O Parlamento Europeu concedeu, nesta quarta-feira (20), o prêmio Sakharov de defesa dos direitos humanos e de liberdade de pensamento ao opositor russo detido Alexei Navalny, destacando sua luta "sem trégua" pela democracia e contra a corrupção em seu país.
"Ele lutou sem trégua contra a corrupção do regime de Vladimir Putin. Isto custou a sua liberdade e quase sua vida", escreveu no Twitter o presidente do Parlamento Europeu, o italiano David Sassoli.
"Em nome do Parlamento Europeu, peço a sua libertação imediata e incondicional", exigiu de maneira oficial a eurodeputada ambiental finlandesa Heidi Hautala, vice-presidente da instituição, no hemiciclo de Estrasburgo.
"As autoridades russas devem parar com todo tipo de assédio, intimidação e ataques contra a oposição, a sociedade civil e a mídia", acrescentou.
As autoridades russas não reagiram ao anúncio.
A organização de Navalny, proibida na Rússia há alguns meses, afirmou que o prêmio Sakharov ao opositor detido recompensa todos os russos que lutam pela "verdade".
"Este prêmio é um prêmio em primeiro lugar para as pessoas que não são indiferentes e que inclusive nos períodos mais obscuros não temem falar a verdade", escreveu no Twitter o Fundo de Luta Contra a Corrupção, fundado por Navalny.
"Voz forte na Rússia"
A escolha de Navalny foi elogiada pelo secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, em um momento de tensão entre a Rússia e o Ocidente.
Este prêmio "é o reconhecimento do papel importante que desempenha há muitos anos para defender os valores da democracia e ser uma voz forte na Rússia", disse o secretário da Aliança Atlântica à imprensa em Bruxelas.
A candidatura de Navalny recebeu o apoio do PPE (direita), majoritário na instituição, e do grupo centrista Renew, terceira força política.
Por sua vez, os grupos de esquerda e ambientalistas propuseram recompensar as mulheres afegãs que lutam pela igualdade e pela sua liberdade perante o regime talibã, e às quais o Parlamento Europeu também "prestou homenagem".
A ex-presidente da Bolívia Jeanine Áñez também foi uma das finalistas.
Etapa anterior ao Nobel
O principal opositor de Vladimir Putin, Alexei Navalny, está preso por fraude em um caso amplamente considerado como repressão política.
Navalny quase morreu envenenado em agosto de 2020, fato que o Ocidente atribuiu aos serviços russos. O Kremlin negou qualquer envolvimento. O opositor recebeu tratamento médico na Alemanha, o que prejudicou as relações entre Berlim e Moscou, e foi preso assim que voltou para a Rússia.
O prêmio, em homenagem ao grande dissidente da ex-União Soviética Andrei Sakharov, foi concedido em 2019 para o intelectual uigur Ilham Tohti, condenado à prisão perpétua na China por "separatismo". Em 2020, foi atribuído à "oposição democrática" ao presidente bielorrusso Alexander Lukashenko e recebido por sua líder, Svetlana Tikhanovskaya.
Lançado em 1998, o Prêmio Sakharov recompensa anualmente indivíduos ou organizações que defendem os direitos humanos e as liberdades fundamentais. O vencedor recebe a quantia de 50.000 euros.
Em várias ocasiões, este prêmio foi uma etapa anterior ao Nobel da Paz, como no caso do ginecologista congolês Denis Mukwege, da jovem paquistanesa Malala Yousafzai ou Nelson Mandela, o primeiro vencedor do Sakharov.
Vencedor do Prêmio Nobel da Paz este ano junto com a jornalista filipina Maria Ressa, Dimitri Muratov, editor-chefe do jornal Novaya Gazeta, um dos últimos meios de comunicação abertamente críticos do poder na Rússia, afirmou que teria dado este prêmio para Navalny.
O Prémio Sakharov será oficialmente entregue durante uma cerimônia no hemiciclo do Parlamento Europeu em Estrasburgo, em 15 de dezembro.
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