A afirmação do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, de que os opositores presos são "apátridas" a serviço dos Estados Unidos disparou os alarmes sobre o futuro incerto dos detidos: o exílio ou seu uso como "moeda de troca".
Durante um ato oficial no qual comemorou sua reeleição, Ortega, que está há 14 anos no poder e assumirá outro mandato de cinco anos, chamou na segunda-feira (8) os opositores presos de "filhos da p*** dos imperialistas ianques".
"Eles deveriam ser levados aos Estados Unidos, não são nicaraguenses, deixaram de sê-lo. Não têm pátria", afirmou Ortega, que foi reeleito no domingo com 76% dos votos.
Desde junho, em plena campanha eleitoral, 39 opositores foram detidos, entre eles sete candidatos presidenciais, acusados de conspiração, traição à pátria, minar a soberania e crimes de lavagem de dinheiro, com base em leis aprovadas em dezembro de 2020 pela maioria governista no Congresso.
A esse grupo se somam outras 120 pessoas presas por participação nos protestos contra o governo em 2018, cuja repressão deixou pelo menos 328 mortos e mais de 100.000 exilados, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Ortega, que completa 76 anos nesta quinta-feira, acusa os opositores de "criminosos" e "terroristas", que se organizaram com a ajuda dos Estados Unidos para dar um golpe de Estado com os protestos de 2018 e que, segundo ele, tentaram conspirar novamente para impedir as eleições.
Para a presidente do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (CENIDH), Vilma Núñez, a eventual expulsão dos opositores do país e a retirada da nacionalidade é uma "violação de direitos".
Os familiares dos opositores presos, por sua vez, denunciaram que seus parentes estão isolados, sem banho de sol, alimentação adequada, com perda de peso extrema e em uma situação jurídica incerta.
Além disso, cinco associações de familiares advertiram que os insultos de Ortega aos detidos representam um "risco" à segurança dos mesmos.
"Nos preocupa que estes novos insultos sejam interpretados de maneira implícita como uma 'ordem de execução' para que policiais e agentes penitenciários se sintam legitimados a cometer atos de vingança política contra os detidos", alertaram os familiares, em um comunicado emitido na terça-feira (9).
Em declarações à AFP por telefone, a presidente da CIDH, Antonia Urrejola, considerou "preocupante" que, após as eleições, Ortega ostente um discurso "estigmatizante" contra os detidos.
"Trata-se da criminalização das vozes dissidentes, sem garantias mínimas do devido processo legal e em condiciones carcerárias que não cumprem os padrões mínimos de direitos humanos, chegando a maus tratos e, inclusive, tortura", observou Urrejola.
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