Europa

OMS aponta volta da Europa ao epicentro da covid-19

Hans Kluge, diretor regional da Organização Mundial da Saúde, considera "muito preocupante" o ritmo de transmissão nos 53 países. Alemanha tem o maior número de infecções diárias desde o início da pandemia

A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu, ontem, que a Europa voltou a ser o epicentro da pandemia da covid-19 — o mesmo status quo de um ano atrás — e estima que o continente possa registrar 500 mil mortes até 1º de fevereiro de 2022. "O ritmo atual de transmissão nos 53 países da região europeia coberta pela OMS é motivo de grande preocupação. Os casos da covid-19 mais uma vez se aproximam de números recordes, com a variante delta (...) continuando a dominar a transmissão em toda a Europa e a Ásia Central", declarou Hans P. Kluge, diretor regional da OMS para a Europa. 

De acordo com Hans Kluge, o aumento de casos de contágio do Sars-CoV-2 aborda todas as faixas etárias. Atualmente, 75% das mortes envolvem europeus com 65 anos ou mais. Os índices de hospitalização devido à covid-19 mais que dobraram em uma semana. "Os países da Europa e da Ásia Central estão em diferentes estágios da imunização. Na média, somente 47% da população completou o ciclo vacinal. Enquanto oito países excederam 70% de cobertura, em duas nações a taxa permaneceu abaixo de 10%", disse o diretor. 

O sinal de alerta foi dado na Alemanha, que enfrenta uma "quarta onda maciça" da covid-19. Ontem, o país contabilizou 33.949 casos em 24 horas, segundo o Instituto Robert Koch. É o maior número de infecções em um dia, superando o primeiro dia da pandemia, em 18 de dezembro de 2020, quando 33.777 alemães contraíram a covid-19. Os dados oficiais indicam que apenas 66,9% da população da Alemanha está totalmente imunizada. 

Em entrevista ao Correio, Hajo Zeeb — especialista do Instituto Leibniz de Pesquisa Preventiva e Epidemiologia (em Bremen, norte da Alemanha) — explicou que o aumento de casos se deve a uma conjunção de fatores. "As taxas de vacinação ainda são insuficientes. Se na Alemanha o índice é de 66,9%, no Leste Europeu mostra-se muito menor. Houve um relaxamento das regras de distanciamento social, o que pode ser observado nos estádios de futebol lotados, mas também no cotidiano. No entanto, isso difere entre países. Por aqui, ainda estão mantidas algumas restrições para entradas em espaços públicos, restaurantes etc.", afirmou.

Zeeb também cita a busca pela imunidade de rebanho como uma das responsáveis pelas infecções. "No geral, há boas evidências de que os novos casos da covid-19 têm se concentrado muito mais entre aquelas pessoas não vacinadas", disse.

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Inverno

O epidemiologista alemão admite que a chegada do inverno à Europa, em 21 de dezembro, é vista com preocupação pelas autoridades sanitárias. De acordo com Zeeb, em 2020, o frio acelerou a transmissão do coronavírus no continente. "Isso já está acontecendo, desta vez com a variante delta, mais transmissível. Há uma perspectiva um tanto sombria para o inverno, que oficialmente nem começou", advertiu.

Ante esse cenário, ele defende a urgência da dose de reforço para os europeus. "Dados coletados em Israel mostram que a nova dose aumenta a imunidade de forma substancial e ajuda a proteger idosos e pessoas com alguma comorbidade. É verdade que o equilíbrio deve ser mantido, e os países com baixas taxas de vacinação também precisam ser apoiados fortemente, ou mesmo preferencialmente antes que as nações apliquem doses de reforço para todos", acrescentou Zeeb.

A chanceler alemã, Angela Merkel, na reta final de mandato, se disse "muito preocupada" com o cenário da covid-19 no país e "muito triste" ante o número elevado de pessoas com mais de 60 anos que não se vacinaram.

Além da Alemanha, a Croácia também atingiu um novo recorde diário, com 6.310 diagnósticos positivos para a covid-19. O número de mortes diárias na Europa tem aumentado por quase seis semanas consecutivas. O salto de óbitos foi impulsionado pelos números da Rússia (8.162 mortes nos últimos sete dias; 8% comparado com a semana anterior), da Ucrânia (3.819 mortos, 1%) e Romênia (3.100 mortos, 4%).

Hans Kluge confirmou que "a maioria das pessoas hospitalizadas e que morrem por covid-19 hoje não estão totalmente vacinadas". Em meio a recorde de infecções, a Áustria ampliou as restrições ao distanciamento social. Viena proibirá o acesso de não vacinados a restaurantes, bares e cabeleireiros. A Europa contabiliza 1,4 milhão de mortes — ou 27% do total de óbitos no planeta.