A disputa pela presidência do Chile — a primeira em mais de uma década e meia sem a presença de Sebastián Piñera nem Michele Bachelet — vai para o segundo turno, marcada por uma forte polarização. Diferentemente das votações anteriores, que atraíram poucas pessoas às urnas, ontem houve longas filas. Sob um calor de 30°C, os chilenos tinham como missão decidir pela extrema direita ou a extrema esquerda, no mais incerto cenário eleitoral desde o fim da ditadura militar, em 1990.
Até o fechamento desta edição, com mais de 80% dos votos apurados, a contagem apontava o político de ultradireita José Antonio Kast à frente, com 28,15%, seguido pelo deputado da extrema esquerda Gabriel Boric (25,32%). Surpreendentemente, o economista Franco Parisi, que fez toda a campanha desde os EUA e não foi ao Chile nem para votar, aparecia em terceiro lugar, superando candidatos mais moderados e que estavam à sua frente nas pesquisas. Desde 5 de novembro, por determinação legal, não se divulgavam dados sobre intenção de votos.
Com nenhum candidato obtendo uma votação expressiva, Kast e Boric terão de buscar alianças com os partidos de direita, centro e esquerda, que também disputaram o eleitorado ontem, nas votações para a Câmara e parte do Senado. Segundo a imprensa chilena, a esquerda pode sair fortalecida no Congresso, tornando-se um importante alvo para as coligações do segundo turno, a ser realizado em 19 de dezembro.
Primeiro a admitir a derrota, Sebastián Sichel, candidato de Piñera, sinalizou um possível apoio a Kast. Citado pelo site do jornal El País, o liberal afirmou que não tem diálogo com Boric e que, apesar de "divergências pragmáticas" com Kast, estava "disposto a falar" com o ultradireitista. Por sua vez, Yasna Provosti, de centro-esquerda, poderá se juntar à coligação de Boric, mas, até o fechamento desta edição, não havia se manifestado a respeito.
Mudanças
Na eleição presidencial, está em jogo uma mudança no modelo econômico e político, que levou estabilidade e prosperidade econômica ao país, mas também aumentou a desigualdade social, contra a qual milhões de chilenos se manifestaram nos maciços protestos de dois anos atrás. Boric, 35 anos, propõe a mudança da economia neoliberal, enquanto Kast, ultraconservador, 55 anos, promete restaurar a ordem e a segurança, após a turbulência que eclodiu nas ruas, em 2019.
Os jovens, protagonistas do plebiscito que decidiu em outubro de 2020 por 78% dos votos mudar a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) — processo atualmente em curso — compareceram em grande número aos centros de votação. "É preciso votar; o país precisa de mudanças, estamos cansados dos mesmos políticos", disse à agência France Presse o estudante Felipe Rojas, 24 anos.
"Representamos o processo de mudança e transformação que se aproxima, (mas) com certeza, com a gradação que for necessária", frisou Boric ao votar em Punta Arenas, sua cidade natal, no extremo sul do país. "O principal (é que) muita gente possa comparecer para votar e que cada um possa se pronunciar em liberdade e votar informado, disse Kast, que argumenta que Boric e sua aliança com o Partido Comunista trarão "caos" ao Chile.
Analistas consideram que as eleições poderão encerrar um capítulo político, pois o cenário do segundo turno diverge do tradicional. "Pode-se sustentar que são as últimas eleições do velho ciclo", considera Raúl Elgueta, cientista político da Universidade de Santiago, lembrando que nem Boric nem Kast pertencem às coligações que vêm governando o país nos últimos 30 anos.
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