Vinte países, incluindo Estados Unidos e Costa Rica, concordaram nesta quinta-feira (4) na COP26 em parar de financiar com dinheiro público projetos de extração de energias fósseis fora de seus territórios até o fim de 2022, um anúncio recebido com cautela por organizações de defesa do meio ambiente.
A iniciativa, estimulada pelo Reino Unido, país anfitrião da conferência sobre a mudança climática, foi anunciada na véspera de dois dias de mobilização nas ruas da cidade escocesa.
Investir em projetos relacionados com a extração contínua de energia fóssil implica crescentes riscos, sociais e econômicos", afirma um comunicado conjunto.
O anúncio envolve países como Mali ou Ilhas Marshall, a princípio com poucas possibilidades de fazer este tipo de investimento bilionário no exterior, mas sim de receber tais recursos.
Os grandes ausentes
Estados Unidos, que sob a presidência de Donald Trump se vangloriava de ser independente do ponto de vista energético, dá um passo agora para virar a página do petróleo, carvão e gás.
O Canadá também assinou o texto. Mas estão ausentes grandes consumidores e investidores decombustíveis fósseis, como China, Japão ou Coreia do Sul.
Os denominados projetos de energia de origem fóssil contínuos (petróleo, gás e carvão) são os que não incluem medidas para absorver as emissões de carbono que produzem.
Um estudo recente da organização Oil Change International mostrou que entre 2018 e 2020, os países desenvolvidos do G20 investiram 188 bilhões de dólares em projetos de extração no exterior, principalmente através de bancos de desenvolvimento multilaterais.
Estas instituições não estão envolvidas no compromisso. Mas o anúncio, caso concretizado, significará que até 15 bilhões de dólares poderão ser desviados anualmente para outros projetos de energias não fósseis.
Temos que colocar o financiamento público do lado correto da história", declarou o vice-ministro britânico de Negócios e Energia, Greg Hands.
"É um progresso bem-vindo, mas os países (signatários), em especial Estados Unidos, devem permanecer firmes com os compromissos e fechar a torneira para as empresas de combustíveis fósseis", declarou Kate DeAngelis, diretora do programa de finanças internacionais da ONG Amigos da Terra.
No entanto, 95% das cerca de 900 empresas do setor do petróleo e gás no mundo planejam desenvolver novos campos, segundo um relatório da ONG alemã Urgewald e outras 20 organizações.
Em outro anúncio em plena COP26, que já está imersa em negociações, mais de 40 países se comprometeram com uma "transição de carvão para energia limpa".
Mais uma vez, grandes produtores e consumidores, como Austrália, China, Índia, Estados Unidos, Japão e Rússia, não estão na lista.
Emissões de CO2 se aproximam de recorde
Os novos anúncios ocorrem após notícias preocupantes sobre as emissões de gases do efeito estufa.
A pandemia de covid-19 freou brutalmente a economia mundial e, com isso, a poluição do planeta pelo consumo de energia fóssil. As emissões totais caíram 5,4% em 2020, mas devem voltar a subir em 2021, nada menos do que 4,9%, a menos de 1% do recorde de 2019, segundo um estudo do consórcio internacional de cientistas Global Carbon Project.
As emissões de gás e carvão são particularmente preocupantes, uma vez que crescerão este ano mais do que caíram em 2020.
As emissões devido ao petróleo devem aumentar 4,4% em 2021.
"Esse relatório é um balde de água fria", comentou em entrevista à AFP a coautora Corinne Le Quéré, professora de mudanças climáticas na Universidade de East Anglia.
"Mostra o que acontece no mundo real, enquanto aqui em Glasgow falamos sobre como lidar com as mudanças climáticas", acrescentou.
A consequência desse reaquecimento da economia e do planeta é que se torna cada vez mais distante o objetivo ideal de limitar o aumento da temperatura em 1,5ºC.
No ritmo atual, o mundo tem apenas oito anos para ter 50% de chances de limitar o aumento da temperatura em 1,5°C.
A demanda por energia ultrapassa em muito os investimentos milionários para mudar o modelo, de combustíveis fósseis a renováveis.
Mas a esperança permanece: na década de 2010, 23 países cresceram, mas suas emissões diminuíram. A maioria deles eram desenvolvidos, o que significa que os regulamentos e as mudanças funcionaram.
Diante do panorama, alguns ecologistas e países particularmente vulneráveis insistem que é necessário pensar em medidas de adaptação, ao invés de tentar mitigar mudanças climáticas profundas.
Mas o financiamento desta adaptação é inferior entre cinco e 10 vezes ao custo das medidas de luta, segundo a ONU.
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