COVID-19

Tragédia mundial: mortes por covid-19 ultrapassam a barreira dos 5 milhões

No topo do ranking, estão Estados Unidos e Brasil, com mais de 1,3 milhão de óbitos. Balanço pode ser até três vezes maior. Desde que surgiu, em dezembro de 2019, na China, o Sars-CoV-2 infectou mais de 246 milhões de pessoas

Quase dois anos após o surgimento do primeiro caso de covid-19, na cidade chinesa de Wuhan, o mundo superou oficialmente, ontem, a simbólica marca de 5 milhões de mortes provocadas pela doença. Um número subestimado, na avaliação de especialistas e da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estimam que o total poderia ser duas ou três vezes maior. A partir desse parâmetro, a revista britânica The Economist calcula o número de óbitos em 17 milhões de pessoas. "Esse balanço me parece mais confiável", estimou o epidemiologista francês Arnaud Fontanet.

Na manhã de ontem, o contador da prestigiada Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, marcava 5.000.425 mortes, pouco antes das 6h (horário de Brasília) — estatística estabelecida a partir dos balanços oficiais diários de cada país. Em números absolutos, Estados Unidos lideram o ranking de óbitos, com 745 mil vidas perdidas, seguidos do Brasil, com 607 mil — cerca de 12% do total mundial.

Em 22 meses, mais de 246 milhões de pessoas foram diagnosticadas com o novo coronavírus em todo o mundo — desses, 21 milhões são de brasileiros, conforme a plataforma Our World in Data. De um modo geral, neste momento, a tendência mundial é de queda da curva de casos e de óbitos, por conta do avanço da vacinação, embora o surgimento de variantes do Sars-CoV-2 preocupe os cientistas.

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Vacina

Os dados da Universidade Johns Hopkins destacam que quase metade da população mundial (49,4%) já recebeu ao menos uma dose da vacina contra a covid. Foram, globalmente, mais de sete bilhões de doses já administradas, em uma média diária que ultrapassa as 25 milhões de aplicações.

Entretanto, o avanço da vacinação é desproporcional ao redor do planeta: somente 3,6% das pessoas de países pobres receberam o imunizante. Issow preocupa especialistas que temem pelo surgimento de uma variante do vírus que "escape" das vacinas existentes. Há também a questão da desinformação sobre a imunização, que tem influenciado negativamente os resultados de alguns países.

Arnaud Fontanet tem a convicção de que o futuro do vírus depende do nível de vacinação dos países e da eficácia das vacinas. "Estamos a poucos meses de um colchão para nos apoiarmos, mas é difícil saber se será grosso o suficiente", observou. "Nos países desenvolvidos, acredito que teremos epidemias sazonais de coronavírus, talvez mais importantes que as da gripe (ao menos durante os primeiros anos), até que se normalize", prevê o especialista francês, para quem a imunidade global é construída por camadas: a camada da vacinação se soma à camada das infecções naturais.

Países como China ou Índia têm uma grande capacidade de vacinação e poderiam se aproximar dessa perspectiva. Em outros casos, como os da Nova Zelândia e Austrália, que adotaram uma campanha de erradicação do vírus (conhecida como zero covid-19), as autoridades foram obrigadas a mudar de planos e iniciar a "corrida da vacinação", diante da variante delta mais contagiosa.

Prudência

Fontanet assinalou que aumento de casos no leste da Europa confirma que a reduzida taxa de vacinação expõe os países a "graves epidemias, com fortes consequências a nível hospitalar". Destacou, de outro lado, que o aumento atual de casos na Europa Ocidental, apesar dos elevados níveis de vacinação, mostra a necessidade de prudência. "Precisamos evitar uma percepção eurocentrista: em uma pandemia é necessário levar em consideração todo o planeta. No momento, não parou", alerta o virologista francês Jean-Claude Manuguerra.

O principal medo é o surgimento de novas variantes, resistentes à vacinação. A delta, atualmente a mais prevalente, superou a alfa sem permitir o avanço das variantes mu ou lambda. Mas os especialistas preveem que, além do surgimento de variantes diferentes, a evolução da delta pode resultar em variantes mais resistentes às vacinas. "Tem maior probabilidade de provocar uma variante de uma variante", explicou Jean-Claude Manuguerra.

Por esse motivo, as autoridades britânicas vêm monitorando a subvariante da delta chamada AY4.2. No momento, no entanto, não há elementos para afirmar que ela deixe as vacinas menos eficazes. "É importante continuar fazendo uma vigilância genômica" (a localização genética das diferentes versões do vírus), disse o virologista francês. Segundo ele, isso permite "encontrar variantes com antecedência suficiente e saber se estas são mais perigosas, mais transmissíveis e se a imunidade continua funcionando".

Nos últimos dias, os temores pelo surgimento de uma nova onda de covid-19 voltaram a ganhar corpo na Alemanha. O país vem registrando um aumento no número de diagnósticos positivos, surtos em casas de repouso. Tudo isso somado à uma campanha de vacinação estagnada, em meio à formação de um novo governo.

A chanceler Angela Merkel, que está nos últimos dias de seu mandato e ocupa a chefia do Executivo interinamente, até que o social-democrata Olaf Scholz forme um novo governo, deu voz a essa preocupação no último fim de semana. "Estou muito preocupada com a evolução atual nos hospitais, e o número de mortes [...] deveria preocupar a todos nós", declarou a chanceler durante a cúpula do G20 em Roma, na Itália. Ela lamentou que o relaxamento de muitas das restrições nos últimos meses levou novamente a "um certo desleixo".

Susto no mundo encantado

O parque de diversões Shanghai Disneyland fechou após a detecção de um caso de covid-19. O local foi interditado, com milhares de pessoas em seu interior, depois que uma mulher que esteve no local testou positivo ao voltar para casa, em uma província vizinha. A direção começou, então, a fazer testes em todos os visitantes, antes de deixarem o parque. Cerca de 34 mil pessoas haviam sido testadas até a manhã de ontem, informou a prefeitura de Xangai. O Shanghai permanecerá fechado hoje para "dar seguimento aos requisitos de prevenção e controle da pandemia". O episódio é um sinal de como as autoridades chinesas pretendem erradicar o vírus antes dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim. Ontem, o país de 1,4 bilhão de habitantes, que vem registrando surtos da doença, contabilizou 92 casos, o maior nível desde setembro.