Política externa

Homem que denunciou abusos em prisões russas pede asilo na França

Serguei Savelev, de 31 anos, falou sobre sua fuga por Istambul e Tunísia, até chegar ao aeroporto de Roissy, nos arredores de Paris

Paris, França | O bielorrusso que esteve preso na Rússia e que revelou vídeos de estupros e tortura em centros penitenciários russos pediu asilo na França, informou à AFP em uma entrevista exclusiva.

Serguei Savelev, de 31 anos, contou à AFP sobre sua fuga por Istambul e Tunísia, até chegar ao aeroporto de Roissy, nos arredores de Paris.

O ex-presidiário está na sala de espera de requerentes de asilo e falou com a AFP no domingo (17).

No início de outubro, imagens chocantes de um prisioneiro sendo estuprado com uma vara longa em um hospital prisional na cidade de Saratov (sul) causaram um escândalo na Rússia.

Quatro autoridades dos serviços penitenciários regionais foram demitidos e até o porta-voz do Kremlin reagiu ao choque.

Era nessa prisão que Serguei Savelev cumpria pena por tráfico de drogas.

Savelev havia sido designado para a área de manutenção informática e baixou e enviou vídeos de prisões por toda a Rússia. Conseguiu, segundo explicou, por estarem conectadas por intranet.

"No começo eles me controlavam, depois essa vigilância foi se suavizando, até desaparecer", explicou o homem de aspecto frágil e tímido.

A ONG Gulagu.net, que publicou as imagens de Saratov, explicou que ele lhe entregou inúmeros vídeos que comprovavam os maus-tratos sistemáticos nas prisões russas.

Savelev garante que antes de ser libertado, no início de fevereiro de 2021, conseguiu esconder o material perto da saída de sua prisão.

No dia de sua soltura foi meticulosamente revistado, mas garante que conseguiu sair com as imagens porque a saída foi em grupo e ninguém reparou.

Ideia amadurecida

"Eu refleti sobre essa ideia por um longo tempo. É muito difícil psicologicamente ficar quieto sobre essas coisas. O que você pode fazer, uma vez que você sabe?"

A violência cometida nas prisões e registrada nesses vídeos é muitas vezes perpetrada por outros presos, utilizados pelas autoridades penitenciárias.

A violência sexual é filmada para posteriormente chantagear o preso.

Se o vídeo é tornado público na prisão, a vítima cai na hierarquia. Torna-se um "petuj" (galo), de acordo com a gíria da prisão.

Serguei diz que também foi submetido a maus-tratos na prisão de Krasnodar para "cooperar", embora sem sofrer estupro. Ele garante que nunca participou de eventos semelhantes.

Ver todos aqueles vídeos e sofrer sete anos e meio na prisão deixaram marcas, explicou ele.

Seu psicólogo em Minsk "ficou horrorizado com o que contava", disse à AFP.

"Ele prescreveu pílulas, depois outras mais fortes e mais fortes ainda, mas nada conseguia me aliviar".

Savelev teme represálias da Administração Penitenciária Russa (FSIN) e dos serviços de segurança (FSB).

Ele afirma que conseguiu fugir da Rússia depois de receber, em troca de sua cooperação, quatro anos de prisão por "revelar um segredo de Estado", em vez de 10 a 20 anos de prisão por espionagem.

Para escapar, embarcou em um microônibus que o levou a Minsk no final de setembro. Sem esperar pelo início da cooperação judiciária entre a Rússia e Belarus, tomou um avião para Istambul e depois para a Tunísia.

Depois de passar uma quarentena em um hotel daquele país, comprou uma passagem aérea de volta para Minsk, via França. E uma vez no aeroporto de trânsito parisiense, ele pediu asilo.

"Ele tem o perfil de uma pessoa que pode estar sujeita a desaparecimento forçado e execução extrajudicial", explicou à AFP sua advogada, Aude Rimailho.

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