A poucos dias de transferir o poder para o social-democrata Olaf Scholz, a chanceler Angela Merkel anunciou novas restrições sociais, ao admitir que a Alemanha enfrenta "uma situação dramática", atingida com "força total" pela quarta onda da covid-19. Portugal, depois de registrar 2.398 casos e 13 mortes em 24 horas, avalia a retomada do uso obrigatório de máscaras, mesmo em espaços abertos. Eslováquia e República Checa proibiram, desde ontem, o acesso de pessoas não imunizadas em bares, restaurantes, lojas de produtos não essenciais e eventos públicos.
O primeiro-ministro eslovaco, Eduard Heger, classificou o plano de "lockdown para os não imunizados". Com apenas 45% da população com o ciclo de imunização completo, a Eslováquia enfrenta saturação do sistema hospitalar. A chamada "pandemia dos não vacinados" também golpeia República Tcheca, Suécia, Dinamarca, Bélgica, Reino Unido, Grécia, Áustria e Irlanda, com o aumento no número de infecções.
O governo tcheco reforçou as medidas sanitárias. "Nos inspiramos no modelo bávaro, cuja base é que só os vacinados ou os que passaram pela covid podem ter acesso aos serviços, hotéis e concentrações" de pessoas, informou o primeiro-ministro, Andrej Babis, no Twitter. "O objetivo principal destas medidas é motivar as pessoas a se vacinarem", declarou o ministro da Saúde, Adam Vojtech.
Em entrevista ao Correio, o professor de epidemiologia da Universidade de Lisboa, Manuel Carmo Gomes, atribuiu o aumento de casos à alta transmissibilidade da variante delta do Sars-Cov-2. "Esta cepa é mais contagiosa do que infeções como a difteria, a poliomielite e a varíola (esta já erradicada) e tão contagiosa como a varicela", explicou. Para conter a variante, o especialista português defende uma elevada proteção imunológica da população e a manutenção das medidas de distanciamento.
"Foram muito poucos os países que conseguiram cumprir com ambas exigências simultaneamente. Uns conseguiram proteção vacinal alta, mas flexibilizaram muito as medidas de distanciamento (Reino Unido, Holanda e Dinamarca). Outros, como Áustria, Grécia e Alemanha, não conseguiram sequer altas coberturas vacinais", avaliou Gomes. Ele admite que Portugal e Espanha têm mantido a situação mais controlada. "Mas o número de casos começar a subir nos dois países, por causa do relaxamento", lamentou.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) advertiu, ontem, que a Europa precisa "fechar a lacuna" entre vacinados e não vacinados, como forma de impedir uma temida quarta onda — a qual, na opinião de Merkel, está em andamento. "Estamos vendo um número excessivo de casos... Especialmente entre os não vacinados", disse Marco Cavaleri, diretor de estratégia da entidade. Ele denunciou que as taxas de imunização em alguns países são "incrivelmente baixas". "Temos que fechar essa lacuna e trabalhar para que o maior número possível de pessoas sejam vacinadas."
"Nós precisamos interromper rapidamente o aumento exponencial" de novas infecções e da ocupação de leitos em unidades de cuidados intensivos, declarou Merkel, pouco depois de uma reunião de crise com os chefes de governo regionais. Entre quarta-feira e quinta-feira, a Alemanha contabilizou 65.371 infecções pela covid-19, um aumento sem precedentes desde o início da pandemia.
Norma
O governo aplicou a "norma 2G" — ela autoriza que apenas os imunizados e os curados acessem espaços públicos, como restaurantes, casas de espetáculos e boates, quando o limite de hospitalização superar três pacientes de covid para cada 100 mil habitantes. "Muitas das medidas que agora são necessárias não teriam sido se mais pessoas se vacinassem", afirmou Merkel. Pouco mais de 67% da população completou o ciclo de vacinação. As autoridades encorajam a administração da terceira dose.
Ontem, o primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, fez um pronunciamento em rede nacional no qual exortou os cidadãos a se imunizarem o quanto antes. O chefe de governo anunciou que as restrições aos não vacinados serão ampliadas. A partir de segunda-feira, essa categoria não poderá frequentar espaços fechados, como museus, teatros, salas de cinema e academias. A medida vigorava para restaurantes. "A Grécia está de luto por mortes desnecessárias", comentou o premiê.
Ante um rápido aumento nas taxas de infecção, a Bélgica determinou o retorno ao trabalho a distância durante quatro dias da semana, além do uso obrigatório de máscaras — principalmente para quem permanecer de pé dentro de ambientes fechados. Os belgas terão que apresentar certificado de vacinação ou testagem negativa para entrarem em cafeterias e em restaurantes.
Por sua vez, o primeiro-ministro da Irlanda, Micheál Martin, admitiu que, não fosse o sucesso da campanha de vacinação, sem dúvida, o país estaria em lockdown completo. Ele lembrou que todos os restaurantes, bares e danceterias terão que fechar as portas à meia-noite, sob pena de perderem a licença.