanças e Boric, mudanças sem ordem, ambos nos levam à incerteza", declarou Provoste na semana passada.
Mediocridade
"Há uma distorção produzida pela mediocridade da política, uma degradação da política", disse à agência France Presse a analista e pesquisadora Marta Lagos, diretora executiva da organização Latinobarómetro, explicando a falta de pesquisas confiáveis e a ascensão da extrema direita. Além de imprevisível, a eleição ocorre em meio à elaboração de uma nova Constituição, ao aumento da inflação para 6% e ao colapso dos partidos tradicionais, como reflexo de uma crise de confiança institucional.
Uma parte importante dos 19 milhões de habitantes apoia, desde 2019, a demanda por um Estado presente nas questões sociais, melhor acesso à educação e saúde pública, e mudar o sistema previdenciário, atualmente nas mãos de fundos privados. Mas as expressões mais violentas, com vandalismo nos protestos e discursos da extrema esquerda, impulsionaram a ascensão da direita nos últimos meses.
As eleições presidenciais no Chile são definidas no segundo turno há duas décadas, e agora não deverá ser diferente. Especialmente porque, desde 2012, quando se estabeleceu o voto voluntário, a participação eleitoral tem sido baixa. No país, onde venezuelanos e peruanos constituem a primeira e a segunda comunidades estrangeiras, cerca de 400 mil estrangeiros residentes há mais de cinco anos no país poderão votar, segundo o Serviço Eleitoral.