"São seis da tarde e vamos com as informações do dia", diz em hebraico Rima Mustafa, apresentadora de uma nova estação de rádio em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, que tenta apresentar aos israelenses o dia a dia dos palestinos.
Em um estúdio iluminado, equipado com tecnologia de ponta, a equipe Jerusalém 24 não transmite seus programas em árabe para os palestinos, mas em hebraico e em inglês para israelenses.
O objetivo: dar voz à juventude palestina para que apresente aos israelenses sua própria visão do mundo hoje.
"O público israelense ouve os veículos de comunicação que falam para eles, mas não ouve a outra voz", disse Rima Mustafa, jornalista de Haifa, no norte.
Rima trabalha há três meses para esta rádio, no ar desde setembro e que se concentra no conflito entre israelenses e palestinos e em suas consequências na sociedade.
Nas últimas semanas, o canal e seu site em inglês têm dedicado grande parte de sua programação às seis ONGs palestinas designadas como "grupos terroristas" por Israel, ao assentamento israelense em Jerusalém Oriental, mas também a apresentações de teatro e a shows de música árabe.
- "Grande distância" -
"Queremos preencher a lacuna sobre o que está acontecendo em Jerusalém e nas zonas marginalizadas", explica a editora-chefe Mai Abu Assab.
Em Jerusalém, "há expulsões (de palestinos), mas o mundo ignora isso".
Hoje, "Jerusalém 24" é a única rádio palestina que emite em hebraico, mas não foi a única. Em meados da década de 1930, quando a Palestina estava sob mandato britânico, a rádio Huna al-Quds transmitia sua programação em três idiomas: inglês, árabe e hebraico.
Em Tel Aviv, uma cidade israelense a 65 quilômetros de Ramallah, David Haliva, preparador físico de agentes de segurança, começou a ouvir a nova rádio.
"Os israelenses não conhecem a sociedade palestina (...). Há uma grande distância entre o que acreditamos saber e a realidade", reconhece.
"Há coisas que temos em comum. Há escassez(...) de casas e de licenças para construção", disse ele à AFP.
Ainda assim, apesar de impressionado com o "profissionalismo" das notícias e com a aberta rejeição da violência, ele se mostra cético em relação a certas expressões, como o termo "ocupação", para descrever a realidade de Jerusalém Oriental.
O Estado hebreu ocupa esta parte palestina da Cidade Sagrada desde 1967, um território que foi posteriormente anexado. Os palestinos querem transformá-la na capital do Estado que desejam construir.
"Criticamos a Autoridade Palestina e Israel, mas fazemos isso de forma profissional", garante Mohammed Hamayel, um dos apresentadores da rádio, dizendo-se insatisfeito com a cena midiática israelense, onde, segundo ele, o ponto de vista palestino costuma estar ausente.
A ideia da estação começou a tomar forma em 2015, quando a Cidade Santa foi palco de uma onda de ataques com arma branca, cometidos por palestinos contra israelenses, assim como de tiros, às vezes fatais, por parte das forças de segurança israelenses contra agressores reais, ou suspeitos, conta Mai Abu Assab.
Para levar o projeto à frente, a equipe buscou doadores estrangeiros, como a ONG dinamarquesa Church Aid, que agora financia um programa para divulgar vozes jovens.
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