Países da União Europeia (UE) se articulam para impor sanções à Bielorrússia, acusada de enviar milhares de migrantes às fronteiras externas do bloco, especialmente com a Polônia. A situação se agravou na região, depois que o governo polonês anunciou uma operação contra os estrangeiros ilegais reunidos na fronteira com a Bielorrússia e a detenção de 50 pessoas. Varsóvia acusa Minsk e Moscou de inflamarem uma crise às portas da Europa. A Polônia chegou a atacar a Bielorrússia por "terrorismo de Estado".
A chanceler alemã, Angela Merkel, telefonou ontem para o presidente russo, Vladimir Putin, e pediu-lhe uma ação contra a "instrumentalização dos migrantes por parte do governo da Bielorrússia", afirmou o porta-voz da chefe de governo, Steffen Seibert.
Entre 3 mil e 4 mil migrantes, em sua maioria curdos do Oriente Médio, estão aglomerados há vários dias em uma área de bosques na fronteira leste da UE, sob temperaturas congelantes e diante de tropas polonesas enviadas à região para impedir a passagem. Com a presença de militares dos dois lados da fronteira, existe o temor de uma escalada que poderia resultar em confrontos entre Estados.
Os europeus acusam o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, de atrair migrantes do Oriente Médio para o seu país para, depois, enviá-los à fronteira com a Polônia, como represália pelas sanções da UE contra seu país — impostas devido à repressão aos opositores depois da eleição presidencial de 2020.
Punição
De acordo com a União Europeia, as autoridades bielorrussas praticam "tráfico de seres humanos". Fontes diplomáticas indicaram que o bloco pretende adicionar cerca de 30 pessoas e entidades — incluindo a companhia aérea estatal bielorrussa Belavia e agências de viagens — à sua lista de sancionados com o congelamento de bens e a proibição de viajar para o território europeu.
Os especialistas da UE vão tentar finalizar a lista nos próximos dias, antes do encontro dos chanceleres em Bruxelas, apontaram fontes diplomáticas. A UE já impôs sanções a 166 pessoas ligadas ao governo bielorrusso, incluindo o presidente Alexander Lukashenko e seu filho, pela repressão de opositores durante os protestos que eclodiram após as eleições presidenciais do ano passado.
A UE tenta agora travar o fluxo de migrantes para a Bielorrússia, ao estabelecer contatos com vários países, especialmente no Oriente Médio. A expectativa é a de convencer os governos a dissuadirem seus cidadãos de tomarem voos para Minsk.
O bloco analisa a possibilidade de sancionar as companhias aéreas de países terceiros que transportarem esses migrantes para Bielorrússia. No entanto, um diplomata europeu disse à agência France-Presse (AFP) que ainda "não está claro" se existe vontade política para fazê-lo.
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, disse que um enviado de Bruxelas visitará vários países — incluindo Emirados Árabes Unidos, Líbano, Iraque e Turquia — para pressioná-los a ajudar a prevenir tais viagens.
Detenções
As autoridades da Polônia anunciaram um aumento de tentativas de atravessar a fronteira e que algumas pessoas conseguiram chegar ao país. Nas últimas 24 horas a polícia prendeu mais de 50 pessoas perto da fronteira por entrada ilegal no território, informou à AFP Tomasz Krupa, porta-voz do departamento regional de Podlaskie.
Na mesma região, de acordo com a porta-voz dos guardas de fronteira, Katarzyna Zdanowicz, três pessoas — um russo, um lituano e um sueco — foram detidos por terem contribuído para a "organização de travessias ilegais". Eles podem ser condenados a oito anos de prisão.
O Ministério da Defesa polonês afirmou que as autoridades bielorrussas intimidam os migrantes para que atravessem a fronteira à força. A pasta divulgou dois vídeos no Twitter que mostram um tiro supostamente disparado do lado bielorrusso da fronteira por um homem de uniforme.
Entenda a crise migratória
A situação na fronteira
Milhares de migrantes que desejam entrar na União Europeia (UE) estão bloqueados nos 400km de fronteira que Bielorrússia e Polônia compartilham. Pelo menos 2 mil deles aguardam em um acampamento improvisado em frente à cidade polonesa de Kuznica. Os migrantes estão em situação insalubre. À noite, as temperaturas caem abaixo de zero grau Celsius.
Baixas
Nas últimas semanas, pelo menos 10 pessoas morreram, sete delas em território polonês, enquanto tentavam cruzar a fronteira, de acordo com o jornal Gazeta Wyborcza.
Origem
São pessoas que fugiram de conflitos e da miséria no Oriente Médio e na África. Grande parte deles são curdos do norte do Iraque. Nos últimos três meses, 1.600 pessoas vieram do Curdistão iraquiano para Bielorrússia, graças a um visto de turista, de acordo com a Associação de Refugiados do Curdistão. Também há sírios que querem deixar para trás um país devastado por mais de 10 anos de guerra.
Acusação contra a Bielorrússia
Bruxelas acusa o presidente Alexander Lukashenko, que governa com mão de ferro desde 1994, de ter organizado a crise migratória para se vingar das sanções internacionais contra ele. As sanções foram impostas após sua polêmica vitória nas urnas em 2020, que foi seguida por massivas manifestações reprimidas com violência. Lukashenko nega. No entanto, no final de maio, ele alertou os europeus que seu país não iria mais impedir "viciados em drogas e migrantes" que querem ir para a Europa.
Reação da Polônia
Varsóvia denuncia um "ataque" de Minsk e implantou 15.000 soldados na fronteira. Também impôs o estado de emergência na área de fronteira e autorizou os soldados a repelir os migrantes. Outra questão importante nesta crise é a cooperação entre a Polônia e a União Europeia, cujas relações são tensas. Bruxelas demonstrou recentemente a sua preocupação com a situação do Estado de direito neste país-membro.
O fator Rússia
Acusada pela Polônia de orquestrar esta crise, a Rússia por enquanto optou pela discrição. O regime de Lukashenko, enfraquecido por sanções, depende fortemente do apoio financeiro, político e militar da Rússia.
Premiê da Suécia renuncia e mulher pode assumir
Anders Wiklund/TT News Agency/AFP
O primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven, apresentou sua renúncia, ontem, o que inicia o processo de sucessão. A ministra das Finanças, Magdalena Andersson, deve substituí-lo na chefia de governo até as eleições de 2022. Após sete anos no cargo, o líder social-democrata se viu enfraquecido por uma crise política em meados de 2021. Em agosto, anunciou que renunciaria em novembro, dez meses antes das eleições marcadas para setembro do próximo ano.
Magdalena Andersson, eleita no começo de novembro para a direção dos social-democratas no lugar de Löfven, deve suceder-lhe como premiê. Para isso, precisará do voto favorável do Parlamento, em uma data ainda não definida.
Embora a Suécia seja considerada um "paraíso" para a igualdade de gênero, o país nunca teve uma primeira-ministra. "O povo sueco quer uma sucessão rápida", disse Löfven, que se despediu em Bruxelas no fim de outubro, ao mesmo tempo que a chanceler alemã, Angela Merkel. Este ex-soldador de 64 anos com jeito de boxeador devolveu o poder à esquerda em 2014, repetindo-se como primeiro-ministro depois de uma aproximação com a centro-direita nas eleições de 2018.
Hábil negociador, conseguiu, segundo especialistas, devolver seu partido — então "em completo caos" — aos trilhos. "Mas ele nunca foi considerado um líder visionário para o futuro", embora "precisássemos dele quando o partido estava em apuros, e ele fez um bom trabalho", explicou Anders Sannerstedt, professor de Ciência Política da Universidade de Lund, à agência France-Presse.
Ela teve de enfrentar o crescimento da extrema-direita, uma crise migratória e sanitária, e assumiu até o fim a estratégia divergente da Suécia em relação à covid-19. Sua posição se enfraqueceu em junho, depois de uma votação de desconfiança que pôs fim ao governo.
Após uma semana de crise, Löfven foi devolvido ao cargo pelo Parlamento, em 7 de julho, mas permaneceu em uma posição frágil. A situação levou-o antecipar que deixaria o poder.
Negociações
Liderados por Magdalena Andersson, os social-democratas enfrentarão o partido conservador Moderados, de Ulf Kristersson, que se aproximou da sigla anti-imigração Democratas da Suécia (SD), de Jimmie Åkesson, e está disposto a governar, com seu apoio no Parlamento.
Para se tornar a primeira mulher a liderar a Suécia, Andersson precisa não ser rejeitada por uma maioria absoluta (175 cadeiras do total de 349) dos membros do Parlamento.