Dois vídeos e várias fotos: uma Peng Shuai sorridente reapareceu nesse sábado (20/11) nas redes sociais, em um momento em que a pressão internacional aumenta sobre a China para que dê informações sobre o paradeiro da tenista.
Peng Shuai, de 35 anos, ex-número um do mundo em duplas e uma estrela em seu país, não se manifesta publicamente desde que acusou Zhang Gaoli, um poderoso ex-chefe do Partido Comunista Chinês, 40 anos mais velho, de tê-la forçado a ter relações sexuais.
Em uma mensagem publicada no início de novembro na conta oficial da tenista no Weibo (equivalente ao Twitter na China), ela descreve uma relação forçada com Zhang, um homem casado. A mensagem ficou no ar por um curto espaço de tempo, até ser censurada na Internet na China.
Na mensagem, atribuída a Peng Shuai, mas cuja autenticidade não pôde ser verificada pela AFP, a tenista relata que Zhang Gaoli retomou o contato com ela quando se aposentou da política, em 2018, evocando um encontro sexual forçado. Desde essas afirmações, o destino de Peng Shuai levanta muitas questões.
"Nos últimos dias, ela ficou em casa em total liberdade e não queria ser incomodada", afirmou neste sábado (20/11) Hu Xijin, influente editor-chefe do Global Times, um jornal chinês marcadamente nacionalista.
Peng Shuai "vai aparecer em público muito em breve", escreveu ele, em inglês, no Twitter, uma rede social bloqueada na China.
Mais tarde, Hu, que se orgulha de estar próximo do poder, publicou dois vídeos da tenista "jantando com seu treinador e amigas em um restaurante" em Pequim, em imagens registradas neste sábado, segundo o jornalista.
A AFP não está em posição de confirmar o local ou as condições em que essas imagens foram registradas, e Hu Xijin não fez qualquer referência ao assunto em sua conta no Weibo.
Jantar
Nas imagens, Peng Shuai está cercada por duas mulheres, com quem compartilha comida e vinho em um lugar muito barulhento. Na frente dela está um homem com quem ela fala "sobre partidas".
“Amanhã é 20 de novembro (sábado)”, diz antes de ser corrigido por uma das mulheres: “É 21 (domingo)”.
As imagens da cena, que parecem pouco naturais, são gravadas com um celular por uma pessoa não identificada. Peng Shuai parece relaxada.
Steve Simon, presidente da WTA, que administra o circuito de tênis feminino, considerou esses vídeos "insuficientes" para mostrar que Peng Shuai está bem de saúde, já que as imagens não mostram se a tenista "é livre em suas decisões e ações".
Em um comunicado, Simon reiterou o apelo por uma investigação "transparente e justa" das acusações de Peng Shuai.
Vários países, entre eles Estados Unidos e França, disseram ontem estarem "preocupados" com o destino da tenista. A ONU pediu, por sua vez, uma prova de que ela está sã e salva, enquanto a hashtag #WhereisPengShuai (#OndeEstaPengShuai, em português) se espalhava como um barril de pólvora nas redes sociais.
Na noite de sábado, o Reino Unido urgiu a China a dar "evidência verificável" sobre "a segurança e a localização" da tenista.
"Estamos extremamente preocupados com o aparente desaparecimento de Peng Shuai, e acompanhamos o caso muito de perto", informou em um comunicado o Foreig Office (ministério das Relações Exteriores britânico).
"Bom final de semana"
Enquanto isso, quatro fotos da tenista foram publicadas na tarde de sexta-feira na conta @shen_shiwei, no Twitter, identificado como um "veículo afiliado ao Estado chinês" pela rede social.
A AFP não conseguiu estabelecer de forma independente quando essas fotos foram tiradas.
Em uma das imagens, a jovem aparece sorrindo com um gato nos braços, no que parece ser sua casa. Uma outra é uma "selfie" de Peng Shuai com um boneco do personagem Kung Fu Panda.
A conta do Twitter indica, em inglês, que as fotos foram enviadas de forma privada pela tenista em uma rede social para desejar a seus contatos um "bom fim de semana".
O Twitter é bloqueado na China e pode ser acessado apenas por pessoas com uma conexão do tipo VPN. Nos últimos anos, muitos diplomatas chineses e veículos de comunicação oficiais criaram contas na rede social para defender o ponto de vista chinês.
"Encenação"
Duas semanas após as declarações de Peng Shuai, a televisão pública chinesa CGTN mostrou na quarta-feira uma captura de tela de um e-mail supostamente escrito por ela.
A emissora, que transmite em inglês e se destina ao público estrangeiro, afirmou que a tenista encaminhou-o ela mesma para a direção da WTA.
Na CNN, porém, seu presidente, Steve Simon, questionou a autenticidade do e-mail, no qual Shuai classifica como "falsas" suas acusações contra Zhang Gaoli.
"Não acredito, de modo algum, que seja a verdade", disse Simon, classificando o e-mail de "encenação".
"Se ela foi obrigada a escrever isso, se alguém escreveu para ela, não sabemos [...] mas, até falarmos com ela, não estaremos tranquilos", acrescentou o dirigente da WTA.
Embora tenha manifestado sua "preocupação" com o desaparecimento da tenista, a reação da comissão de atletas do Comitê Olímpico Internacional (COI) contrasta enormemente com a de várias personalidades e outras entidades esportivas, ao defender uma "diplomacia discreta" neste caso.
"Com a comunidade mundial de atletas", a instância que representa os esportistas no COI está "muito preocupada com a situação da três vezes olímpica Peng Shuai", tuitou na tarde deste sábado a ex-jogadora finlandesa de hóquei Emma Terho, que preside a comissão.
O caso Peng Shuai está sob censura na China, e o entorno da tenista não se pronuncia a esse respeito.
O ex-vice-primeiro-ministro Zhang Gaoli, que foi de 2013 a 2018 uma das sete lideranças políticas mais poderosas da China, ainda não reagiu publicamente às acusações.
Muitos tenistas comentaram o caso nos últimos dias para exigir notícias. Os últimos foram, neste sábado, Roger Federer e Rafael Nadal, que desejaram em declarações à imprensa europeia que a campeã "esteja bem" e apelaram à união "da família do tênis".
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