Julgamento histórico

Quem é Kyle Rittenhouse: inocentado por matar manifestantes antirracistas nos EUA

Então com 17 anos, Rittenhouse havia participado de programas de treinamento de cadetes da polícia e dirigiu 35 km portando um rifle para confrontar integrantes do movimento Black Lives Matter

Jéssica Gotlib
postado em 19/11/2021 18:18 / atualizado em 19/11/2021 18:22
Considerado inocente de todas as acusações, Rittenhouse atirou em três manifestantes, matando dois deles, durante uma noite de protestos em Kenosha, Wisconsin -  (crédito:  Getty Images via AFP)
Considerado inocente de todas as acusações, Rittenhouse atirou em três manifestantes, matando dois deles, durante uma noite de protestos em Kenosha, Wisconsin - (crédito: Getty Images via AFP)

A cidade de Kenosha, Wisconsin, foi um dos muitos palco de levantes contra a violência policial nos Estados Unidos, em 25 de agosto de 2020. Depois da morte brutal de George Floyde, em maio daquele ano, outro homem negro, Jacob Blake, havia sido vítima de uma abordagem violenta da polícia no país. Esses episódios alimentaram o movimento "Black Lives Matter" que promoveu protestos, em maioria pacíficos, por diversos estados norte-americanos. 

Mas, apesar de ter começado sem sobressaltos, a manifestações em Kenosha terminou em tragédia. Kyle Rittenhouse, de 17 anos, decidiu ir até a cidade, acompanhado de um amigo, para confrontar os manifestantes. Ele saiu de Antioch, Illinois, e dirigiu um SUV por 35 km até o município vizinho, portando um rifle AR-15 semiautomático.

Segundo a defesa de Rittenhouse, eles tinham medo que uma concessionária de automóveis fosse vandalizada, por isso, a arma serviria de proteção. Mas, de acordo com o jornal britânico Independent, havia outra motivação implícita. Ele era um apoiador declarado do ‘Blue Lives Matter’, que defende a ação dos policiais frente aos questionamentos de abordagens violentas.

Àquela altura, Rittenhouse já havia participado de programas de treinamento de cadetes da polícia. Mas isso não o impediu de atirar em três homens naquela tarde de agosto, matando os ativistas Joseph Rosenbaum e Anthony Huber, e ferindo o paramédico Gaige Grosskreutz. Diferente da tese de legítima defesa, aceita pelo júri de Kenosha, Grosskreutz afirmou, na época, que Rittenhouse era um “atirador ativo”.

Mais do que depoimentos de vítimas, testemunhas e evidências em vídeo, o julgamento se converteu em uma briga política nos EUA. Durante o depoimento, ainda como acusado, o atirador foi às lágrimas enquanto alegava autodefesa. "Eu não fiz nada de errado", disse sentado no banco dos réus. Mais tarde, o jornal Chicago Tribune verificou o depoimento e viu que muitos dos aspectos “não foram exatamente como apresentadas”.

Um dos pontos mais polêmicos do julgamento foi quando o promotor Thomas Binger foi impedido de chamar os homens baleados de "vítimas", por este ser um termo "muito carregado". Durante as alegações finais, a declaração mais marcante de Binger foi sobre a responsabilidade do acusado nos eventos que culminaram em duas mortes: "não se pode reivindicar legítima defesa contra um perigo que você próprio cria".

Ainda assim, essa foi a tese que prevaleceu. Um dia antes da celebração do Dia da Consciência Negra no Brasil, os Rittenhouse ganharam uma oportunidade que os dois manifestantes antirracistas não terão: o de virar a página e recomeçar. “Vejo algumas coisas boas surgirem de Kyle no futuro”, disse David Hancock, porta-voz da família, ao canal de TV Fox6. O acusado foi caracterizado por ele como um rapaz “pragmático que passou por muita coisa”, mas agora “pode ser um jovem de 18 anos” que estuda enfermagem na Universidade Estadual do Arizona. “Vamos fazer tudo o que pudermos para que ele possa viver uma vida o mais normal possível”, concluiu.

 

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