A Conferência do Clima da ONU (COP26) entrou, nesta quarta-feira (3), na etapa de negociações com críticas mútuas entre os principais protagonistas e anúncios de compromissos financeiros, sob o olhar desconfiado dos ambientalistas.
Após as acusações feitas pelo presidente americano Joe Biden contra a China e a Rússia, cujos líderes estiveram ausentes no início da COP26, os dois países reagiram de forma vívida.
"Não concordamos com as acusações dos Estados Unidos", afirmou em Moscou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Ele disse que a Rússia está adotando ações contra a mudança climática "coerentes, refletidas e sérias".
O presidente chinês Xi Jinping também não viajou à Escócia e foi acusado por Biden de "dar as costas" ao "gigantesco" problema do aquecimento global que ameaça fugir do controle.
"Os atos falam mais que as palavras", respondeu em Pequim o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin.
Cancelada no ano passado devido à pandemia de covid-19, a COP26 de Glasgow tem a difícil missão de desenvolver os compromissos adotados no Acordo de Paris de 2015, que estabeleceu como grande objetivo internacional limitar o aquecimento do planeta a +1,5ºC na comparação com a era pré-industrial.
Os cientistas advertem, no entanto, que com as medidas atuais a Terra se encaminha para um aumento de +2,7ºC, o que teria consequências caóticas, que incluem secas, inundações, aumento do nível do mar e o surgimento de milhões de refugiados climáticos.
Financiamento
Neste contexto, as negociações, estagnadas há vários anos em complexas questões técnicas como o funcionamento do mecanismo de mercado para comprar e vender direitos de emissão, se anunciam complicadas.
Na agenda, além da descarbonização acelerada da economia, está a questão da ajuda financeira, de 100 bilhões de dólares por ano, prometida para 2020 mas que não foi concretizada, dos países ricos para as nações desfavorecidas e mais vulneráveis à mudança climática.
A quarta-feira é dedicada justamente ao financiamento e o ministro britânico da Economia, Rishi Sunak, prometeu que a COP26 reunirá os fundos prometidos.
"Sabemos que foram devastados pela dupla tragédia da covid e da mudança climática", declarou aos delegados da conferência organizada pela ONU.
"Por isto, nós vamos cumprir o objetivo de proporcionar 100 bilhões de dólares de financiamento climático às nações em desenvolvimento", prometeu.
Tanto Sunak como o presidente da COP26, o britânico Alok Sharma, e a secretária americana do Tesouro, Janet Yellen, destacaram nesta quarta-feira o papel importante que os investidores privados devem desempenhar, como um complemento imprescindível à ação pública.
"O setor financeiro está pronto para fornecer o financiamento", assegurou a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen.
"Espero que até o final desta conferência alcancemos a meta de US $ 100 bilhões" que os países ricos se comprometeram a gastar para ajudar os mais vulneráveis a cada ano, disse Yellen.
É "prematuro" começar a fazer as contas, advertiu Lorena González, do World Resources Institute: "há sinais encorajadores", mas é preciso olhar atentamente os detalhes: "o que é novo e o que significa", disse.
"Falta de tecnologia apropriada"
"Ainda resta um longo caminho por percorrer", advertiu o primeiro-ministro britânico e anfitrião da conferência, Boris Johnson, que se declarou "prudentemente optimista" quando os líderes mundiais deixaram a COP26 e passaram o bastão aos negociadores.
Em uma tentativa de estimular o diálogo, os chefes de Estado e de Governo de 100 países se comprometeram na terça-feira a reduzir em 30% até 2030, na comparação com os níveis de 2020, as emissões de metano (CH4), gás com efeito estufa 80 vezes mais potente que o mais conhecido CO2.
Apesar da liderança dos Estados Unidos e da União Europeia, segundo e terceiro maiores emissores do planeta respectivamente, não aderiram à iniciativa a Índia (quarto emissor), nem China e Rússia, esta última gigante da extração de gás, com um elevado percentual de vazamentos de metano em seus gasodutos de distribuição para a Europa.
Críticas e restrições
Por sua vez, várias organizações não governamentais criticaram as restrições ao acesso às negociações em Glasgow.
De acordo com as regras da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, as organizações da sociedade civil podem participar dessas reuniões globais sobre o clima como observadoras, inclusive nas salas de negociação para permitir a transparência do processo.
Seu papel é primordial, especialmente para os países do Sul, após décadas de promessas não cumpridas.
Segundo Teresa Anderson, chefe da ActionAid International, apenas quatro representantes de milhares de ONGs credenciadas para a COP26 tiveram permissão para presenciar as negociações.
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