A União Europeia (UE) afirmou nesta sexta-feira (12) que foram registrados "progressos" para frear o fluxo de migrantes na fronteira entre Belarus e Polônia, depois que a Turquia proibiu que cidadãos de Síria, Iraque e Iêmen embarquem em voos com destino a Minsk, mas a tensão se mantém viva.
Sob a crescente pressão dos países ocidentais, que acusam Belarus de orquestrar a crise, a ex-república soviética realizou exercícios militares conjuntos com a Rússia e advertiu que retaliaria "severamente" qualquer ataque.
A crise migratória na Europa Oriental preocupa a toda a comunidade internacional. A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, que está de visita em Paris, denunciou nesta sexta-feira o que classificou de "ações muito preocupantes" do presidente bielorrusso Alexander Lukashenko.
A UE acusa Belarus de organizar os deslocamentos de migrantes, entregando vistos e até fretando voos, para tentar criar uma crise migratória na Europa, em resposta às sanções internacionais contra o governo de Lukashenko.
As autoridades europeias tentam há vários dias conter o fluxo de chegadas de Belarus e mantêm contatos com governos de países do Oriente Médio para tentar convencê-los a impedir o embarque dessas pessoas em voos com destino a Minsk.
A Turquia, um importante centro de tráfego aéreo entre Oriente Médio e Europa, proibiu nesta sexta-feira que cidadãos de Síria, Iraque e Iêmen embarquem em voos dentro de seu território com destino a Belarus, "até segunda ordem".
Pouco depois, o Iraque informou que vai repatriar os migrantes de seu país que estão bloqueados na fronteira entre Belarus e Polônia, "caso eles desejem".
"Estamos vendo progressos em todas as frentes", afirmou o vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas.
Esta restrição demonstra que as iniciativas europeias "já estão registrando certo êxito", afirmou o governo da Alemanha.
Paraquedistas russos
Apesar da pressão exercida pelo ocidente, Lukashenko pode contar com o apoio de seu principal aliado, o presidente russo, Vladimir Putin.
Tropas aéreas russas e bielorrussas organizaram nesta sexta-feira (12) "exercícios de combate" perto da fronteira entre Belarus e Polônia, anunciaram os governos de Minsk e Moscou. Durante as operações, dois soldados russos morreram acidentalmente devido a problemas com seus paraquedas.
As manobras, assim como a mobilização de militares na fronteira por parte de Minsk e Varsóvia, provocam o temor de uma escalada no leste da Europa, cenário de uma luta de influências entre a Rússia e o Ocidente.
Além disso, Bruxelas e Washington expressaram nesta sexta-feira sua preocupação com os movimentos militares da Rússia mais ao sul, na fronteira com a Ucrânia.
Após uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU na quinta-feira, vários países, incluindo Estados Unidos, França e Reino Unido, acusaram Belarus de tentar "desestabilizar os países vizinhos" e "desviar a atenção de suas próprias e crescentes violações dos direitos humanos".
No ano passado, UE e Estados Unidos adotaram uma série de sanções contra Belarus, após a brutal repressão de um movimento de protesto organizado depois da polêmica reeleição de Lukashenko, que está no poder desde 1994.
A UE anunciou que divulgará novas medidas contra Lukashenko na próxima semana.
Belarus ameaçou responder às possíveis sanções com a suspensão do funcionamento do gasoduto Yamal-Europa. Esta infraestrutura atravessa o país e fornece gás russo, combustível vital para os europeus em plena crise energética.
O Kremlin garantiu, porém, que as entregas de gás russo para a Europa não serão suspensas, apesar das ameaças de Lukashenko.
Civis como munição
Na fronteira entre Belarus e Polônia, milhares de migrantes estão bloqueados entre as autoridades bielorrussas, que os obrigam a avançar, às vezes com tiros para o alto, segundo Varsóvia, e os guardas poloneses, que impedem o seu avanço.
Segundo agentes poloneses na fronteira, entre 3.000 e 4.000 migrantes -entre eles mulheres e crianças- permanecem do lado bielorrusso, e outros continuam chegando a cada dia que passa. "O tamanho do problema não diminui", afirmaram.
Nesta sexta-feira, o diretor para a Europa da Organização Mundial da Saúde (OMS), Hans Kluge, afirmou que está "muito preocupado" com as milhares de pessoas vulneráveis bloqueadas "na terra de ninguém [...] à mercê do clima, à medida que se aproxima o inverno".
De acordo com o jornal polonês Gazeta Wyborcza, dez migrantes morreram na região desde o início da atual crise.
O porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) anunciou na quinta-feira a entrega de ajuda humanitária de emergência, incluindo cobertores, roupas de inverno e fraldas para as crianças.
O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, acusou o regime de Lukashenko de adotar um "terrorismo de Estado" e afirmou que seu país é palco de um "novo tipo de guerra", que usa os civis como "munição".
Para enfrentar o fluxo de pessoas na fronteira, a Polônia, país-membro da UE e do espaço de livre-circulação Schengen, enviou 15.000 militares para a área, ergueu uma cerca de arame farpado e aprovou a construção de um muro.
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