Os confrontos entre manifestantes e forças de segurança no Sudão deixaram mais um morto nesta quinta-feira (28) no quarto dia de protestos após o golpe de Estado da segunda-feira, refutado nas ruas e pela comunidade internacional.
O general Abdel Fattah al Burhan, governante de fato do Sudão desde a deposição de Bashir, dissolveu na segunda o frágil governo que devia conduzir o país a um comando civil.
Nesta quinta-feira, o Conselho de Segurança da ONU expressou sua "profunda preocupação com a tomada do poder militar" e instou a junta sudanesa a restaurar o governo civil.
Na mesma linha, o presidente americano, Joe Biden, declarou em um comunicado:
"Nossa mensagem para as autoridades militares do Sudão é clara: o povo sudanês deve ser autorizado a se manifestar pacificamente e o governo de transição dirigido por civis deve ser restaurado".
Segundo as autoridades sanitárias, além de oito mortos, mais de 170 manifestantes ficaram feridos nos últimos quatro dias de enfrentamentos entre um movimento decidido a permanecer nas ruas até o restabelecimento de um governo civil e forças de segurança armadas com fuzis, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Na noite de quinta, além do manifestante morto, outros seis foram feridos a tiros em Cartum Norte, subúrbio separado da capital sudanesa pelo rio Nilo, informaram médicos à AFP.
"Pode haver mais mortos, mas é difícil estabelecer contatos com Cartum Norte para que confirmem", alertou o Comitê de Médicos, um sindicato pró-democracia.
Desafiadores
Os manifestantes querem defender suas barricadas em uma tentativa de paralisar o país com uma campanha de "desobediência civil", decretada por praticamente todos os movimentos da oposição.
De fato, os estabelecimentos comerciais permanecem fechados por estas campanhas de desobediência civil e os movimentos pró-democracia intensificaram os apelos a realizar "protestos de um milhão" no sábado.
"As forças de segurança tentaram desmontar nossas barricadas, atirando gás lacrimogêneo e balas de borracha", contou o manifestante Hatem Ahmed, do norte de Cartum.
"Mas nós as reconstruímos assim que vão embora, só vamos tirar as barricadas quando o governo civil voltar", afirmou.
O golpe foi o último evento a sacudir este empobrecido país do leste da África, que teve apenas breves períodos democráticos desde sua independência, em 1956.
O primeiro-ministro, Abdalá Hamdock, que foi detido na segunda-feira pelos militares quando prenderam vários dirigentes civis, permanece recluso em sua casa sob vigilância. Outros ministros estão em prisão domiciliar.
Aumenta a repressão
Um comunicado conjunto dos Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Noruega e outros países enfatiza que "continuam reconhecendo o primeiro-ministro e seu gabinete como os líderes constitucionais do governo de transição".
Burhan, um militar de alta patente durante as três décadas de governo autoritário de Bashir, destituiu na quarta-feira seis embaixadores sudaneses que eram favoráveis aos dirigentes civis detidos.
Na quarta-feira, o emissário da ONU, Volker Perthes, insistiu com Hamdok e Burhan na necessidade de um "retorno ao processo de transição" e da "libertação imediata de todos os detidos arbitrariamente".
As forças de segurança detiveram, em alguns casos inclusive em suas casas, ativistas e manifestantes. Na quinta-feira à noite, a TV pública anunciou que demitiu seu diretor, Loqman Ahmed, um defensor veterano do poder civil.
O general Burhan assegura que em breve nomeará novas autoridades e os militares mantêm a maioria dos dirigentes civis "sob vigilância" ou detidos.
Para justificar sua ação, o general Burhan alegou na terça-feira que havia um risco de "guerra civil" após uma manifestação em massa contra o exército. Mas a alegação não convenceu a União Africana, que suspendeu o Sudão de suas instituições, nem ao Banco Mundial, nem aos Estados Unidos, que congelaram as ajudas ao país.
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