Acusado de corrupção, pela suposta venda ilegal da mineradora Dominga, realizada em um paraíso fiscal, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, foi absolvido pelo Senado. Por volta das 20h30 de ontem, o voto da senadora Luz Ebensperger livrou o chefe de Estado da destituição — a oposição precisaria de 29 votos para a cassação. Seria preciso ganhar a adesão de cinco parlamentares oficialistas para afastar Piñera. Assim que a decisão de Ebensperger foi anunciada, aplausos puderam ser ouvidos no segundo andar do Palácio La Moneda, sede do Executivo. Até o fechamento desta edição, Piñera não tinha se pronunciado sobre a votação.
O fracasso da oposição em condenar o presidente era esperado pelos analistas políticos, ante o fato de que o governo detém maioria no Senado. Em 9 de novembro passado, a Câmara dos Deputados tinha autorizado o início do processo de impeachment por 78 votos a favor, 67 contra e três abstenções. Em entrevista ao Correio, Marcelo Mella — professor de ciência política da Universidad de Santiago de Chile — admitiu que a rejeição à acusação constitucional era previsível. "Houve um erro estratégico e de cálculo político da oposição, que não considerou a composição do Senado. A votação ocorreu a cinco dias das eleições presidenciais e legislativas do Chile. Evidentemente, o fracasso da acusação constitucional poderia surtir efeitos eleitorais sobre a oposição e suas candidaturas presidenciais", comentou.
Mella acredita que a acusação contra Piñera se baseou em uma reação ao escândalo Pandora Papers. "Não houve uma elaboração suficiente, no que diz respeito à própria argumentação. A oposição não apresentou evidências novas de crimes", explicou.
"Sem surpresa"
Por sua vez, Thomas Hirsch, deputado do partido opositor Acción Humanista e um dos autores da acusação constitucional contra Piñera, disse ao Correio que o resultado no Senado não teve "nenhuma surpresa". "Sabíamos perfeitamente que os senadores do oficialismo, da direita, salvariam Piñera, sem que sequer estudassem a fundo os argumentos da acusação. Um Senado totalmente desacreditado salvou um presidente totalmente desacreditado", afirmou, por telefone.
Segundo Hirsch, Sebastián Piñera cometeu atos de corrupção e privilegiou os negócios pessoais e da família aos interesses da nação. "O Senado causou um dano imenso à probidade e à transparência. O resultado não impedirá que outros presidentes cometam atos desse tipo." O deputado opositor descartou qualquer frustração ante a previsibilidade da votação.
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